Carlos Antônio, conhecido como 'Carlinhos', foi executado a tiros, ao
sair da Cadeia Pública de Orós (a 34Km de distância de Fortaleza), no
fim de seu plantão, por volta de 9h da última sexta-feira (2). Ele
aguardava uma topique, na Praça Padre Cícero, quando foi surpreendido
por dois homens que ocupavam em uma motocicleta.
O titular da Delegacia Regional de Icó, delegado Erlon Leite Fernandes
dos Reis, que participa da investigação, contou que as primeiras
informações levantadas pela Polícia Civil apontam para uma possível
ordem do PCC para a execução. Segundo o delegado, a facção tem uma
célula instalada em Orós, mas é maioria na Cadeia Pública local.
Após o homicídio, detentos da Cadeia Pública comemoraram a morte de
'Carlinhos', batendo nas grades e gritando. O agente penitenciário foi
morto a cerca de 50 metros da unidade onde trabalhava.
O motivo da organização criminosa seria o comportamento de 'Carlinhos'.
"A versão que temos, até agora, é que seria pelo profissionalismo e
disciplina dele. Segundo os próprios colegas, ele não tinha inimizade,
mas cobrava muita disciplina dos presos, dentro da legalidade. Isso pode
ter desagradado algum líder da facção", revelou o delegado Erlon dos
Reis.
Outra linha de investigação trabalhada pela Polícia Civil é a de
latrocínio, já que a arma do agente penitenciário foi roubada durante a
ação criminosa.
Criminosos
Um suspeito de participar do assassinato de 'Carlinhos' foi preso horas
após o crime, na sexta-feira (2). Manoel Ferreira da Silva foi detido
no Centro de Orós e confessou que observou, perseguiu o agente e
informou aos executores o melhor momento para cometerem o crime.
"O Manoel era um preso do regime semiaberto, passava o dia solto e se
recolhia à noite na Cadeia Pública de Orós. Ele foi cooptado por uma
terceira pessoa para 'tirar o serviço'. Olhar, apontar a localização do
agente penitenciário", contou o delegado Erlon dos Reis.
Conforme o titular da Delegacia de Icó, câmeras de monitoramento
flagraram Manoel da Silva se escondendo atrás de um caminhão e
visualizando a saída do agente Carlos Antônio do trabalho. O suspeito
ainda passou pela praça onde a vítima esperava pela topique e, depois,
foi ao encontro dos comparsas. Ao receberem o aviso, dois criminosos
foram até o local, cometeram o homicídio e fugiram.
A investigação também identificou o responsável por cooptar o criminoso
para observar o agente penitenciário. O suspeito, que não teve a
identidade revelada, já teve a prisão solicitado ao Judiciário pela
Polícia Civil. Os policiais chegaram a diligenciar até a residência do
homem, mas ele havia fugido.
Ainda segundo o delegado Erlon dos Reis, já há suspeitas de quem são os
executores. Policiais civis e militares de Orós e Icó seguem em
diligências em busca dos criminosos.
Operação
Em resposta à morte do servidor da Secretaria de Justiça e Cidadania
(Sejus), o Sindicato dos Agentes e Servidores Públicos do Sistema
Penitenciário do Ceará (Sindasp-CE) deflagrou uma operação para
intensificar as vistorias nas unidades penitenciárias do Estado.
O primeiro presídio alvo da ação foi a Casa de Privação Provisória de
Liberdade Professor Jucá Neto (CPPL III), localizada no Complexo
Penitenciário de Itaitinga II. A Unidade concentra presos ligados à
facção PCC. Durante vistoria, no último sábado (3), um túnel em
construção foi encontrado, na Rua C.
O Sindicato acredita que evitou uma fuga em massa, já que 400 internos
estavam no setor. "Como sanção, algumas ruas da unidade tiveram a
visitação cortada (no domingo)", confirmou a Secretaria da Justiça e
Cidadania (Sejus).
"Fizemos por conta do crime organizado ter mandado executar um
companheiro nosso. Agentes penitenciários se uniram e estão trabalhando
pesado. Inclusive colegas estão fazendo de forma voluntária, na folga,
para não deixar os criminosos pensarem que é desse jeito", colocou o
presidente do Sindasp-CE, Valdemiro Barbosa.
De acordo com Valdemiro, os agentes penitenciários também realizaram
vistorias nas Cadeias Públicas de Orós, Iguatu e Acopiara, no último fim
de semana, e encontraram armas artesanais, armas brancas, celulares e
drogas. "Vamos fazer em outras unidades, que não podemos revelar, porque
perde o fator surpresa", prometeu.
Fuga
Uma fuga de seis presos foi registrada na Casa de Privação Provisória
de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL II), na sexta-feira (2),
através de um buraco na parede de uma cela. A unidade abriga detentos da
facção Guardiões do Estado (GDE).
Em nota, a Sejus reconheceu que "das 16 grandes unidades existentes no
Estado, apenas a CPPL II não passou por intervenção". E alegou que "a
reforma da unidade, com manutenção em celas e acessos internos, será
iniciada assim que os entraves burocráticos estiverem sanados".
Diário do Nordeste