Comandante do 22º BPM afirma que denúncia à CGD contra policiais foi armada por chefe de facção

 
 
Com 23 anos de Polícia Militar do Estado do Ceará, o comandante do 22º Batalhão da Polícia Militar (BPM), major Hideraldo Bellini, disse em entrevista ao O POVO Online que nunca passou por uma situação parecida com a da última sexta-feira, 2. Equipe coordenada por ele quase foi autuada em flagrante na Controladoria Geral de Disciplina (CGD), por acusação de crimes de tortura e tráfico de drogas.
 
O oficial afirma que foi vítima de armação de um chefe de facção criminosa na área da comunidade do Pau Fininho e Verdes Mares. Bellini afirma que se sentiu humilhado e foi chamado de "bandido" na sede da CGD. 
 
Conforme Bellini, após identificar crianças e adolescentes suspeitos de escrever com pedras as siglas de uma facção criminosa - episódio cujas fotos foram difundidas via WhatsApp - a mãe de uma das crianças, em nome das outras mães, buscou os policiais do 22º BPM. As mães concordaram em levar os filhos à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) para realização do procedimento do ato infracional, mas pediram que houvesse escolta policial, por medo de ataque da facção criminosa.
O oficial afirma que pediu às mães que aguardassem, pois a equipe teria de se apresentar à CGD e, quando voltassem, levariam os jovens. O Conselho Tutelar foi acionado. 
 
"Quando o sargento chegou lá (na CGD), viu o parente do chefe do tráfico do Pau Fininho, que estava fazendo a denúncia. E lá indagou porque ele não falava para a delegada que era traficante. Foi aí que a delegada que estava no caso se irritou e uns 20 policiais cercaram a viatura e deram uma geral. Tinha quatro balas de maconha que eles tinham apreendido na casa de um dos meninos (que foram apreendidos) e as armas cauteladas da Polícia. Então, ela falou que todos seriam presos por tortura. Corri pra lá (CGD). Ela ficou gritando que eu era tão bandido quanto os que denunciam", relatou.
 
Conforme Bellini, o conselheiro tutelar confirmou que não houve tortura e que as próprias mães acompanharam os filhos. "Foi quando se tocaram que era uma armação. A mãe trouxe o menino banhado, liguei para as três mães no dia, só não fomos logo porque havia o ofício da CGD para ir depor".
Apologia ao crime 
O comandante do 22º BPM afirmou que os autos de infração dos adolescentes foram registrados na DCA como apologia ao crime, por ele próprio, pois a equipe que deveria levar os jovens estava na CGD. O major diz que quando a ocorrência da Controladoria ganhou repercussão, os advogados Ricardo Valente,  presidente do Conselho de Defesa do Policial no Exercício da Função (CDPEF), foi ao local atendendo a uma determinação do secretário André Costa. Mais três advogados da Associação dos Profissionais da Segurança (APS) se dirigiram ao local. O oficial diz que, a todo momento, recebeu ligações de policiais ameaçando mobilização de paralisação, todos revoltados com a situação.
"Nunca passei por uma situação destas. E pior ainda. A humilhação feita por uma pessoa da minha instituição. Porque é Polícia Civil, mas é Polícia. Sem dar razão à gente, sem dar chance de defesa, sem escutar o que a gente tinha a falar", lamentou. 
Apreensões 
Major Bellini diz que, na ação, foram encontradas balaclavas (máscaras) e luvas. "Quem é o policial que não usa balaclava. Se um policial mora em uma área e tem operação, mando colocar balaclava. Se ele não colocar, no mínimo, quando ele voltar para a casa, a porta dele está pichada com nome de facção. E, no mínimo, a mãe dele e a irmã são ameaçadas com arma na cabeça. Tanto faz ser do Lagamar, Verdes Mares, Pau Fininho ou Praia do Futuro".
Em relação à lanterna de choque, também encontrada na vistoria, Bellini afirma que não estava no carro. Mas, ressalta que, para separar uma briga ou se defender, o policial não pode dar um tiro na pessoa. Lembrou que a própria Guarda Municipal de Fortaleza utiliza teaser, que é um equipamento semelhante. "Em qualquer banca da Praça do Ferreira e em qualquer loja de produtos policiais vende essa lanterna de choque".
Bellini acrescenta que as luvas encontradas com os policiais são necessárias. "A gente vai atender um cara e ele é soro positivo. Os bandidos usam foice, álcool para carbonizar a vítima, eu uso instrumento de trabalho. Tenho de usar balaclava para entrar na favela e evitar que coloquem nossas fotos nas redes sociais dizendo que estamos decretados. Isso é tortura?" 
Em relação a uma possível ação a ser movida por ele em relação ao caso na CGD, o major Bellini ressaltou que ainda não é o momento para se pronunciar em relação a isso. Ele disse que vai conversar com advogados e com os gestores da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Nota
Na nota da Controladoria Geral de Disciplina (CGD) divulgada aos veículos de comunicação no dia do caso, a informação preliminar era de que os policiais haviam, supostamente, cometido delitos de tráfico de drogas, tortura e coação do concurso do processo.
A denúncia, segundo a nota, teria sido realizada pelas próprias supostas vítimas, que afirmaram ter sido sequestradas e torturadas. Na nota, ainda foi relatado que havia equipamentos para choques, sacos plásticos, luvas, munições e drogas. Também foi relatado que as vítimas haviam sido encaminhadas para realização de exame de corpo de delito.
O POVO encaminhou email à CGD na noite deste domingo, 4, perguntando quais os motivos que levaram o órgão a desistir do flagrante. Assessoria de comunicação informou que os policiais não ficaram presos, pois o órgão achou melhor produzir mais provas. A CGD, via assessoria, disse ainda que foram abertos inquérito e procedimento disciplinar. A Controladoria não esclareceu a questão do exame de corpo de delito e também disse que a delegada não iria se pronunciar.
O Povo Online

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