A busca por oportunidades de vida melhores, com a
possibilidade de estudar e garantir um emprego, ou mesmo a simples e
pura vontade de sobreviver são os principais motivadores que levam
alguém a deixar seu país de origem. Maomede Lamine Queipa (34 anos)
apostou neste impulso e sentiu o carinho e o acolhimento cearenses
quando ainda estava na Guiné Bissau, onde nasceu.
Ele perdeu o pai aos 15 anos, durante a guerra civil de seu país.
"Depois disso, um missionário cearense que tinha chegado, na minha
cidade, poucos anos antes, para fazer um trabalho socioeducativo me
chamou para ir morar com ele e ajudá-lo", relembra.
Ajudar a cuidar da casa e da escola foi o primeiro emprego oficial
dele, que já ajudava os pais na plantação de amendoim e arroz, além do
pequeno comércio que ajudava a sustentar a família.
"Fui secretário do colégio e dei aula para as crianças menores, mas
nada formalizado", conta. Lamine é um dos guineenses que têm mudado para
o Ceará a cada ano. Entre as inúmeras dificuldades inerentes ao
processo de migração, a busca por uma colocação no mercado de trabalho é
uma das que mais desanimam. "Tentei emprego até de lavador de pratos,
mas não consegui de imediato".
No Ceará desde 2011, Lamine está na mesma empresa há cinco anos, mas
ainda sem carteira assinada. "Eu vim para estudar. Me formei em técnico
de enfermagem, mas só consegui emprego através de indicação de uma
professora, porque sempre pediam experiência".
Formalização
A procura pela formalização por parte dos estrangeiros residentes no
Estado significou, somente em 2018, a emissão de 833 Carteiras de
Trabalho e Previdência Social (CTPS) para não-brasileiros - o maior
volume entre os estados do Nordeste. A maioria dos solicitantes vem de
Guiné Bissau (294) e Cuba (103).
De acordo com Fabio Zech, superintendente regional do trabalho, a
procura pela Carteira de Trabalho tem apresentado alta considerável, mas
ainda de forma sazonal. "Por exemplo, há seis anos, nós tivemos um
número atípico de carteiras emitidas, porque estava na época da
implantação da Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP). A siderúrgica tem
como sócias duas empresas sul-coreanas que trouxeram mais de 5 mil
coreanos para trabalhar no projeto".
Zech explica que para dar entrada no pedido é preciso fazer um agendamento pela internet e levar a documentação indicada na plataforma. O superintendente ressalta também que, para realizar a solicitação, é preciso cumprir alguns requisitos, "mas nada que impossibilite ou dificulte o processo, não são exigências excessivas".
No entanto, Maomede Lamine relata que, ao tentar solicitar o
documento pela primeira vez, alegaram que era preciso que ele fosse
casado com uma brasileira ou tivesse algum filho nascido no Brasil.
"Somente após o nascimento do meu filho, há dois anos, consegui tirar a
minha carteira", observa.
Qualificação
Além de técnico em enfermagem, Maomede também é qualificado como
auxiliar de odontologia e iniciou curso de técnico em radiologia, mas
não conseguiu concluir com a chegada do filho.
"Aqui (no Brasil) tem mais facilidades para estudar e trabalhar do
que em Guiné Bissau. Só não consegue quem não quer. Lá, os salários
atrasam por vários meses e você só ganha o suficiente para sobreviver".
Apesar disso, o guineense lamenta que, como muitos cearenses natos, o
salário atual dele não é suficiente para pagar todas as contas.
"Recebo ajuda de amigos, da família da minha esposa e da família do
missionário que me ajudou a vir para cá. Estou até procurando um segundo
emprego, porque não está sendo suficiente", revela.
Um dos recursos disponíveis para complementar a capacitação dos
trabalhadores tanto estrangeiros quanto brasileiros em busca de uma
recolocação é o portal Escola do Trabalhador, que oferece mais de 25
cursos online e gratuitos com certificação emitida pela Universidade de
Brasília (UnB).
Da mesma forma que os brasileiros, os imigrantes também podem buscar
as unidades do Sistema Nacional de Emprego do Instituto de
Desenvolvimento do Trabalho (Sine/IDT) para cadastrar currículo na base
de dados e serem encaminhados para processos seletivos de vagas em
aberto.
Rubens Braga, coordenador de intermediação de profissionais da
entidade, revela que foram atendidos 273 estrangeiros em 2018. "Destes,
199 foram encaminhados para seleções e 19 foram alocados nas vagas".
Conforme Rubens, a procura por atendimento ainda é baixa "porque
muitos já vêm com um emprego certo, direcionado, e outros ficam
trabalhando na informalidade", esclarece.
(Diário do Nordeste)