Quem olha para o alto da Colina do Horto, neste Município, o maior do
interior cearense, avista de quase todos os pontos da cidade a
imponente estátua do Padre Cícero, religioso responsável pela fundação
da cidade. Em breve, porém, o monumento, que se constitui no terceiro
maior do mundo em concreto, esculpido por Armando Lacerda, não mais
reinará sozinho na Colina, tido como local sagrado pelos devotos
romeiros. O Governo do Estado, através da Secretária das Cidades,
divulgou o resultado do edital que escolheu a empresa responsável pela
construção de um letreiro, na Serra do Catolé, no Horto.
Ao estilo hollywoodiano, o letreiro com placas de aço estampará a frase
"Juazeiro, Capital da Fé". A altura da estrutura metálica do letreiro é
de aproximadamente 15 metros, enquanto a largura é de 8,2m. Cada letra
terá 14 metros de altura e 8,2 m de comprimento. A obra, a ser gerida
pela empresa Salinas Empreendimentos e Construções Ltda, vencedora da
licitação, vai custar aos cofres públicos mais de R$ 1,5 milhão, e tem
prazo de conclusão de dez meses, a partir da assinatura da ordem de
serviço. Ao todo, o investimento, incluindo o acesso ao letreiro é de R$
1.998.170,90.
Idealizado no ano de 2009, pelo radialista Aluísio Nery, o projeto
divide opiniões. Num momento de austeridade econômica, destinar mais de
R$ 1,5 mi é visto, por alguns, como "desnecessário". A psicóloga Maria
do Carmo Forti, em artigo escrito logo após o letreiro ter sido
ventilado, considera o que ela chama de marketing "caro em dinheiro e
barato e pobre em sentido e espiritualidade". Conforme analisou, o
dinheiro poderia ser empregado no reflorestamento do próprio Horto, ou
até mesmo na despoluição do Rio Salgadinho.
A religiosa Irmã Annette Dumoulin também é reticente com a construção
do letreiro por considerar o "Horto e Santo Sepulcro lugares sagrados".
Na sua visão, as obras irão "matar e dessacralizar a originalidade e a
riqueza de Juazeiro". Para o Secretário de Turismo e Romaria de Juazeiro
do Norte, Júnior Feitosa, o letreiro "chega em um momento de grande
importância para a região".
Feitosa recorda que "obras desse tipo estão ocorrendo em várias cidades
do Brasil e se equiparam aos monumentos já existentes". Ainda conforme o
secretário, "o letreiro atrai mais turistas, fomenta a economia o
turismo, além de reforçar a identidade da cidade, tornando-se mais um
cartão postal".
Aluísio compartilha da mesma opinião de Júnior Feitosa. Para ele,
"qualquer investimento que seja destinado em benefício ao turismo
religioso não pode ser considerado alto, pois o retorno, não só para a
cidade de Juazeiro, quanto para a região, será muito maior". A
inspiração de Aluísio para o letreiro é simples. "Sofro de insônia e
assisto a muitos filmes à noite. Em uma dessas madrugadas, passou um
filme americano com o letreiro de Hollywood. Achei aquele cenário
parecido com a Colina do Horto e pensei que seria bonito algo semelhante
na Colina", detalhou. Em alguma medida, o Mount Lee, em Hollywood,
lembra o cenário de Juazeiro do Norte. "Os dois são como uma cordilheira
que se estendem por centenas de metros formando uma divisa natural",
pontua.
Investimentos
A Colina do Horto, um dos pontos mais visitados da cidade, em breve
ganhará outro atrativo. A construção de um bondinho que teve seu projeto
aprovado no semestre passado pelo governador do Estado Camilo Santana
dever impulsionar o número de visitantes. Além da construção do
teleférico, o Horto passará por revitalização. "Essa será uma obra
importantíssima para o Horto. Vai melhorar a acessibilidade, trazer mais
conforto e segurança para os romeiros e alavancar ainda mais o turismo
em toda a região do Cariri", destacou Camilo. O projeto foi orçado em R$
14 milhões.
Segundo Arnon Bezerra, prefeito de Juazeiro, a cidade se tornará mais
atrativa, além de ver fortalecido o turismo regional, também despertando
as potencialidades das outras cidades da região. "Queremos que o
romeiro demore mais em Juazeiro do Norte, visite as cidades e comece a
dar vazão ao potencial que temos", diz. Com isso, destaca o gestor
municipal, "haverá fortalecimento da economia e consequentemente o
desenvolvimento local e do Cariri".
Diário do Nordeste



