Um grupo de
pesquisadores da faculdade da Unesp de Botucatu (SP) está em busca de
doadores de fezes "especiais" para dar início a uma pesquisa inédita no
país sobre bactérias. O principal objetivo do estudo é desenvolver
cápsulas orais para fazer transplante fecal em pacientes que sofrem de
"retocolite ulcerativa", conhecida comumente como "colite".
A retocolite ulcerativa não tem cura e é considerada uma doença grave.
Ela consiste em uma inflamação que desenvolve feridas no cólon
intestinal dos pacientes. A pesquisa quer oferecer um tratamento que
proporcione maior qualidade de vida para os pacientes.
Segundo o coordenador da pesquisa e professor do Instituto de
Biociência de Botucatu, o biólogo Josias Rodrigues, a pesquisa é inédita
no Brasil, mas já foi desenvolvida em outros países da Europa, onde a
doença é mais comum. O biólogo está desenvolvendo a pesquisa junto com
outros dois médicos.
O estudo de
modulação do microbioma em pacientes com retocolite é financiado pela
Fapesp e deve ser concluído em um prazo de dois anos. Porém, o
coordenador ressalta que essa primeira etapa, que é o recebimento das
doações, é a mais difícil e deve levar pelo menos três meses.
“Nesta primeira semana, recebemos 50 pessoas interessadas em realizar a
doação de fezes. Destas, apenas 2 foram pré-qualificadas, mas ainda
precisaram passar por exames para saber se poderemos utilizar. Esse
trabalho é muito sério, pois um transplante de fezes com bactérias
‘ruins’ pode levar um paciente à morte. Temos que ser muito rigorosos”,
explica.
Os pesquisadores buscam doadores cujas fezes têm "bactérias boas"
capazes de trazer benefícios para o organismo dos pacientes doentes. O
professor ressalta que para ser doador é preciso responder a um
questionário e depois passar por exames clínicos e laboratoriais para
identificar a qualidade das fezes.
“O intuito é que depois desse trabalho possamos criar um banco de fezes
aqui na Unesp Botucatu.
Isso já é comum em outros países, tanto que lá
fora os doadores com fezes de boa qualidade recebem dinheiro por isso,
porque ajudam a amenizar doenças e até a identificar outras doenças”,
destaca.
As fezes doadas serão preservadas e processadas para depois serem transplantadas em pacientes com retocolite ulcerativa.
A expectativa é que o tratamento dure, no mínimo, de oito semanas a dez
semanas, justamente para que as bactérias possam se estabelecer no
organismo.
A eficiência deste tipo de tratamento, realizado em recentes pesquisas
no exterior, tem animado cientistas e fortalecido a esperança de
pacientes com este tipo de doença.
(G1/CE)