Uma estudante de Direito
morreu de apendicite no município de Crateús, a 287 km de Fortaleza, no
último dia 14, por falta de diagnóstico. Segundo o pai da universitária,
Manoel Agostinho, a jovem Manuela Cristiane Agostinho havia sentido
fortes dores na barriga e buscou atendimento médico na Unidade de Pronto
Atendimento (UPA) do município. As informações são da Rede Jangadeiro FM.
A filha de Manoel voltou
para casa sem diagnóstico e sem remédios prescritos por três dias
consecutivos. Por conta disso, o seu quadro de saúde piorou. “Não
detectaram que ela estava com apêndice. Mataram minha filha”, frisou
Agostinho.
Ele conta que a jovem
sofreu uma parada cardíaca e precisou ser transferida para o Hospital
Regional Norte, em Sobral, a mais de 200 km de distância do município e
quase três horas de viagem. Mas a unidade não possuía ambulância para
fazer a transferência.
Por esse motivo, foi
acionado um carro da UPA de Tauá para percorrer 150 km, mas a ambulância
não poderia chegar até o município, pois o raio de atuação se limitava
até Santa Quitéria. Logo depois, a viatura de Canindé foi acionada para
atender a jovem, mas chegou em péssimas condições, perdendo até o vidro
da janela durante a viagem.
“Eu fiquei arrasado com
essa mudança. A minha filha ficou entubada. A condição dela estava
séria. O médico se encostou na lateral da ambulância e o vidro caiu. A
situação dela tava tão complicada que eles não pararam para pegar o
vidro. Quando cheguei no Hospital de Sobral, fui bem atendido. Mas
passei dois dias lá e sofri demais. Deixaram ela morrer”, relatou o
descaso.
Para Manoel, devido ao
péssimo atendimento que sua filha recebeu em Crateús, o quadro clínico
de Manuela piorou, ocasionando sua morte. Após o caso, ele vai acionar a
justiça para não acontecer com outras pessoas.
Investigação
De acordo com a supervisora
do Núcleo de Defesa da Saúde, Nelie Marinho, da Defensoria Pública do
Estado, a Prefeitura pode ser responsabilidade pelo erro dos médicos,
caso seja comprovado, e pagar uma indenização à família. Para isso, é
necessário procurar um advogado, a Defensoria Pública ou Ministério
Público com os documentos que comprovem o erro.
“Se for diagnosticado que
houve o erro médico, a pessoa pode entrar com uma ação contra o
município para poder requerer a indenização. É necessário exames, laudo
médico e testemunhas”, explicou.
A diretora
da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro
do Conselho Regional de Medicina (Cremec), Valéria Góes, ressalta que é
preciso avaliar as condições de trabalho do médico, como hospital
lotado e péssimas condições de atendimentos.
Por ano, o
Cremec recebe cerca de 150 denúncias de erro médico. Desse total, 30%
são verdadeiros. O órgão fica responsável abrir uma sindicância para
investigar o caso e, se for comprovado, o profissional sofrerá
penalidades.
A produção da Rede Jangadeiro FM procurou
a Prefeitura de Crateús para comentar sobre o assunto. A assessoria de
comunicação informou por telefone se “solidariza com a família, mas que
não iria emitir nota oficial já que a UPA não é do município”.
A Secretaria Estadual da Saúde (Sesa)
esclarece que a gestão da unidade é municipal, inclusive as
contratações. De acordo com a SESA, a UPA de Crateús recebe por mês do
governo R$ 85 mil para manutenção da unidade.
Tribuna do Ceará



