Mais uma vez são veiculadas “fake news” em redes sociais envolvendo o Papa Francisco.
Desta vez, está sendo compartilhada uma foto do Papa sobre a qual foi
inserida uma fala atribuída falsamente a ele: segundo essa montagem,
Francisco teria dito, durante a Missa da Vigília Pascal, neste sábado,
31 de março:
Abaixo da frase falsa, vem escrita a data 31/03/2018 e uma legenda mal escrita que diz “Missa sacristia santa pascoal em Roma“.
Além
de observar que não existe missa alguma com tal nome, o católico atento
pode certificar-se das reais palavras do Papa Francisco acessando o
site do Vaticano, que é a única fonte oficial na qual constam os
pronunciamentos do Pontífice. Ao se consultar no site do Vaticano o texto oficial da homilia de Francisco na Missa da Vigília Pascal, constata-se que a suposta frase também não existe.
Confira a seguir a íntegra da verdadeira homilia do Papa Francisco na Missa da Vigília Pascal de 31 de março de 2018:
Começamos
esta celebração no átrio externo, imersos na escuridão da noite e no
frio que a acompanha. Sentimos o peso do silêncio diante da morte do
Senhor, um silêncio em que cada um de nós se pode reconhecer e que
penetra profundamente nas fendas do coração do discípulo, que, à vista
da cruz, fica sem palavras.
São as horas do discípulo emudecido face à amargura gerada pela morte
de Jesus: Que dizer diante desta realidade? O discípulo que fica sem
palavras, tomando consciência das suas reações durante as horas cruciais
da vida do Senhor: diante da injustiça que condenou o Mestre, os
discípulos guardaram silêncio; diante das calúnias e falsos testemunhos
sofridos pelo Mestre, os discípulos ficaram calados. Durante as horas
difíceis e dolorosas da Paixão, os discípulos experimentaram, de forma
dramática, a sua incapacidade de arriscar e falar a favor do Mestre;
mais ainda, renegaram-No, esconderam-se, fugiram, ficaram calados (cf.
Jo 18, 25-27).
É a noite do silêncio do discípulo que se sente enrijecido e
paralisado, sem saber para onde ir diante de tantas situações dolorosas
que o oprimem e envolvem. É o discípulo de hoje, emudecido diante duma
realidade que se lhe impõe fazendo-lhe sentir e – pior ainda – crer que
nada se pode fazer para vencer tantas injustiças que vivem na sua carne
muitos dos nossos irmãos.
É o discípulo perplexo porque imerso numa rotina avassaladora que o
priva da memória, faz calar a esperança e habitua-o ao «fez-se sempre
assim». É o discípulo emudecido e ofuscado que acaba por se habituar e
considerar normal a frase de Caifás: «Não vos dais conta de que vos
convém que morra um só homem pelo povo, e não pereça a nação inteira»
(Jo 11, 50).
E no meio dos nossos silêncios, quando calamos de modo tão oprimente,
então começam a gritar as pedras (cf. Lc 19, 40: «Digo-vos que, se eles
se calarem, gritarão as pedras») dando lugar ao maior anúncio que
alguma vez a história tenha podido conter dentro de si: «Não está aqui,
pois ressuscitou» (Mt 28, 6). A pedra do sepulcro gritou e, com o seu
grito, anunciou a todos um novo caminho. Foi a criação a primeira a
fazer ecoar o triunfo da Vida sobre todas as realidades que procuraram
silenciar e amordaçar a alegria do evangelho. Foi a pedra do sepulcro a
primeira a saltar e, à sua maneira, a entoar um cântico de louvor e
entusiasmo, de júbilo e esperança no qual todos somos convidados a
participar.
E se ontem, com as mulheres, contemplamos «Aquele que trespassaram»
(Jo 19, 37, cf. Zc 12, 10), hoje, com elas, somos chamados a contemplar o
túmulo vazio e ouvir as palavras do anjo: «Não tenhais medo! (…)
Ressuscitou» (Mt 28, 5-6). Palavras que querem alcançar as nossas
convicções e certezas mais profundas, as nossas maneiras de julgar e
enfrentar os acontecimentos diários; especialmente o nosso modo de nos
relacionarmos com os outros. O túmulo vazio quer desafiar, mover,
interpelar, mas sobretudo quer encorajar-nos a crer e confiar que Deus
«Se faz presente» em qualquer situação, em qualquer pessoa, e que a sua
luz pode chegar até aos ângulos mais imprevisíveis e fechados da
existência. Ressuscitou da morte, ressuscitou do lugar donde ninguém
esperava nada e espera-nos – como esperava as mulheres – para nos tornar
participantes da sua obra de salvação. Esta é a base e a força que
temos, como cristãos, para gastar a nossa vida e o nosso ardor,
inteligência, afetos e vontade na busca e, especialmente, na criação de
caminhos de dignidade. «Não está aqui… Ressuscitou!» (28, 6). É o
anúncio que sustenta a nossa esperança e a transforma em gestos
concretos de caridade. Como precisamos de deixar que a nossa fragilidade
seja ungida por esta experiência! Como precisamos que a nossa fé seja
renovada, que os nossos horizontes míopes sejam questionados e renovados
por este anúncio! Jesus ressuscitou e, com Ele, ressurge a nossa
esperança criativa para enfrentar os problemas atuais, porque sabemos
que não estamos sozinhos.
Celebrar a Páscoa significa voltar a crer que Deus irrompe sem cessar
nas nossas vicissitudes, desafiando os nossos determinismos
uniformizadores e paralisantes. Celebrar a Páscoa significa deixar que
Jesus vença aquela atitude pusilânime que tantas vezes nos cerca
procurando sepultar qualquer tipo de esperança.
A pedra do sepulcro desempenhou o seu papel, as mulheres fizeram a
sua parte, agora o convite é dirigido mais uma vez a ti e a mim: convite
a quebrar os hábitos rotineiros, renovar a nossa vida, as nossas
escolhas e a nossa existência; convite que nos é dirigido na situação em
que nos encontramos, naquilo que fazemos e somos; com a «quota de
poder» que temos. Queremos participar neste anúncio de vida ou ficaremos
mudos perante os acontecimentos?
Não está aqui, ressuscitou! E espera por ti na Galileia, convida-te a
voltar ao tempo e lugar do primeiro amor, para te dizer: «Não tenhas
medo, segue-Me».
Fonte oficial: Site do Vaticano