Aos 70 anos de idade, após enfrentar as muitas
filas que se estenderam ao longo de sua vida, principalmente nos
momentos em que necessitou de algum atendimento do serviço público, a
agricultora Neuza Rosário de Santana agora se sente em uma situação mais
confortável, segundo ela. À espera dos últimos exames para receber uma
nova córnea, Neuza não demorou a ser atendida na Santa Casa de
Misericórdia de Sobral, referência na captação e transplante de córneas
na região Norte do Estado. O momento é de comemoração pela futura
recuperação da visão, mesmo que seja parcial.
"Eu já fui informada de que não vou voltar a enxergar 100%, mas saber
que terei um pouco da visão de volta já me deixa feliz. Para quem já
esteve praticamente cega, isso é quase um milagre", comemora, a um passo
de ser submetida ao transplante.
Avanços
Criada em 2009, a Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e
Tecidos, autorizada pelo Ministério da Saúde, apenas para a captação e
envio de órgãos a Fortaleza, teve o serviço ampliado dois anos depois,
com a realização dos primeiros transplantes. O amplo atendimento trouxe,
em 2015, outra conquista para a região: a montagem do Banco de Olhos.
"Tudo é feito aqui, a captação do material doado, a preservação e
preparo do órgão para as cirurgias, diminuindo, consideravelmente, o
tempo de espera, e gerando uma certa economia aos pacientes, já que não
precisam mais se deslocar à Capital para as cirurgias. Nós,
praticamente, não temos filas aqui", explica Ribamar Fernandes Filho,
diretor técnico do Banco de Olhos de Sobral. Entre o início das
atividades, em 2011, e o ano passado, a Santa Casa realizou 353
transplantes de córneas. Ainda segundo Fernandes Filho, a média tem sido
em cerca de 50 transplantes por ano.
Córneas
O número de captação de córnea saltou de uma, em 2017, para nove no
ano passado. No entanto, apesar de as pessoas estarem doando mais, ao
longo destes anos, a demanda tem sido diminuída, por conta do crescente
número de tratamentos eficazes que têm impactado positivamente no que se
refere aos transplantes. "Nosso diferencial, em relação ao interior do
Norte e Nordeste, é o funcionamento de um Banco de Olhos com estrutura
completa, que oferece à Central de Transplantes do Estado tudo pronto
para as cirurgias", comemora o diretor técnico. Segundo ele, em alguns
casos, a espera é de no máximo uma semana para a cirurgia.
Órgãos
No Hospital Regional Norte, que faz a captação de outros órgãos,
também houve crescimento no número de doações. Em 2017, foram 13
captações (rins e fígados), no ano seguinte, 30. "Temos um resultado que
muito nos orgulha, que é a manutenção de possíveis doadores, não
perdemos nenhum, desde o início da atuação da Comissão Intra-Hospitalar
de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTT), há quatro
anos", comemora Olon Leite, coordenador da Comissão e membro do comitê
de transplante e doação de órgãos da Associação de Medicina Intensiva
Brasileira (Amib).
As expectativas para este ano são de expansão, segundo o médico.
"Apesar da melhora e dos nossos excelentes números, nosso objetivo seria
que mais ninguém esperasse por um órgão na fila de transplante. A meta é
essa, não temos um número específico".
(Diário do Nordeste)