A menos de dois meses para a última etapa do processo de separação, as
siamesas unidas pela cabeça se desenvolvem bem e até mais rápido do que o
previsto, segundo avaliação da equipe médica do Hospital das Clínicas
da USP em Ribeirão Preto (SP).
Aos 2 anos, Maria Ysadora e Maria Isabelle, que permanecem deitadas a
maior parte do tempo, estão aprendendo a falar, brincam juntas e até
ensaiam os primeiros passos, que serão possíveis mesmo, após a última
cirurgia, antecipada para outubro.
“A evolução delas foi surpreendente para todos. Elas querem brincar,
querem sair de onde estão e se ajudam bastante. A Ysabele se movimenta
um pouco mais, a Ysadora faz força com o corpo para puxá-la, e
vice-versa”, conta a oncologista pediatra Maristella Francisco dos Reis.
A médica integra a equipe de 30 profissionais que participam das
cirurgias de separação das siamesas e acompanha a família das meninas,
que é de Patacas, distrito de Aquiraz (CE), desde que se mudaram
temporariamente para Ribeirão, em janeiro deste ano.
“Elas aprenderam a pegar brinquedos com os pés e trazer até as mãos, e
passam brinquedo uma para a outra, e brigam por causa dos brinquedos
também. Elas estão falando algumas palavras, então elas chamam algumas
pessoas com quem têm mais afinidade”, detalhou.
As gêmeas seguem no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do hospital desde a
última cirurgia, realizada no sábado (4) – a terceira de cinco que
serão feitas. A previsão é que as meninas recebam alta médica na próxima
semana.
Apesar de a equipe não descartar a possibilidade de que uma das irmãs
fique com sequelas, após o último procedimento, a pediatra disse que a
expectativa é positiva, destacando que a regeneração e adaptação
cerebral é maior nas crianças.
“Elas estão falando papai, mamãe. Alguns amiguinhos que elas fizeram em
Ribeirão, elas também falam os nomes deles. Já reconhecem praticamente
toda a equipe. Então, realmente, a evolução delas é surpreendente”,
afirmou.
Processo de separação
Maria Ysabelle e Maria Ysadora passaram pela terceira cirurgia no último
sábado. O procedimento durou oito horas e, segundo o neurocirurgião
Hélio Rubens Machado, foi o mais complexo. Machado disse ainda que 80%
dos cérebros das siamesas já foram separados.
As gêmeas devem passar pela quarta cirurgia em 1º de setembro, quando
serão implantados quatro expansores subcutâneos para dar elasticidade à
pele e garantir que, na separação total de corpos, haja tecido
suficiente para cobrir os crânios.
Após cada cirurgia, as gêmeas também são submetidas a uma série de
exames para que a equipe desenvolva um molde das cabeças em 3D, com
detalhes dos cérebros, veias e artérias, para que a equipe possa
planejar a próxima etapa.
Cerca de 30 profissionais de diferentes áreas, como neurocirgia,
cirurgia plástica, pediatria, enfermagem, entre outras, participam dos
procedimentos. A equipe conta com o apoio do cirurgião norte-americano
James Goodrich, referência mundial no assunto.
Para facilitar a logística, a família se mudou em janeiro deste ano para
Ribeirão e passou a viver provisoriamente nos fundos de uma casa usada
pelo Grupo de Apoio ao Transplantado de Medula Óssea (Gatmo), dentro do
campus da USP.
G1