Com mais de cinco anos de prejuízos acumulados com a pior seca do Ceará nos últimos 100 anos,
os agricultores do interior do estado perderam quase toda a produção. A
safra é utilizada apenas para subsistência e, sem alimentação, a maior
parte do gado foi para o abate, interrompendo a produção do leite para
venda. Além das perdas causadas pela escassez de água, a população
enfrenta outro problema: golpes que prometem serviços, benefícios e
desviam verbas que iriam para as pessoas prejudicadas pela seca.
O G1 visitou as cidades de Quixadá e Quixeramobim,
no sertão cearense, e ouviu muitos relatos sobre estelionatários que se
passam por agentes do governo prometendo dinheiro por meio do
Garantia-Safra ou do Bolsa Família, além de denúncias sobre falta de entrega de água.
"Em 2016, tivemos o ano mais difícil em mais de 40 anos que eu cuido
dessa fazenda. Um homem que dizia ser do governo pediu R$ 100 para fazer
um seguro de safra, dizendo que a gente recebia R$ 500 em julho. Nós
passamos muito tempo para juntar o dinheiro porque não tivemos colheita,
e o gado que dava pra vender já estava todo vendido. Esse homem sumiu, e
o dinheiro foi todo perdido", relata Francisco de Assis de Freitas, de
55 anos.
Freitas é morador do distrito de Califórnia, na zona rural de Quixadá, no Sertão Central cearense. A vizinha dele, Maria Fernandes da Silva, relata que foi vítima de um golpe semelhante, de um suposto agente do Bolsa Família que prometia aumentar o benefício do programa para pessoas que sofriam com a estiagem.
"A história que ele contava é que ia aumentar o Bolsa Família, a gente ia receber R$ 80 a mais por mês, aí, pra isso, ele precisava fazer um cadastro da gente, e esse cadastro era R$ 30 por pessoa. Só aqui na Califórnia, dos que eu sei, ele enganou mais de 15 pessoas com esse cadastro."
Freitas é morador do distrito de Califórnia, na zona rural de Quixadá, no Sertão Central cearense. A vizinha dele, Maria Fernandes da Silva, relata que foi vítima de um golpe semelhante, de um suposto agente do Bolsa Família que prometia aumentar o benefício do programa para pessoas que sofriam com a estiagem.
"A história que ele contava é que ia aumentar o Bolsa Família, a gente ia receber R$ 80 a mais por mês, aí, pra isso, ele precisava fazer um cadastro da gente, e esse cadastro era R$ 30 por pessoa. Só aqui na Califórnia, dos que eu sei, ele enganou mais de 15 pessoas com esse cadastro."
O produtor José Filho chegou a ter mais de 100 cabeças de gado há cinco anos, antes da pior seca do Ceará em 100 anos; hoje ele não tem nada. Sem condições de manter o gado, vendeu para o abate por menos da metade do preço. (Foto: André Teixeira/G1) |
A delegacia de Quixadá tem conhecimento dessas práticas ilegais, mas afirma que tem dificuldade em investigar porque, na maioria dos casos, não há registro da denúncia, e os golpes são aplicados em regiões distantes do centro urbano. "Eles são pessoas que vêm de outras cidades para aplicar os golpes nas áreas mais distantes. Quando a gente ouve o relato, depois de dias, eles [estelionatários] já estão longe. São os golpistas da seca", afirma.
Quando a água não chega
Antônia do Nascimento foi uma das vítimas da entrega de água da operação carro-pipa, que abastecia a casa dela com frequência menor do que a prometida pelo programa do Governo Federal. Ela reservava a água com a irmã para atividades de lavar as roupas (Foto: Andre Teixeira/G1) |
Outra reclamação comum entre os sertanejos da região é a irregularidade
no abastecimento de água pela operação carro-pipa. A comerciante
Antônia do Nascimento foi informada pelo Exército – que coordena a
Operação Carro-pipa – que os pipeiros abasteceriam a casa dela duas
vezes por semana, o que não ocorria, segundo ela.
"Tinha semana que a água só vinha uma vez pra família toda e não tinha
como a gente dar conta, aí eu lavava a roupa na casa da minha irmã, e
ela vinha tomar banho na minha. Quando o caminhão vinha duas vezes por
semana, na segunda vez, eles colocavam só metade do pipa e diziam que a
outra metade era pra outra casa, senão não dava."
Em 26 de março, a polícia prendeu um homem que deveria levar água à zona
rural de Jaguaribe, onde os moradores estão sem água de carro-pipa,
segundo a Polícia Militar. "Uma verdadeira falta de honestidade com o
pessoal que precisa da água do programa do governo", relata o policial
Blaydson dos Santos, que divulgou a fraude junto com o major Mário Cunha
Lima.
G1