O Ceará é o segundo Estado do Nordeste com maior índice de área em
processo de desertificação. O mais degradado é o Rio Grande do Norte
(12,87%), seguido do Ceará (11,45%) e em terceiro, a Paraíba com 8,12%.
Atualmente, as regiões mais atingidas são os Inhamuns, Médio Jaguaribe e
parte do Centro-Norte, onde está localizado o município de Irauçuba e
seus circunvizinhos.
Os dados são da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme), que tem em andamento pesquisas e projetos de recuperação do
solo. "O Ceará é o mais susceptível a esse fenômeno, mas isso não
significa que está mais degradado", explica a pesquisadora da Funceme,
Sônia Perdigão. A classificação segue convenção da Organização das
Nações Unidas (ONU) e a vulnerabilidade decorre do clima Semiárido.
Avanço
As áreas degradas são analisadas e monitoradas por meio de imagem de
satélite. Em 1992, o mapeamento feito pela Funceme mostrava que o Ceará
apresentava uma taxa de 10,20% de seu território em processo de
desertificação. Em 2016, 24 anos depois, houve um avanço de 1,25% e a
taxa atual é de 11,45%. "Pode se achar que é pouco, mas não é", pontua
Sônia Perdigão.
No próximo domingo, 17, é celebrado o Dia Mundial de Combate à
Desertificação. A data foi instituída pela ONU para reflexão sobre os
efeitos negativos e para pensar alternativas de mitigação do fenômeno. É
uma data especial para o meio ambiente, tendo em vista que mais de 15%
do território brasileiro está suscetível à desertificação, incluindo
100% do Ceará, parte dos outros estados do Nordeste, o norte de Minas
Gerais e do Espírito Santo.
Entre as novas ações visando ampliar e atualizar as atividades de
mitigação e combate à desertificação, está o inédito levantamento de
solos do Ceará, que vem sendo avaliado e validado pela equipe técnica da
Funceme. O estudo, que abrange uma área de cerca de 92.600Km², cerca de
63% do Estado, está em andamento, e sua conclusão prevista para o
início de 2019.
Ao longo dos últimos anos, a Funceme vem se destacando em pesquisa na
área de recuperação dos solos, porém, o papel do ser humano é essencial
para a redução dos efeitos negativos provocados pelo mau uso deste
recurso. "No Ceará observamos que a utilização inadequada dos solos,
contribuiu bastante para esse quadro atual", observa Sônia Perdigão.
Bons resultados
Segundo a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação
(UNCCD), a degradação das terras pode ocorrer tanto por alterações
climáticas como pelas atividades humanas. "O Ceará apresenta mais de 11%
de seu território com áreas degradadas em processo de desertificação",
pontuou a pesquisadora. "Isso é preocupante". Sônia, entretanto,
destacou os bons resultados obtidos em um projeto experimental em curso
no Município de Jaguaribe.
Com expertise em pesquisas na área de solos e conhecimentos do
território com utilização de geotecnologias, a Funceme realiza
mapeamentos e diagnósticos do tema desertificação. Executou e,
atualmente, monitora um projeto piloto de recuperação de área degradada,
implementado na localidade do Brum, em Jaguaribe. A partir de técnicas
de manejo e conservação do solo, uma área de cinco hectares vem ganhando
nova vida com surgimento de espécies nativas da região.
"Conhecendo o solo, pode-se planejar a sua utilização de forma
adequada, considerando suas potencialidades e limitações", reforça Sonia
Perdigão, que integra o grupo de pesquisadores do Núcleo de Recursos
Hídricos e Meio Ambiente da Funceme. "Defendemos políticas públicas de
apoio ao homem do campo, ações efetivas que podem reverter o quadro".
Irauçuba é o primeiro município brasileiro a implantar um Plano
Municipal de Combate à Desertificação, a partir de trabalho de
conscientização dos moradores em áreas bastante degradadas, mas que
passaram a receber medidas preservacionistas.
Em Jaguaribe, o projeto piloto da Funceme conta com o apoio dos
moradores. "A falta de conhecimento é o principal entrave, e a cultura
herdada dos antepassados faz com que manejos inadequados sejam ainda
praticados, contribuindo para o avanço do fenômeno", pontuou Sônia
Perdigão. "O solo na área experimental estava muito desgastado, não
nascia mais nada", frisou a pesquisadora.
Após três anos com medidas simples de conservação, escavação de sulcos,
colocação de matérias orgânicas (vegetação, estrume), barragens
sucessivas de pedras e valas para retenção de água da chuva por mais
tempo, já se observa o nascimento de espécies da Caatinga. "Estamos
animados com o estudo, que pode ser replicado em outras áreas", pontuou
Sônia Perdigão.
Futuro
"Apesar dos esforços para a recuperação e preservação dos solos do
Estado, é preciso que o homem, um dos grandes responsáveis pelo processo
de desertificação, reavalie suas ações em relação ao manejo deste
importante recurso natural", frisou Sônia Perdigão. "A sociedade deve
contribuir de forma mais eficaz para a construção de um futuro que
garanta uma exploração mais racional e sustentável do território".
Os pesquisadores do fenômeno de degradação do solo mostram a
importância de se conhecer as suas características. O seu uso deve
respeitar as suas limitações. "A tomada de consciência e a aplicação de
manejo correto são caminhos para o combate à desertificação", observa o
agrônomo, da ONG Rio Jaguaribe, Paulo Maciel. "Práticas corretas evitam o
avanço dos processos erosivos que culminam com a degradação do solo".
Diário do Nordeste



