Adquirir, hoje, um imóvel ou terreno na badalada Praia de Jeri, no
Litoral Oeste cearense, é tarefa para aqueles endinheirados que veem o
lugar como potencial para mais um de seus megainvestimentos, ou ainda,
para aqueles corajosos, que largam tudo que construíram, para abrir um
negócio voltado ao turismo, apostando no sonho de um futuro melhor, na
praia cartão-postal que é divulgada como paraíso, entre tantas outras
opções existentes mundo afora.
Se o mar calmo e as belezas naturais chamam atenção dos visitantes que
circulam o ano inteiro em busca de lazer e descanso, o setor imobiliário
também atrai olhares, mas assusta pela supervalorização.
Dependendo da localização, o metro quadrado de um terreno para venda,
pode variar entre R$ 1.300 a R$ 12 mil; preços praticados em cidades da
Europa, como Paris e Milão, compara a corretora Érica Merly, que morou
nesses lugares, e atua há três anos no ramo imobiliário na Vila de
Jericoacoara
Segundo a corretora, as variações financeiras relacionadas à
comercialização de terrenos não oscilam muito entre as duas cidades e a
pequena Vila. "Os valores mais em conta, mas ainda altos, do metro
quadrado, são encontrados nas proximidades do estacionamento, logo na
entrada de Jeri. Os preços mais exorbitantes são cobrados pelos terrenos
localizados à beira-mar, um privilégio para poucos empreendedores do
ramo da hotelaria, quer sejam brasileiros ou estrangeiros", afirma.
Para construir, o metro quadrado vai de R$ 1.800 a R$ 2 mil. "Na
questão de valores, Milão, na Itália, é mais barato que Paris. Se cobram
cerca de R$ 3 mil, pelo metro quadrado, na primeira cidade, na capital
francesa, você vai ter valores de até R$ 5 mil. Em Jericoacoara, não é
diferente dessa faixa. Hoje, até para investidores estrangeiros, está
difícil comprar terreno em Jeri", afirma a corretora.
Apesar da feroz especulação imobiliária que envolve grandes
investidores, na sua maioria de São Paulo, Itália e França, a
localização, delimitada dentro de um Parque Nacional, acaba por impedir a
demanda natural da Vila por mais espaço.
E essa situação transforma o lugar num movimentado canteiro de obras,
onde novas e antigas estruturas prediais são constantemente refeitas,
readequadas, ampliadas, melhoradas, enfim, tudo voltado ao turismo, que
desde o mês de setembro do ano passado, por meio da cobrança diária da
Taxa de Turismo Sustentável (TTS) rendeu aos cofres públicos do
Município pouco mais de R$ 1,2 milhão, conforme dados da Listagem de
Receitas Orçamentárias, divulgada no Portal da Transparência de Jijoca
de Jericoacoara.
Para sobreviver em um mercado tão afunilado, a corretora Érica Merly
teve que ampliar suas possibilidades de negócios e se voltou para o
atrativo entorno da Praia de Jericoacoara, com áreas que também têm
apresentado considerável valorização, motivada pelo forte apelo
turístico. Ultimamente, o foco tem sido a Praia do Preá, no município de
Cruz, a cerca de 12Km de Jeri.
"Hoje é raro encontrar moradores antigos em terrenos com boa
localização. Quem está nessa situação não consegue venda por conta da
especulação no setor. Praticamente todos já foram vendidos. Assim, novos
clientes que procuram Jericoacoara para empreender, principalmente na
hotelaria, acabam investindo no Preá, pela questão do preço. Só para se
ter uma ideia, o valor pago pelo metro quadrado na entrada da Vila de
Jeri, se equipara ao que é cobrado em terrenos de frente para essa outra
praia. A Barrinha de Baixo, uma praia de Acaraú, a 7Km do Aeroporto
Regional de Jericoacoara, também tem chamado a atenção de investidores",
comenta.
Políticas públicas
A zona urbana do município de Jijoca de Jericoacoara possui 5 mil
imóveis (na sede e Vila de Jeri), sendo 350 voltados ao setor de
hospedagem. O reconhecimento, por parte do Poder Público, no que se
refere à expansão desordenada, nos últimos dez anos, sem fiscalização e
respeito ao Plano Diretor, instituído em 2009, tem mobilizado a nova
gestão municipal, iniciada em 2017, a garantir a análise de projetos e
ampliação da fiscalização de obras e posturas, dentro do ordenamento
urbano. Quem afirma é o procurador Geral do Município, Ary Leite.
"É importante ressaltar que os trabalhos da Prefeitura são periódicos, e
a equipe da Secretaria de Infraestrutura e Planejamento, tendo em vista
a grande demanda, atua com a análise de projetos de engenharia e
fiscalização, diariamente, conseguindo superar irregularidades
históricas do Município", afirma.
Segundo ele, dentro do pacote de ações desenvolvidas no ano passado, no
que se refere ao setor da construção civil, há 287 notificações, 35
autos de infração, sete obras embargadas, 140 procedimentos
administrativos, além da vistoria de 132 alvarás de construção, a
destruição de cercas e muros que avançavam sobre os espaços públicos, e a
tomada de medidas cabíveis a 29 apurações de denúncias. "Para reforçar
esse trabalho, o município estuda a elaboração de concurso público que
ampliará o quadro de servidores da Secretaria de Infraestrutura",
reforça.
Expectativas
Para o empresário do ramo da construção civil Landro Cézar, que exerce a
profissão na Vila de Jericoacoara, há quatro anos, e confirma o aumento
no número de fiscalizações sobre a situação dos imóveis, por parte do
poder público, o boom desse tipo de negócio, se deu em 2015, com a
chegada de investidores franceses e belgas, que transformaram o antigo
balneário de excursões, numa praia de alto nível.
"Como prestador de serviço, chego a construir de três a quatro
estabelecimentos por ano, neste mercado que sempre foi aquecido. O
empreendedor de Jeri é diferenciado dos outros, pois as obras realizadas
hoje são mais de reformas e benfeitorias para atender cada vez mais ao
público crescente e exigente", afirma o construtor, e finaliza: "Com
certeza, chegamos em nossa limitação de infraestrutura. A tendência é a
estagnação das grandes obras, mas urgência de novos investimentos
públicos. Acredito que, neste ano de 2018, a Vila terá um maior controle
de seu potencial, tanto para atender aos visitantes, quanto aos seus
moradores".
Diário do Nordeste