A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) afirmou nesta segunda-feira (26) que a Netflix está sendo usada para fazer campanha política ao disponibilizar a série "O Mecanismo", de José Padilha. Ela declarou que pretende alertar lideranças políticas de outros países sobre o caso.
Ela disse crer que a direção do serviço não tem conhecimento sobre o impacto político da série, lançada esta semana.
Petistas têm criticado o fato da produção ter incluído cenas
inverídicas que prejudicam o partido — como incluir a expressão "com
Supremo, com tudo" numa fala do personagem análogo ao ex-presidente Lula. Padilha diz que a série é uma ficção, embora seja baseada em fatos reais.
"Netflix não pode fazer campanha política. Vou falar para as lideranças
políticas que eu encontrar. 'Se está fazendo aqui, fará em seu país.'
Acho importante que a gestão do Netflix saiba. A direção do Netflix não
sabe onde está se metendo. Não vejo porque uma estrutura como aquela se
meter onde está se metendo", disse Dilma.
A ex-presidente convocou uma coletiva de imprensa para comentar os ataques à caravana do ex-presidente Lula na região Sul. Ela respondeu perguntas apenas da imprensa estrangeira.
Dilma disse que os ataques sofridos pela caravana é consequência do impeachment sofrido por ela — o que chama de golpe. Ela afirmou que a interrupção de seu mandato provocou uma expansão da intolerância no país.
"O que conseguiram com esse processo foi a expansão do ódio, de
reprodução desse ódio em escala nacional, um nível de intolerância muito
grande e a grande difusão de pequenos grupos de extrema direita pelo país", afirmou ela.
A petista classificou o impeachment como o "ato inaugural do golpe", e
comparou a radicalização ocorrida após sua queda ao recrudescimento da
violência ao longo dos anos da ditadura militar.
"O golpe [militar] foi em 1964. Houve um momento de radicalização em
1968. O golpe se instalou ao longo de todo um processo", disse a
ex-presidente.
"O que está acontecendo com a caravana do Lula reflete o que está
acontecendo com a política do Brasil. É um exemplo do que passará nessa
campanha", disse Dilma.
Ela vinculou ainda a morte da vereadora Marielle Franco (PSOL) ao clima de radicalização no país.
"Todo golpe se radicaliza e aumenta o grau de violência que ele utiliza
para conter o grau de consciência das pessoas e conter a expressão
política. Como eles não conseguem conter com argumentos, utilizam formas
mais violentas. Acho que com a vereadora Marielle aconteceu isso. É
possível aceitar que matem uma mulher por um crime de opinião?", disse a
ex-presidente.
Dilma sugeriu ainda que a interrupção de seu mandato teve influência
estrangeira. Ela citou fala de Kenneth Blanco, ex-vice-procurador geral
adjunto do Departamento de Justiça dos EUA, segundo quem houve uma
cooperação informal com procuradores da Operação Lava Jato. A informação consta de petição do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro.
"É uma confissão de uma ilegalidade. Só o ministro da Justiça pode
fazer acordo. Eu acredito que houve alguma interferência [estrangeira no
impeachment]. A história vai mostrar qual", disse Dilma.
A ex-presidente ironizou o fato de diversas máquinas usadas para fazer o
bloqueio nas estradas da região terem sido financiadas pelo governo
federal nos mandatos do PT na Presidência.
A petista voltou a negar que o partido tenha um "plano B" a Lula para a candidatura presidencial. E disse que ainda está avaliando se disputará algum cargo este ano.
Diário do Nordeste



