É hora do almoço do cearense. No prato, é quase certeza ter cuscuz,
feijão, farofa e verdura. Mas esses alimentos, certamente, não brotaram
no supermercado, mas em terras aradas e cuidadas por milhares de
agricultores familiares do Estado. Aliás, a agricultura familiar
corresponde a cerca de 70% dos alimentos consumidos em todo o País, diz o
Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Ontem, para auxiliar a
modalidade de cultivo, o governador Camilo Santana anunciou um pacote de
mais de R$ 660 milhões em ações de abastecimento d'água, projetos
produtivos e novos tratores.
"É um conjunto de ações para fortalecer os homens e as mulheres do
campo, para que vivam dignamente e com mais qualidade de vida", destacou
o chefe do Executivo estadual, durante solenidade no Parque de
Exposições César Cals, em Fortaleza. Só na segunda fase do Projeto São
José, cujo foco é o desenvolvimento das comunidades familiares rurais,
serão investidos R$ 490 milhões (US$ 150 milhões).
O evento também marcou a entrega de 173 tratores, no valor de mais de
R$ 21 milhões pelo Projeto de Mecanização Agrícola do São José. Outra
ação, a partir de convênio assinado com o MDS, no valor de quase R$ 20
milhões, será a construção de 4.195 cisternas de primeira água - voltada
para consumo humano - e 411 cisternas escolares em 48 municípios
cearenses.
Já por meio do Projeto Paulo Freire, serão implantadas mais 4 mil
cisternas de primeira água e 100 cisternas escolares em 152 comunidades
pobres de 39 municípios nos territórios dos sertões de Sobral, Cariri e
Sertões dos Inhamuns. Além disso, o Governo também liberará R$83 milhões
para 478 comunidades rurais e entregará títulos de terra para
agricultores familiares.
Conforme Dedé Teixeira, titular da Secretaria do Desenvolvimento
Agrário (SDA), os investimentos beneficiarão 182 municípios cearenses
com zona rural - as exceções são Fortaleza e Eusébio - no intuito de
amenizar os efeitos de seis anos de seca.
Inovação
"Temos que inovar em produção com menos água, através de irrigação por
gotejamento, com melhoras genéticas dos rebanho, introdução de novas
culturas que gastem menos água, com silagem de insumos para quando
faltar, com o reúso da água e fontes alternativas de energia. O
agricultor precisa se acostumar a novas formas de produzir", detalha o
secretário.
Ainda segundo Teixeira, o Governo aprovou recurso para a realização do
Observatório da Agricultura Familiar, estudo que medirá a porcentagem
que a modalidade fornece para o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.
Esse tipo de cultivo sustenta a família de João Santa, 60, na comunidade
Bom Gosto, em Pacujá, a 314 Km de Fortaleza. Suportando uma seca
"braba", se virando como pode com a água de cisternas e poços profundos,
ele segue semeando feijão, milho e mandioca.
Otimismo
Questionado sobre as ações anunciadas pelo Governo, João pensa que elas
"vão vingar". É o mesmo desejo de Maria Barbosa, 22, que cultiva a
terra de Madalena, a 185 Km da Capital, com a ajuda de um trator da
associação de produtores rurais, que às vezes reserva para utilizar. O
trabalho está feito, agora aposta na ação de São José. "A comunidade
começou a plantar. O milho já tá dando", relata.
Na opinião do presidente da Federação dos Trabalhadores Rurais
Agricultores e Agricultoras Familiares do Ceará (Fetraece), Raimundo
Martins, o pacote anunciado vai na contramão da "desestruturação de
políticas públicas de agricultura familiar em todo o Brasil",
garantindo, no Ceará, emprego e renda ao homem do campo.
Já Gadyel Gonçalves, presidente da Associação dos Municípios do Ceará
(Aprece), reconhece que o Projeto São José, a cada ano, "se renova e nos
ajuda a atravessar toda a crise hídrica".
Diário do Nordeste



