"Se for ter outro filho, não consigo manter o
padrão de sustento. Para conseguir continuar trabalhando, preciso de uma
retaguarda. E o custo é alto", diz a gerente de unidade de negócios
Ariane Mayer, de 35 anos, mãe de um filho só. Aos quase 10 meses, Theo
ainda não sabe, mas será filho único. A decisão segue uma tendência brasileira das últimas décadas: as mulheres têm cada vez menos filhos.
Lançado globalmente nesta quarta-feira (17), o relatório Situação da População Mundial, do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa-ONU), mostra que a família brasileira tem uma média de 1,7 filho
- na década de 1960, essa média era de 6 filhos. A taxa de fecundidade
no Brasil é inferior à média da América Latina (2) e do mundo (2,5).
O estudo revela que o Brasil tem o menor índice de fecundidade
na comparação com outros 11 países da região da América Latina e Caribe
(República Dominicana, Costa Rica, El Salvador, México, Nicarágua,
Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Uruguai e Venezuela). A brasileira se
torna mãe em média aos 26,4 anos.
Entre os três países com menor taxa de fecundidade, Chile e El
Salvador empatam com 1,76 filho. A tendência deve se manter até 2020.
"Essa taxa coloca o Brasil abaixo da taxa de reposição, que é de 2,1
filhos por mulher. Ou seja, a população deve decrescer", explica Jaime Nadal, representante da Unfpa.
De acordo com ele, a expectativa é de um processo de envelhecimento da população
"maior e mais acelerado". "Hoje não só as pessoas têm menos filhos,
como vivem mais", afirma. Ele nota no Brasil dois cenários: casais e
mulheres que estão fazendo a escolha de ter número de filhos abaixo do
que gostariam de ter - por incapacidade de conciliar vida profissional e
pessoal, por exemplo - e ainda mulheres que não podem fazer essa
escolha porque não têm acesso a serviços de saúde pública e métodos
contraceptivos para evitar a gravidez.
Nadal destaca que as mulheres com zero a 4 anos de estudo têm uma média de 2,9 filhos. As que possuem 12 ou mais anos de estudo não ultrapassam a taxa de 1,2 filho.
Para ele, o maior desafio do poder público é dar às mulheres de todas
as regiões, faixas de renda e escolaridade "o poder da escolha". "Têm
muito a ver com o direito de meninas e mulheres de completarem o ciclo
educativo, viverem sem violência e respeitadas."
Um filho
Ariane planejava ter um filho aos 35 anos. E teve Theo. Mesmo assim,
foi um susto. "Não tive cabeça formada para ser mãe. Fui educada para
ser independente, não depender de marido e ter a minha vida
profissional", conta.
Segundo ela, ao chegar aos 35, viu-se em um momento de definição.
"Nessa fase, somos pressionados. E às vezes você está no auge da
carreira profissional." Para conciliar a vida profissional e pessoal, a
gerente de unidade de negócios colocou o filho em período integral em
uma escolinha. "Cuido o máximo que posso, mas também não com extremo.
Lidando desse jeito, já sobrecarrega. Você precisa abrir mão da sua
liberdade."
Além disso, ela destaca o custo de manter um filho como impedimento principal para outra gravidez.
Três filhos
Já a analista de testes Danielly Jansen, de 32 anos, acabou
engravidando três vezes: de Sophie, de 7 anos; Thales, de 3; e Benício,
de 1 ano e 5 meses. "O Thales e o Benício nasceram de susto. Não tinha
planejado." E não foram gestações fáceis. Na gravidez da filha, Danielly
teve descolamento de placenta e não podia se locomover. Precisou deixar
o trabalho e largar os estudos. Depois engravidou de Thales. Teve
depressão durante toda a gravidez. Em seguida, teve o terceiro filho:
Benício. "Minhas amigas dizem que sou guerreira e corajosa por ter três
filhos."