Um homem comum, 28 anos, nascido na Austrália em uma família de classe
trabalhadora e de baixo salário. Assim se definiu o atirador do massacre
nas mesquitas em Christchurch, Brenton Tarrant, em um manifesto de 73
páginas escrito em inglês precário, recheado de links da Wikipedia e
publicado em uma conta no Twitter atribuída a ele.
No arquivo, intitulado "The Great Replacement" (A grande substituição),
Brenton explica os motivos e as influências que o levaram a cometer os
ataques ontem, que deixaram 49 mortos na Nova Zelândia. Há inclusive uma
menção ao Brasil no documento.
O título do manifesto é uma clara referência ao livro publicado em 2012
pelo polemista francês Renaud Camus. Na obra, Camus discorre sobre a
"teoria" de que a maioria branca europeia está em curso de substituição
por imigrantes não brancos da África do Norte e da África subsaariana,
muitos dos quais indivíduos muçulmanos.
Em linhas gerais, o australiano se posiciona como um nacionalista
branco, contra a diversidade racial, apoiador do americano Donald Trump e
do Brexit - mas não da Frente Nacional Francesa - e inspirado, entre
outros, pelo atirador da Noruega Anders Breivik, cujos ataques em 2011
vitimaram 77 pessoas.
O Brasil aparece em uma seção intitulada "Diversidade é Fraqueza", no
qual Terrant diz que os países "diversos" ao redor do mundo são locais
de "conflito social, político, religioso e ético".
"O Brasil, com toda a sua diversidade racial, está completamente
fraturado como nação, onde as pessoas não se dão umas com as outras e se
separam e se segregam sempre que possível", escreve.
O atirador faz questão de deixar claro que seus pais são de origem
escocesa, irlandesa e inglesa, e que "diariamente, nós nos tornamos
menos numerosos" em razão de taxas de natalidade decrescente. A
imigração em massa "a convite do Estado" e as "altas taxas de
fertilidade dos imigrantes", segundo ele, terminariam por gerar uma
"completa substituição racial e cultural dos povos europeus".
Ele justifica que houve um período de dois anos que "mudou
dramaticamente" sua visão e o incentivou a cometer os ataques desta
sexta-feira. O período citado por ele compreende o ataque terrorista em
Estocolmo, em abril de 2017, quando um imigrante do Uzbequistão, Rakhmat
Akilov, matou cinco pessoas quando atropelou pedestres com uma van em
uma movimentada rua de compras da cidade.
Uma das vítimas do ataque foi uma jovem de 11 anos, Ebba Akerlund,
citada nominalmente no manifesto. O ataque às mesquitas na Nova Zelândia
seria para vingar a perda da vida da garota, "morta nas mãos de
invasores".
Sem pedido de fiança
Algemado e vestido com uma camiseta de presidiário, o autor do ataque
foi levado a um tribunal, ouviu impassível as acusações contra ele, não
solicitou fiança e permanecerá na prisão até a próxima audiência, no dia
5 de abril
Transmissão ao vivo
Um vídeo do massacre foi bloqueado pelo Facebook durante sua transmissão
ao vivo, mas foi compartilhado em outras redes sociais, evidenciando os
desafios das plataformas de internet para conter conteúdos violentos
UOL