Baturité Riachos, cascatas e temperatura amena. Esses três predicados
naturais estão se tornando cada vez mais escassos nas regiões serranas
do Ceará. Além do Sertão, a falta de água já é acentuada no Maciço de
Baturité. As chapadas da Ibiapaba, do Apodi e do Araripe também estão
sofrendo. Além do desconforto para quem mora nessas regiões, precisando
cavar poços ou sair à procura de água, a economia também está sendo
afetada.
Clima serrano, somente nas madrugadas, com a queda da temperatura;
mesmo assim, ainda bem longe dos 17°C com que se acostumaram os
moradores e apreciavam os visitantes.
No Maciço de Baturité, todos os municípios da macrorregião estão
sofrendo com a estiagem prolongada. A situação mais grave é notada em
Pacoti. O Município enfrenta racionamento de água há mais de 15 dias. A
população reclama da falta de informação e de medidas para solucionar o
problema.
O abastecimento nas torneiras é inconstante. A esse respeito, o
secretário municipal de Infraestrutura, Francisco Moésio, informou que a
responsabilidade é da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).
"Nossas comunidades rurais estão sendo abastecidas por poços profundos
mantidos pela Prefeitura", acrescentou.
Além dos moradores, os comerciantes da região também amargam os efeitos
da estiagem prolongada. Antônio Marcos da Silva é proprietário do
Balneário Brejo, um espaço recreativo popular situado a cerca de 15Km do
Centro de Baturité. Ele recebia de 800 a mil visitantes a cada fim de
semana, mas, quando a seca começou, há cerca de três anos, o movimento
passou a cair, vertiginosamente. Hoje, ele amarga prejuízos, mas tem
esperança de a chuva retornar e da água voltar a correr no riacho do
brejo, atraindo novamente a clientela.
Nos outros balneários a situação é a mesma. Apenas o Remanso Hotel de
Serra, em Guaramiranga, mantém estrutura receptiva para os clientes. As
piscinas estão cheias. Eles possuem poço profundo.
Quem também está preocupado com a seca prolongada no Maciço de Baturité
é o secretário de Cultura e Turismo de Mulungu, Pedro Paulo Moreira.
Segundo ele, a cidade tem no turismo de aventura, nas trilhas e banhos
de cascatas uma das suas principais fontes econômicas. Hoje, as
cachoeiras Redonda, do Macaco e do Perigo, mais procuradas no Município,
estão secas. Perderam a visita de turistas e até da população local.
Não bastasse isso, há preocupação quanto ao Carnaval. Mulungu divide com
Pacoti a melhor festa popular da região, mas, se as chuvas não
começarem a cair, a festividade estará comprometida.
O Governo Federal não disponibilizará verba para as cidades onde houve
decretação de estado de emergência. A preocupação de todos os gestores
municipais da região é a mesma. Na maior cidade da região, Baturité, a
população já recebe água do reservatório de Aracoiaba desde outubro, por
meio de uma adutora. A barragem Tijuquinha, de onde a água era captada
para os moradores, já atingiu seu volume morto. Conforme um dos
representantes da Câmara Municipal, Ozanam Moreira, mesmo assim a
população continua sofrendo. São comuns as panes nos motores de
bombeamento da adutora e, às vezes, a água deixa de chegar às torneiras
das casas por até 15 dias. "Alívio na região, apenas nos condomínios
fechados. Além de ótima estrutura, possuem poços profundos", ressalta
Ozanam.
Zona Norte
Na Serra do Jordão, em Sobral, o abastecimento tem sido feito por
carros pipas e foi denunciado pelo vereador Adaldécio Linhares que a
água fornecida é de péssima qualidade. O vereador ainda chegou a dizer
que os carros que fazem os transportes são velhos e enferrujados. Outro
ponto citado pelo representante dos moradores da Serra do Jordão está
relacionado à quantidade de água. Dos 7 mil litros que são retirados no
reservatório, devido o vazamento ocasionado nos tanques dos carros-pipa,
somente chegam à comunidade aproximadamente 4 mil litros e com muita
ferrugem.
A Câmara de Vereadores de Sobral não aceitou o pedido do vereador
Gilmar Bastos, que solicitava ao Ministério Público Estadual que apure
as denúncias do parlamentar sobre a qualidade e quantidade da água que é
fornecida para a população da Serra do Jordão.
Para o vereador Hermenegildo Souza Neto, "é melhor deixar do jeito que
está do que parar de vez o fornecimento para aquela comunidade, caso o
Ministério Público encontre alguma irregularidade que impossibilite a
continuidade do serviço de abastecimento por carros-pipas".
Em São Benedito, na Serra da Ibiapaba, o presidente do Sindicato dos
Trabalhadores Rurais, Osmar Gomes, conta que a situação para os
produtores está difícil, principalmente para os que moram nas zonas mais
distantes da cidade. "Muitos poços profundos de 80 metros estão
completamente secos, além disso, a tensão da energia não é bastante para
aguentar os motores para puxar água dos que ainda não secaram. A Zona
do Carrascos é hoje uma das nossas piores realidades: temos lagoas secas
ou secando. Já a maior atração turística da região, a Bica do Ipu está
seca há mais de dois meses.
Diário do Nordeste




