Mãe de menino atingido por espeto achou que era 'espadinha de brinquedo'

Caso é tratado como milagre pela mãe do garoto, de 11 anos, e pelos profissionais que atuaram no socorro e na cirurgia para a retirada do objeto. 

 
A mãe da criança, Maria das Dores do Nascimento, estava na sala no dia 18 de janeiro, data do acidente. Marivaldo estava brincando com o sobrinho, Júlio César, de sete anos. Sem os pais saberem, os meninos tiveram a ideia de ir à parte de trás da casa e subir em uma escada para chegar na caixa d’água. 

Marivaldo estava na parte mais alta quando bateu no espeto, que era guardado no telhado. O objeto caiu com a ponta virada para cima em um balde. Em seguida, Marivaldo se desequilibrou e caiu de costas, por cima do espeto. “Só senti o espeto entrando", conta o garoto, que afirma não ter sentido dor. Ele, então, pediu ajuda ao sobrinho: "Júlio César, corre, vai chamar a mãe’”, relembra.
“Eu pensei que eles estavam brincando e que era uma espadinha de plástico e que ele queria me assustar. Quando ele virou, aí todo mundo viu porque o espeto era grande. Quando eu vi aquilo, endoidei na hora”, conta Maria das Dores.

A situação delicada exigiu rapidez e muito cuidado de vários profissionais. Muitas pessoas ajudaram a salvar a vida do garoto, como os médicos de Toritama, do Recife, o motorista da ambulância e uma moradora de uma casa próxima à residência da família. “Ela [a mãe] já foi com a mão no peito dele pra puxar, aí foi Deus que tocou na minha mão e aí fui em cima, disse ‘pelo amor de Deus, não puxe’, aí ela não puxou”, conta a costureira Janeide Maria da Silva. 

“Deu uma dor no peito tão grande de que o [peito] do menino não estava doendo, mais o meu doía e eu ia tirar. A sorte foi que a vizinha gritou e disse ‘não, tu mata ele’”, diz Maria Das Dores ao relembrar os momentos seguintes ao acidente. 

De acordo com a médica Cláudia Albuquerque, qualquer movimentação poderia ter sido fatal. “Poderia ter favorecido um sangramento e esse sangramento teria levado a um desfecho fatal dessa criança”, explica. 

Logo após o acidente, Marivaldo foi levado ao hospital de Toritama, mas ainda era preciso impedir que o espeto se deslocasse. “Foi feito um triplo [raio] X numa cadeira que é feita para igualar o peso dele, para que o espeto não ficasse bambo de jeito nenhum”, afirma o bombeiro Daniel Henrique da Silva. 

Segundo o médico David Lucena, responsável por atender Marivaldo em Toritama, a criança permaneceu calma, apesar do susto. “A família estava agitada, o hospital inteiro se mobilizou em volta da criança, mas ele ficou calmo o tempo inteiro e isso contagiou a equipe, que conseguiu agir de forma correta”, conta. 

Com a necessidade de ser operado em um hospital com mais recursos, Marivaldo partiu em uma ambulância para o Recife, distante 170 quilômetros de Toritama. “Em alguns momentos, quando o carro freava, ele se queixava que estava doendo”, relembra a técnica de enfermagem Cintia Isabela da Silva, do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). 

Depois de duas horas e meia de viagem, a família chegou ao Hospital da Restauração, no Centro do Recife, mas não houve tempo para fazer exames. A criança, então, seguiu direto para a sala de cirurgia. Durante a operação, as médicas descobriram como foi possível o menino ter sobrevivido. 

O objeto entrou pelas costas e saiu pelo peito, atravessando o ventrículo esquerdo e saindo pelo átrio direito. Essas são duas das cavidades onde o sangue é bombeado para o resto do corpo. Válvulas cardíacas ou vasos sanguíneos não foram atingidos, o que permitiu que o coração funcionasse mesmo perfurado. 

“O próprio espeto estava provocando um tamporamento, ele estava evitando o sangramento. Foi uma área que poderia ter sido fatal, porque foi em cheio no coração. Não foi perto, não foi tangenciando, não foi quase. Foi em cheio no coração”, enfatiza a cirurgiã vascular Andréa Rolim. 

A cirurgia para a remoção do espeto durou uma hora e meia. “Para mim, foi milagre. Eu acredito que foi por tudo que aconteceu, pelo modo como ele chegou, por ele ter chegado estável, por ele ter saído tão bem, tão rápido, já recebeu alta com uma semana”, comemora a médica Andréa Rolim. 

Com um aniversário comemorado no dia em que nasceu e outro celebrado no dia da cirurgia, Marivaldo vai ser mais monitorado pela mãe a partir de agora. “Vou amarrar uma corda nele, porque ele é muito curioso, mexe em tudo”, brinca a mãe, depois do susto. 

O pai do garoto, Marivaldo da Silva, não cansa de agradecer pelo filho ter sobrevivido ao ocorrido. "Eu agradeci muito a Deus e continuo agradecendo a Deus e a todos que cuidaram dele", afirma.


G1

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