Durante entrevista ao Jornal Nacional na semana passada, a candidata da
Rede, Marina Silva, estava
de visual novo. Em vez do tradicional coque
no cabelo, a presidenciável adotou um penteado mais ousado, produzido
pelo argentino Miguel Estelrich, reconhecido pelo trabalho em editoriais
de moda.
A mudança marcou uma guinada na estratégia de comunicação da campanha da
ex-senadora. Convencida pelas filhas e pelo marqueteiro Lourenço
Bustani, Marina ousou no estilo, mas sua transformação vai além da
imagem. O discurso da candidata, alvo de uma campanha de desconstrução
articulada pelo PT na disputa de 2014, também está em mutação.
O principal “mito” a ser desconstruído, diz Bustani, é o de que Marina é
frágil. Daí a opção pelo visual mais produzido e o discurso forte
exibido no primeiro programa de campanha da candidata na TV, quando
surgiu na tela com um recado direto ao eleitorado feminino, que
representa 52% dos brasileiros que irão às urnas em outubro.
“Eu quero falar com você, mulher. Alguma vez já te chamaram de fraca, de
incapaz? Eu sei como é. Juntas, nós somos fortes. Eu vou trabalhar
todos os dias para que ninguém diga que você não pode. Você pode sim.
Essa luta é nossa”, disse Marina na ocasião.
Na última pesquisa Ibope, a candidata da Rede aparece em segundo lugar —
atrás de Jair Bolsonaro (PSL), que tem 20% —, com 12% dos votos no
cenário sem o ex-presidente Lula, declarado inelegível pelo Tribunal
Superior Eleitoral na semana passada. Ela tem uma das menores taxas de
rejeição entre as mulheres, 23%.
A estratégia começou a ser pensada bem antes do horário eleitoral. Nas
agendas de campanha, a candidata também tem se imposto com mais
veemência, como no episódio em que confrontou Bolsonaro no debate da
Rede TV!, há duas semanas.
“Percebo que já mudou no Brasil a forma como a população olha para a
Marina. Muita gente tende a dizer: essa é a Marina que vai aparecer
agora? Não, essa é a Marina que sempre apareceu”, diz Bustani.
Para o marqueteiro, a possibilidade de Marina voltar a ser alvo de
desconstrução não deve impactar a candidata como aconteceu em 2014. “Com
tudo que aconteceu em 2014, Marina aprendeu a navegar nesse universo.
Ela está mais calejada e sabe muito bem onde está pisando. Todo nosso
foco está no nosso programa e toda nossa energia está na construção, sem
se preocupar quem está puxando o tapete ou dando rasteira”, diz
Bustani.
Cofundador da Mandalah, empresa de consultoria de inovação, Bustani se
afastou da empresa e trabalha como voluntário para Marina. Junto a um
grupo de colaboradores, será um dos responsáveis por reposicionar a
imagem da candidata da Rede.
“Há um processo para deixar Marina à vontade, a ponto de se aventurar um
pouquinho nos looks. Temos uma preocupação de deixar a Marina se
sentindo bem, confiante e confortável para essas aparições públicas. Se
está se sentindo bem, vai alcançar a melhor performance”, avaliou
Bustani.
O conteúdo de comunicação da campanha de Marina é produzido por um grupo
de 20 pessoas, entre elas o cineasta Fernando Meirelles.
Ceará Agora