O esquiador americano Bode
Miller, seis vezes medalhista olímpico, passou neste mês por uma tragédia
familiar que repercutiu em vários países. Ele perdeu Emeline, a filha de um ano
de idade, encontrada inconsciente na piscina de um vizinho. Enquanto os pais
conversavam, não perceberam que a menina havia caído na água e estava se afogando.
Quando o socorro chegou, já era tarde.
Nos Estados Unidos, dez pessoas
morrem afogadas diariamente, conforme a USA Swimming Foudation. O afogamento é
a principal causa de morte não intencional em crianças de um a quatro anos no
país.
No Brasil, o quadro não é
diferente. Todos os dias, 17 pessoas morrem afogadas - sendo que três delas são
crianças - , de acordo com o Ministério da Saúde.
Em 2016, ano com os dados mais
recentes, foram 913 óbitos por afogamento de crianças de até 14 anos de idade,
segundo a ONG Criança Segura, citando números do Ministério da Saúde. Essa é a
maior causa de morte acidental entre crianças na faixa de um a quatro anos,
sendo a piscina o local onde a maioria dos incidentes ocorre, ainda conforme o
ministério.
"Afogamento não é acidente,
não acontece por acaso, tem prevenção", ressalta o médico David Szpilman,
da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa). "O grande
problema é que não se dá a devida importância a esse vilão da saúde
pública", como diz Szpilman. "Não há campanhas de combate ao
afogamento", critica.
A blogueira Odele Souza escreve
desde 2007 para alertar sobre o perigo dos ralos das piscinas - uma ameaça
mesmo àqueles que sabem nadar. Em 1998, sua filha Flávia, na época com dez
anos, teve os cabelos puxados por causa da sucção.
"Já são mais de 20 anos
desde que você sofreu o acidente que lhe deixou vivendo em coma. Por causa da
sucção dos ralos de piscinas, que infelizmente continuam a ocorrer em todas as
partes do mundo, querida. O descaso com a vida humana é revoltante. Tenho
lutado pela Lei de Segurança nas Piscinas que salvaria tantas vidas e evitaria
que outras crianças venham a ter o seu destino, mas as autoridades pouca
atenção nos têm dado", escreveu Odele no Dia das Mães, mês passado.
Um projeto de lei que disciplina
a prevenção de acidentes em piscinas no território nacional tramita no
Congresso desde 2014. A ausência de regras definidas a todos os Estados é
duramente criticada por pessoas que perderam entes queridos em afogamentos.
Em todos os países, o afogamento
está entre as principais causas de morte de crianças pequenas, segundo a
Organização Mundial da Saúde (OMS). Os números, contudo, são nebulosos: muitos
governos, em geral da Ásia e África, não repassam as informações à OMS. Cerca
de 360 mil pessoas morrem por afogamento ao ano no mundo, em todas as faixas
etárias. No entanto, especialistas afirmam que esse é um valor subestimado,
podendo chegar a até 1 milhão de óbitos.
São mais precisos os dados sobre
casos fatais, baseados nas certidões oficiais de atestados de óbito. No Brasil,
entre 2001 e 2016, houve uma redução de 39% nos casos fatais em crianças de até
14 anos. Especialistas, no entanto, afirmam que, apesar da redução, é
inaceitável uma criança morrer por um motivo que, muitas vezes, poderia ser
completamente evitado. A BBC News Brasil ouviu especialistas e selecionou dicas
para evitar este tipo de tragédia.
Como prevenir?
Seja qual for o ambiente do afogamento,
uma piscina, um rio ou uma represa, existem etapas para ajudar uma pessoa que
está em apuros na água. O primeiro passo é a prevenção: crianças na água ou
próximas a ela precisam ser supervisionadas o tempo todo, sem descanso - e bem
de perto. O responsável deve sempre ficar a um braço de distância, mesmo na
presença do guarda-vidas.
"Água no umbigo, sinal de
perigo". Mesmo nas piscinas infantis ou se a criança já sabe nadar, é
preciso ficar atento. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), bastam
5 centímetros de água para um bebê se afogar na banheira, por exemplo. Em
piscinas, verifique se existe ralo antissucção. Na praia, identifique onde está
a corrente de retorno e não deixe a criança nadar nesse local. Na dúvida, fale
com o salva-vidas.
Brincadeiras de prender a
respiração embaixo da água devem ser permitidas apenas sob supervisão; deixar
brinquedos dentro ou próximos à água pode servir de atrativo para as crianças.
Boias não são equipamentos de
segurança e podem facilitar um afogamento; prefira o colete salva-vidas.
Fique atento
A segunda recomendação para
prevenir emergências é a atenção: é preciso definir claramente quem está
vigiando a criança na água, sem distrações como, por exemplo, celulares ou
bate-papo. Diferentemente do que os filmes e a ficção podem dar a entender, o afogamento
é um processo silencioso e é bom atentar para os sinais visíveis: cabelos
caindo no rosto ou os braços muito imóveis podem ser sinais de alerta.
"Uma pessoa que está se
afogando não consegue respirar, muito menos gritar. Se ela levantar o braço, afunda
naquele momento. O olho leigo enxerga uma pessoa brincando na água", diz o
especialista. "São inúmeros casos em que uma criança está morrendo e
ninguém percebe o que está acontecendo", diz Szpilman.
Em caso de emergência, o melhor
caminho é chamar ajuda e ligar para o número de emergência 193. Dependendo da
situação, outra recomendação é jogar à vítima uma boia ou outro objeto que
flutue. É importante manter-se seguro, puxando a pessoa com um objeto, como,
por exemplo, o cabo da peneira para piscina.
Como socorrer
Caso a vítima não respire, é
necessário fazer manobras de ressuscitação com rapidez.
"Se não houver respiração, é
preciso fazer cinco ventilações (respirações) boca a boca. Se a vítima não
responder, seja falando, tossindo ou vomitando, significa que o coração também
pode estar parado. Aí você vai começar a fazer 30 compressões cardíacas,
mantendo duas ventilações e 30 compressões até a ambulância chegar, ela voltar
a respirar ou até a exaustão do seu braço", diz Szpilman.
O médico da Sobrasa não recomenda
a chamada Manobra de Heimlich, muito popular há 20 anos, em que uma pessoa usa
as mãos para fazer pressão sobre o diafragma, comprimindo os pulmões.
"Pode provocar vômito e a
vítima acabava aspirando a água do vômito, piorando o quadro", afirma o
especialista.
E depois do susto?
Após um episódio de afogamento,
pais ou responsáveis precisam ficar atentos aos sinais de tosse, dificuldade
respiratória ou vômito - podem ser complicações do quadro de saúde.
Na dúvida, o melhor é procurar o
médico.
CHAMELEONSEYE / GETTY IMAGES
Ao levar crianças para a piscina,
defina um adulto responsável por prestar atenção aos pequenos
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BBC News