De forma semelhante ao acordo de paz firmado entre facções criminosas
em 2016, a onda de ataques às cidades cearenses, também deflagrada por
essas organizações, voltou a influenciar as estatísticas de homicídios
no Estado. A trégua na disputa por territórios, que passou a 'vigorar'
durante o atual ciclo de atentados, iniciado no último dia 2, é um dos
fatores considerados para a redução de 56% nos assassinatos deste
janeiro.
Entre
os dias 1º e 13, foram 108 homicídios no Estado. No mesmo intervalo de
2018, foram 243 mortes. A média diária caiu de 19 para 8. Já em
comparação com dezembro de 2018, no mesmo período de dias, a queda foi
de 23%. No mês passado, foram 141 assassinatos. Houve, em média, 18
ocorrências por dia.
As informações de janeiro vigente
foram obtidas junto a fontes da Secretaria da Segurança Pública e Defesa
Social (SSPDS). Os números podem sofrer leves alterações futuras, para
mais ou para menos, pois não estão consolidados e não há confirmação de
que foram retiradas as mortes por intervenção policial, que possuem
excludente de ilicitude e não integram as estatísticas dos meses
anteriores. Já os dados de 2018 estão publicados no site da pasta.
Ouvidas
pelo O POVO na condição de anonimato, fontes ligadas à cúpula da
Segurança reconhecem, e especialistas concordam, que os acertos estão
influenciando nas estatísticas. Há, contudo, diferenças de finalidade.
Em
2016, quando houve redução de 15,2% nos homicídios com relação a 2015,
com queda de 4.019 para 3.407 mortes, os objetivos eram
"mercadológicos", voltados para o tráfico de drogas. Chamado de
"pacificação", o pacto de não agressão permitia, por exemplo, a livre
circulação de moradores entre bairros que antes eram considerados
rivais.
Desta vez, houve uma trégua na guerra entre
facções. Os ataques mútuos cessaram para que o enfrentamento ao Estado
fosse priorizado, mas o predomínio e controle dos territórios, bem como
as regras e restrições, permanecem.
"Qual intervenção está
ocorrendo nas comunidades, além do aumento da presença policial? É só
Polícia, muita saturação. Os criminosos sabem que correm risco. Quem vai
ficar na rua contra o Estado armado? Ninguém. Eles entendem isso e
recuam. Há uma trégua, mas não acordo de paz", detalha uma das pessoas
ouvidas pelo O POVO.
Até o fim da semana, cerca de 850
homens da Força Nacional, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal,
além de militares de outros estados, reforçarão a segurança no Ceará.
São equipes táticas que atuam em escalas alongadas, em regime
diferenciado, aumentando a presença policial nas ruas, com o objetivo de
coibir novos ataques e elevar a sensação de segurança.
"As
facções estão se unindo, em determinado sentido, contra o Estado. E por
isso elas param de se matar. Isso prova que é muito complicado o Estado
intervir quando eles estão se matando entre si. A situação é complexa",
admite outra fonte.
Um terceiro especialista alerta para o
risco de novo conflito, assim como houve em 2017, caso a situação seja
estabilizada dentro das pretensões do Governo. Neste cenário, os
territórios nas comunidades se tornarão ainda mais valiosos diante da
perda do controle no interior dos presídios, que também funcionam como
formas de arregimentar novos membros pelas organizações criminosas.
Prisões
As
ações de policiamento ostensivo e investigações da Polícia Civil,
durante o atual ciclo de ataques, já levaram à prisão ou apreensão um
total de 375 pessoas, até a tarde de ontem.
Medidas
Nos
próximos dias, a expectativa é de aumento ainda mais significativo das
forças policiais nas ruas, para além dos reforços externos, pois já
estão em vigor as leis anunciadas pelo governador Camilo Santana (PT)
que têm exatamente este objetivo.
O pacote de medidas de
enfrentamento à violência e combate ao crime organizado, sancionado no
último domingo, foi publicado no Diário Oficial do Estado e inclui a
convocação de policiais militares e bombeiros militares que estão na
reserva para auxílio à tropa em operação.
Também está
previsto o aumento da quantidade de horas extras, de 48 horas para 84
horas mensais, que podem ser pagas a todos os policiais civis e
militares, além dos bombeiros e agentes penitenciários, aumentando da
força de trabalho do Estado.
(O Povo)