Representantes de movimentos feministas e sociais, organizações não
governamentais e membros da sociedade civil e do poder público cravaram,
ontem, na areia da Praia de Iracema 315 cruzes, em referência ao número
de mulheres assassinadas no Ceará até o dia 8 de setembro deste ano.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social
(SSPDS), até o dia 12 de setembro de 2018, foram registrados 321
homicídios à mulheres no Estado. Um aumento de 60%, se comparado a 2017,
quando no mesmo período, 197 mulheres foram assassinadas.
O dado questiona sobre o que fez crescer a violência, como evitar,
punir os agressores, e proteger as mulheres da violência que avança. "A
mulher que morre vítima de violência letal, muitas vezes já sofreu com
violência de gênero (psicológica, patrimonial, física)", alerta a
psicóloga Daniele Negreiros, que compreende a morte feminina como um
"processo" entre a rua e o lar.
As manifestantes reivindicavam, sobretudo, a garantia do direito de
continuar vivas. Outras faziam ouvir vozes silenciadas pela violência,
como Maria Rosilene Brito. Uma das cruzes fincadas na areia representa a
filha dela, Stefhany Brito , de 22 anos, assassinada em 1º de janeiro
de 2018, pelo ex-namorado que não aceitava o término do relacionamento
abusivo. "Minha maior motivação (a participar do ato) foi pedir justiça
pela minha filha. E não só por ela, porque isso pode acontecer com
qualquer uma", explica a mãe, que ainda não viu o culpado do seu luto
preso.
Subnotificação
Entre os 321 homicídios a mulheres de 2018, apenas 15 foram registrados
pela SSPDS dentro da categoria de feminicídio - crime que tem como
principal característica o fato de a vítima ser mulher.
Para Daniele Negreiros, técnica do Comitê Cearense pela Prevenção de
Homicídios na Adolescência, "a subnotificação vem desse cenário onde o
ambiente doméstico é mais difícil de acessar". A especialista ainda
sugere que o fortalecimento de coletivos feministas possam contribuir
para o maior número de denúncias, uma vez que, em rede, as mulheres
podem se sentir mais seguras"
Prevenção
A integrante do Fórum Cearense de Mulheres afirma que os movimentos
sociais propõem medidas através da educação, e que uma das principais
reivindicações é a criação do Plano Estadual de Políticas Públicas. Além
disso, Beth Ferreira cobra o "Plano Emergencial de Enfrentamento à
Violência contra as Mulheres", prometido pelo Governo do Estado, mas que
ainda não saiu do papel.
A SSPDS esclarece que a maioria dos registros de morte de mulheres está
ligada ao tráfico de drogas, o latrocínio e disputa entre grupos
criminosos. Em relação ao enfrentamento, a pasta informou que "para
combater os crimes contra a vida, o Departamento de Homicídios e
Proteção à Pessoa (DHPP) teve o número de delegacias ampliado de cinco
para 11, em 2017". (Colaborou Samuel Pinusa)
(Diário do Nordeste)