Eles são menos de 5% das crianças e adolescentes, mas somam milhares de jovens que deixaram a escola ou nem chegaram a frequentar. Governos, ONGs e até alunos tentam mapear quem são e levá-los para sala de aula
Era quase meio-dia de uma quarta-feira em Fortaleza quando, de mãos
dadas com a mãe e a irmã, um menino de cinco anos de idade, franzino e
com os cabelos castanhos ressequidos pelo sol, cruzou o viaduto que
interliga as avenidas Oliveira Paiva e Deputado Paulino Rocha.
Diferentemente das muitas crianças que, naquele horário, costumam ser
apanhadas nas escolas e levadas para casa, ele não vinha de nenhuma. E
nem iria à tarde. O motivo, segundo a mãe, seria porque a família não
tem casa.
No Ceará, a quantidade de crianças de quatro e cinco
anos de idade frequentando a escola cresceu 18% em 14 anos. Saiu de
81,1% em 2001 para 95,7% em 2015, de acordo com dados do Anuário
Brasileiro da Educação Básica. Nesse período, as taxas de matrícula de
meninos e meninas entre sete e 14 anos na rede de ensino também
aumentaram, de 93,7% para 97,4%.
São
4,3% de crianças de quatro a cinco anos fora da escola. Na faixa de
sete a 14 anos, são 2,6%. Percentuais aparentemente ínfimos, mas que
representam dezenas de milhares de jovens no Ceará, possivelmente
vulneráveis e sem instrução. Entidades governamentais e não
governamentais tentam mapear quem são e encontrar estratégias para levar
educação a essas crianças e adolescentes.
Convergência de fatores
dentro e fora da escola dificulta a permanência dessas crianças e
adolescentes na rede de ensino. Dos que não estão matriculados, há os
que começaram o ano letivo e, por algum motivo, abandonaram os estudos;
os que até concluíram o ano, mas, no seguinte não retornaram,
configurando a evasão; e os que, como o menino de cinco anos que
peregrinava pela Oliveira Paiva, nem chegaram a ocupar um lugar em sala
de aula.
“Eu tava pra ganhar um apartamento”, disse a mulher de 35
anos, mãe do menino e de outros nove. Ela comenta que quer ter
residência fixa antes de matricular os filhos. “Pra não ficar nesse tira
e bota, tira e bota”, explicou sobre a vida nômade que leva.
Gravidez na adolescência
No
ano passado, antes de engravidar de um rapaz maior de idade, quando
ainda cursava o primeiro ano, a vida de uma adolescente de 17 anos,
moradora do Parque Genibaú, era exclusivamente dedicada aos estudos.
“Não tinha como eu ficar com a cabeça em outra coisa”. Agora, a
prioridade para ela é a filha.
O abandono da escola, ela conta,
aconteceu ao fim da gestação. Devido ao inchaço do corpo, não conseguia
escrever nem percorrer a pé o trajeto entre sua casa e a escola. “Meu
padrasto começou a me levar e a Julieta (uma das coordenadoras da
unidade) vinha me deixar”. Começou a fazer provas em casa. Em março
deste ano, deu à luz.
Hoje, com a criança de seis meses no colo, a
jovem é constantemente chamada à escola para tratar do seu futuro
acadêmico, interrompido devido ao puerpério e, logo em seguida, ao
tratamento de pneumonia da filha. Por causa das condições precárias de
onde mora, a criança adoeceu logo no segundo mês de vida. “Ela ficou
internada dez dias. Aí, quando fez dois meses, deu de novo a recaída.
Mas, nesse período, ela não ficou boa. Por isso, não fui. Não continuei
no colégio. Porque ela tava doente e eu não queria deixar com minha mãe.
E, também, porque ela só mamava”.
Orientada pela direção da
escola, já que não pode levar a filha para a sala de aula, não quer
deixá-la em casa e pretende dar continuidade aos estudos, a jovem se
matriculou em um Centro de Educação de Jovens de Adultos (Cejas) do
Estado. “Trago as coisas (material escolar) pra casa e faço aqui mesmo.
Anoto o dia da prova e vou lá só pra fazer”.
O Povo
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