Pouco menos de duas horas após
Jair Bolsonaro
(PSL) ter se tornado presidente do Brasil, o segundo colocado na eleição,
Fernando Haddad
(PT), fez um discurso no qual disse que ele não desistirá de defender
seus ideais, lutará para manter as instituições e se reconectará com as
bases e os pobres do país. A fala de Haddad, de voltar a se encontrar
com a população, veio após o rapper
Mano Brown
ter criticado
as falhas na comunicação com o "povão"
.
Antes mesmo de começar sua fala, o público fez um minuto de silêncio em
memória àqueles que morreram durante a campanha eleitoral, como o mestre
de capoeira baiano, conhecido como Moa do Katende e
morto com 12 facadas após discussão política
, e o cearense Charlione Lessa Albuquerque,
assassinado enquanto acompanhava uma carreata de apoiadores de Haddad
. A vereadora Marielle Franco também foi lembrada na homenagem.
Haddad iniciou seu pronunciamento agradecendo a família, os apoiadores e
todos os 45 milhões de eleitores. O petista reforçou o valor da
coragem, que aprendeu com seus antepassados e que o motiva a seguir na
luta política.
— Em primeiro lugar, gostaria de agradecer meus antepassados. Aprendi
com eles o valor da coragem para defender a justiça a qualquer preço.
Meus pais a memória dos meus avós me ensinaram que a coragem é
fundamental — relembrou Haddad.
O segundo colocado nas eleições presidenciais de 2018 pontuou que nos
últimos dias viu a festa da democracia tomar as ruas. Ele contou que viu
muitos apoiadores à sua candidatura, muitos nem sendo ligados a partido
político ou algum tipo de associação. Haddad pontuou, entretanto, que o
período pede conscientização porque, em sua avaliação, "tem muita coisa
em jogo".
Direitos básicos em jogo
Ele relembrou o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e a prisão do
ex-presidente Lula, episódio que ele classificou como injusto.
— Estamos vivendo um longo período no qual as instituições estão sendo
colocadas à prova a todo o instante. A começar em 2016, com o
afastamento de Dilma, depois com a prisão injusta do presidente Lula.
Mesmo assim, seguimos de cabeça erguida, com determinação e coragem,
para levar nossa mensagem aos rincões do país — exclamou o candidato.
Ele foi além, e pontuou que direitos básicos, como civis, políticos e
sociais estão em jogo. Haddad explicou que, a partir de agora, ele e os
seus apoiadores têm uma tarefa muito maior.
— Em nome da democracia, temos de defender o pensamento e a liberdade
dos 45 milhões que nos acompanharam. Temos a responsabilidade de fazer
oposição e de colocar o povo brasileiro acima de tudo — bradou Haddad,
que em momento algum citou o nome do opositor Bolsonaro.
Relembrando um trecho do hino nacional, o ex-prefeito de São Paulo deu
uma indicação de como será sua atuação a partir do próximo ano.
— Verás que um professor não foge à luta — cantou Haddad. — Vamos
continuar nossa caminhada, conversando e nos reconectando com a nossa
base, com os pobres desse país, para tecer novamente um programa de
nação que há de sensibilizar esse país.
O petista, ao fim de sua fala, pediu que a população não tenha medo.
— Senti uma angústia e um medo na expressão de muitas pessoas, que
ficaram abaladas de tanto chorar. Não tenham medo, estaremos aqui. Não
abandonaremos a causa de vocês — finalizou Haddad.
Agência O Globo