Um homem identificado como Evaldo Tavares de Araújo, 31, conhecido como
'Irmão Evaldo', foi preso na noite do último domingo (22), depois de
pichar a Igreja Matriz de Viçosa do Ceará (348Km de Fortaleza) e
destruir as imagens e o altar da Igreja do Céu, considerada um dos
pontos turísticos da Cidade. De acordo com a Polícia, Araújo já responde
a dois procedimentos criminais por ter pichado a Igreja de São
Francisco e invadido o cemitério de Viçosa para violar e destruir
túmulos e imagens sacras, no ano passado.
O delegado Gilker Santos disse que 'Irmão Evaldo' foi detido por
agentes da Guarda Municipal de Viçosa, quando depredava a Igreja do Céu.
"Ele quebrou imagens que tinham mais de cem anos. Destruiu um
patrimônio histórico, que tem um valor inestimável para a população".
Conforme a Polícia, Evaldo Araújo escreveu nas paredes do ponto
turístico mensagens com apelo satânico e de violência, como "quero
sangue", "666" e "vou derramar sangue". O delegado disse que os
moradores de Viçosa ficaram indignados com a ação e cobraram reações
enérgicas da Polícia. "Conseguimos dar a resposta imediatamente e ele
está preso. As pessoas já estão mais calmas, mas infelizmente nada pode
minimizar o sentimento de tristeza que ele causou na população,
principalmente nas pessoas idosas, que têm toda uma ligação afetiva com a
igreja", declarou Gilker Santos.
Depoimento
Em depoimento à Polícia, o homem permaneceu calado. "Ele usufruiu de
seu direito constitucional de permanecer em silêncio. Extraoficialmente,
disse que todo tipo de imagem sacra precisa ser destruída, porque a
Bíblia diz isto. Segundo ele, é esta interpretação própria do texto da
Bíblia que o move a praticar estas ações danosas ao patrimônio",
explicou Santos.
O delegado afirmou que Araújo foi autuado por dano qualificado ao
patrimônio público e pichação. O crime de pichação é de menor potencial
ofensivo e gera apenas o registro de um Termo Circunstanciado de
Ocorrência (TCO); já o dano qualificado garantiu que o suspeito fosse
autuado em flagrante e preso. Como o delito é afiançável, ficou
estabelecido que deve haver o pagamento de cinco salários mínimos para
que o pichador consiga ser liberado.
Em 2014, Evaldo Tavares se envolveu em outros dois episódios contra uma
igreja e um cemitério, mas não foi preso. "No ano passado, ele já tinha
pichado outra igreja, mas o crime foi registrado como um dano simples,
que não é passível de prisão. No caso do cemitério, ele destruiu, violou
túmulos e quebrou imagens de santos. Como não foi pego em flagrante,
respondeu por portaria os inquéritos por dano ao patrimônio e vilipêndio
de cadáver", disse o delegado.
As cenas, que se repetem sempre que o pichador tem chances, sugerem
para o titular da Delegacia de Viçosa que, além de serem criminosas, as
atitudes revelam intolerância extrema. "Uma pessoa que não concorda com
uma doutrina não tem o direito de destruir seus símbolos, por causa
disto. Imagine se toda a sociedade pensasse como ele, estaríamos em uma
situação de barbárie. O princípio da civilização é exatamente saber
respeitar o que é diferente do que eu gosto", disse Gilker Santos.
O suspeito não citou se é adepto de outra religião, nem professou
nenhuma fé. Disse apenas que não concorda com o culto às imagens, como é
feito nas igrejas católicas. Ele continuará preso na Cadeia Pública de
Viçosa até que seja feito o pagamento da fiança arbitrada pela
autoridade policial.
O delegado Gilker Santos declarou também que o rapaz aparenta sofrer de
algum transtorno psicológico. A informação, porém, não parte de
comprovações mediante exames, nem é alegada pelo próprio suspeito.
Diário do Nordeste




