Ao ser informado pelo deputado federal Wadih Damous (PT-RJ) de que o TRF-4 havia determinado sua soltura, no fim da manhã deste domingo (8), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que "nunca acreditou" que a decisão fosse cumprida.
O petista estava cético quanto a deixar a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, segundo correligionários próximos a ele.
Diante da batalha judicial, a ordem no PT ao longo do dia era insistir
nos recursos para que a determinação do juiz plantonista Rogério Favreto
fosse cumprida e Lula, solto.
A estratégia do PT de impetrar um habeas corpus
diretamente no TRF-4 se deu diante da dificuldade que a defesa de Lula
tem encontrado em instâncias superiores, como o STJ (Superior Tribunal
de Justiça) e o STF (Supremo Tribunal Federal).
Os juízes desses tribunais têm dado a maior parte de suas decisões contra réus da Operação Lava Jato.
Damous disse que pretende abrir um processo contra o juiz federal
Sergio Moro no CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Para o parlamentar,
ele cometeu prevaricação ao emitir uma decisão que manteve Lula preso.
"O que houve aqui hoje foi desobediência a uma decisão
judicial, o que mostra um claro sistema de anarquia no Poder
Judiciário", disse o deputado, durante um ato pró-Lula em Curitiba.
Com a decisão do presidente do TRF-4, Thompson Flores, no fim do dia, mantendo Lula preso, petistas reagiram.
A presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR) usou as redes sociais para chamar a decisão de golpe.
"Mais golpe?! Thompson Flores vai cassar o habeas corpus com ajuda da
operação tartaruga da PF?! Que vergonha para o Judiciário brasileiro!
Vale tudo para prejudicar Lula e, por consequência, a democracia e o
povo brasileiro!", escreveu a parlamentar no Twitter.
Rui Falcão, ex-presidente do PT, também criticou o desembargador, a
quem se referiu como golpista. "Rasga a Constituição, as leis penais e a
decisão correta do desembargador Favreto. Confirma a condição de Lula
como preso político, agora praticamente sequestrado!"
"A decisão de Thompson Flores endurece o golpe e
implica mais fechamento democrático, mais arbítrio, mais ilegalidade. Ao
mesmo tempo, deixa mais explícito que a direita não tolera a ideia de
ver Lula solto, não tolera que ele possa disputar as eleições", criticou
o líder do PT no Senado, Lindbergh Farias (RJ).
À tarde, durante a espera pela liberação do ex-presidente, Gleisi
criticou a atuação da Polícia Federal. A senadora contou ter procurado
pessoalmente o ministro da Justiça, Raul Jungmann, para discutir a situação, mas sem resposta. Ela disse que ele deve explicações.
Gleisi reafirmou ainda a candidatura do petista: "Mesmo preso, ele vai
ser candidato e ganhar a eleição. Quero ver se o STF vai ter coragem de
anular a votação que ele vai ter", desafiou.
No período da manhã, a decisão liminar de Favreto surpreendera
parlamentares petistas e até mesmo integrantes da defesa de Lula. Poucos
integrantes do partido, além dos três deputados que ajuizaram o HC,
estavam sabendo da estratégia.
No Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, onde Lula foi preso no dia 7 de abril, houve concentração desde as 16 horas.
À noite, cerca de 500 militantes permaneciam no local.
Em um carro de som, Gleisi relatou que, em mensagens via WhatsApp,
Jungmann teria dito que Thompson Flores recomendara que Lula
permanecesse na prisão.
Aos apoiadores do ex-presidente, Gleisi descreveu as idas e vindas do
processo. E afirmou: "Se depender desse TRF, não vão soltar o Lula".
Ela chamou a militância para participar de ato diante da sede do PT na
manhã desta segunda-feira (9). "Espero que o STF e o STJ possam
corrigir."
"Mas, se não houver mobilização, se não falarmos para fora do país, eles vão continuar fazendo o que estão fazendo".
O público ficou desanimado com o cenário descrito pelos petistas.
Ao final, Marinho tentou puxar sem sucesso o coro de "Lula livre". "O que houve? Perderam a voz?", perguntou.
Diário do Nordeste