O governo
quer uma solução "o mais rápido possível" para o processo de
impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, afirmou nesta quinta-feira o
ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, depois de uma reunião em que a
mandatária reuniu 23 ministros no Palácio do Planalto.
O presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciou na quarta-feira que aceitou pedido
de abertura de processo de impeachment contra Dilma, horas depois de os três
deputados petistas com assento no Conselho de Ética da Casa afirmarem que
votariam pelo prosseguimento de um processo no colegiado que pede a cassação do
mandato dele.
Wagner confirmou que o governo
espera o resultado de ações impetradas no Supremo Tribunal Federal (STF) por
deputados da bancada governista, mas afirmou que essas não são manobras para
postergar o processo.
"Isso não tem a ver com
tentativa de postergar, ao contrário. Nossa decisão é de fazer o processo o
mais rápido possível. Só que isso não pode implicar a gente não disputar no
Judicário aquilo que a gente entende que pode lesar o nosso direito de defesa.
Então vamos combinar a legalidade com a celeridade necessária, que é do nosso
interesse", afirmou o ministro.
Wagner disse ainda que "a
presidente tem pressa" porque quer sair da "pré-pauta" para a
"pauta do desenvolvimento".
Ele afirmou que Dilma reunirá na
semana que vem governadores alinhados ao governo petista para defender a
institucionalidade e a democracia e que a presidente sempre reage
"extremamente bem" quando é colocada diante de desafios.
Ele falou por duas vezes nesta
quinta-feira em um movimento raro do governo Dilma. O ministro da Casa Civil,
que sempre teve um bom relacionamento com a imprensa, foi escalado como uma
espécie de porta-voz.
De manhã, respondeu às acusações
de Cunha de que a presidente havia mentido. À tarde, apresentou o resultado da
reunião de 23 ministros convocada por Dilma para organizar a defesa do governo.
Participaram da reunião
representantes de praticamente todos os partidos da base. A exceção foi o PR,
porque o ministro dos Transportes, Antonio Carlos Rodrigues, não estava em
Brasília. Dilma pediu que mobilizem suas bases para caso o governo chegue a ter
que enfrentar um processo em plenário.
Wagner reconheceu que os
parlamentares são muito influenciados pela base e hoje a popularidade da
presidente é quase inexistente.
"A faca foi puxada com o
início do processo e as coisas vão começar a ficar mais claras. As pessoas
sabem que com democracia não se brinca. Os que não gostaram do resultado (das
eleições) que sustentam o tapetão vamos brigar muito pela democracia e acho que
esse é o sentimento", afirmou.
"Eu creio que está se dando
um toque de recolher porque é um ataque ao governo, um ataque à
institucionalidade. Então, eu percebo entre os ministros que a sensibilidade e
a aderência sobem muito porque é um tema que vai além de apenas ser governo,
vai para sermos garantidores da democracia."
Ele defendeu ainda que o
Congresso Nacional não entre em recesso, mas explicou que Dilma ainda não
conversou com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre o
assunto.
A própria Dilma pode convocar o
Congresso, mas o ministro afirmou que a preferência é que seja uma iniciativa
dos próprios parlamentares. "Mas eu acho estranho que se inicie um
processo de impeachment e se decida sair de férias", disse.
TEMER
O ministro negou ainda que o
Palácio do Planalto tenha tido algum estranhamento com o fato de o
vice-presidente da República, Michel Temer, não ter ainda se manifestado
publicamente sobre o processo de impeachment.
Temer conversou com Dilma por
telefone na noite de quarta-feira, logo depois do anúncio do processo por
Cunha, e nesta quinta-feira reuniu-se por cerca de meia hora com ela, mas ainda
não falou sobre o tema.
"Eles tiveram uma conversa
longa. Ele tem tradição, é constitucionalista, tem uma história pela
democracia. Não tenho dúvida que ele tem claro que era uma 'forçação de barra'
(o impeachment)", disse.
Questionado se não havia
expectativa sobre uma nota do vice-presidente, Wagner respondeu: "O que
ele falaria de nota oficial? Ele defende o mandato. Esta preocupação de que ele
é o primeiro na linha sucessória eu não tenho e não sinto isso na
presidente", afirmou.
"A gente sabe, no meu Estado
(Bahia) o PMDB fez campanha contra ela. Não temos a ilusão, o PMDB é plural e
atua muito com suas realidades regionais. O vice-presidente é governo. E um
ataque ao governo é um ataque a ele também."
(Reportagem de Lisandra
Paraguassu)
(Reuters Brasil)



