A cautela tem pautado a investigação preliminar em torno de duas
denúncias de supostos planos de ataques a duas escolas públicas no
Ceará. Tão logo se confirmou a existência de um boletim de ocorrência
feito em Fortaleza e a troca de mensagens entre um jovem e um
adolescente no município de Frecheirinha, na região Norte do Estado, uma
promotora e um promotor de Justiça, um delegado, policiais militares e
pelo menos um deputado estadual trataram cercar os indícios de ameaças e
agiram preventivamente.
A primeira preocupação, de acordo com uma fonte ouvida pelo O POVO que
pediu para não ser identificada, era não gerar pânico entre estudantes,
familiares e funcionários de escolas, tanto públicas quanto privadas. E
nem contribuir com um suposto efeito dominó a partir da tragédia de
Suzano, em São Paulo. Na última terça-feira, um jovem e um adolescente
mataram sete alunos e duas funcionárias da escola estadual Professor
Raul Brasil e, depois, se suicidaram. Antes, um deles já havia matado o
tio em uma concessionária de veículos.
Em Frecheirinha, uma promotora de Justiça recebeu a informação de que
dois homens, por coincidência um jovem de 25 anos e um adolescente,
estariam combinando pelo Facebook um atentado a uma escola da rede
estadual. A conversa acabou sendo copiada por outros internautas e
enviada para autoridades do município.
A princípio, os diálogos nas redes sociais poderiam ser apenas
“brincadeira de mau gosto” entre um estudante (o adolescente) e o adulto
– que é ex-aluno da escola provável alvo da ação. Mas, para se
antecipar a possibilidade de tragédia, a promotora de Justiça Emmanuela
Braga, da comarca de Frecheirinha, decidiu se comunicar com o promotor
André Clark – diretor do Centro de Apoio Operacional Criminal do
Ministério Público (Caocrim), em Fortaleza.
Na capital, decidiram pedir à Justiça a autorização para se cumprirem
dois mandados de busca e apreensão na casa dos suspeitos. Além disso, o
Caocrim notificou os pais do ex-aluno e do estudante a comparecerem ao
Ministério Público.
Os mandados foram liberados e os dois rapazes levados para delegacia do
município. Surpresos, os pais dos dois acompanharam a busca e apreensão.
O jovem foi preso por acusação de planejamento do ataque, mas a Justiça
mandou soltá-lo no final da tarde de ontem. Notícia que não agradou a
promotora de justiça. O adolescente foi liberado por falta de evidências
da intenção de fazer parte do atentado, mas será acompanhado segundo O
POVO apurou.
A promotora Emmanuela Braga pedirá, esta semana, que a Secretaria da
Saúde do Município e equipamentos que trabalham com acolhimento de
crianças e adolescentes façam o acompanhamento psicológico e social dos
dois suspeitos.
A ideia também, reforçou outra fonte ouvida pelo O POVO, além de
investigar criminalmente o que poderia dar numa catástrofe, é desmotivar
qualquer possibilidade de atitudes que levem ao que aconteceu em
Suzano. E, ainda, estudar estratégias para que as escolas reforcem ações
para evitar a possibilidades de violência e bullying no ambiente
escolar.
Além da investigação de Frecheirinha, outro episódio foi registrado no
Ceará. Em Fortaleza, um boletim de ocorrência a que O POVO teve acesso,
dá conta de que alguém, com um perfil anônimo no Facebook, ameaça
promover uma chacina numa escola pública estadual. A denúncia chegou ao
diretor do colégio por estudantes e pais de alunos. O Caocrim também
acompanhará os desdobramentos da apuração.
Os dois casos, de Freicherinha e Fortaleza, não têm relação um com o outro.
Jovem diz que diálogos eram um “teste social”
O jovem que enviou as mensagens planejando um suposto ataque a uma
escola pública em Frecheirinha (a 386 km de Fortaleza), afirmou que a
história não passava de um “teste social”. Em um áudio de WhatsApp, a
que O POVO teve acesso, o ex-estudante da escola pede a um amigo que o
ajude a desfazer a suposta confusão iniciada por ele no Facebook.
“Mano, se tu puder me fazer um favor… Pegar o contato de um WhatsApp de
alguém da Polícia pra eu explicar isso… Esse pessoal querem fazer uma
baderna monstra pra nada. Eu não fiz nada, era apenas um teste social”.
Segundo um policial, ouvido pelo O POVO, teria sido um mal-entendido e
alguém acabou separando trechos em que o ex e um atual aluno da escola
“estavam falando besteira nas redes sociais”.
“Velho, não sei nem o que falar que tipo de pessoas são essas aí (quem
passou as denúncias para a Polícia e para o Ministério Público). Eu fiz,
não estou mais fazendo, um teste social. Pra ver o que as pessoas estão
fazendo. Porque todo mundo tá julgando o menino lá (um dos assassinos
da escola em São Paulo)… Falando: Desgraçado! Que monstros! Porque
fizeram aquilo na escola”, diz o áudio.
De acordo com o jovem, ao escrever no Facebook que tinha um plano para
matar estudantes de um colégio em Frecheirinha, ele queria saber
“quantas pessoas sofrem bullying na escola” e qual seria a reação diante
de uma suposta ameaça.
“Não tem nada a ver com governo que tá liberando arma, com Bolsonaro.
Não tem nada a ver com jogo (as causas do atentado em São Paulo). Eu
conversei com o (adolescente) e postei nos stories. Queria ver o que
esse pessoal ia falar. Se iam levar na brincadeira; se iam levar a
sério; se vinham falar comigo; se iam julgar ou me ajudar…”.
Para o rapaz de 25 anos, que foi alvo de prisão após as postagens e
denúncias feita por internautas, os dois autores da tragédia em Suzano
(SP) mataram as oito pessoas no ambiente escolar porque tinham problemas
psicológicos e precisavam de ajuda, não de mais problemas. “Só fiz um
teste social, nada na maldade. Até já retirei dos meus status. Disse que
era um teste, mas ninguém se ligou nisso. Todo mundo printou a parte
que eu falava de atentado. O pessoal é hipócrita, não tem atentado nem
porra nenhuma, nada a ver”, se justificou o jovem que foi preso e, no
final da tarde de ontem, libertado pela Justiça.
O POVO



