A mais recente campanha eleitoral no Brasil ainda
está viva na memória do especialista em Teoria da Comunicação e da
Imagem Caio Cysne. Os ânimos acirrados entre os lados eclodiram para uma
disputa polarizada e uma onda de disseminação de fake news por meio das redes sociais, sobretudo pelo WhatsApp.
"Na época das eleições, o compartilhamento de notícias falsas foi muito
intenso, principalmente em grupos de família e de faculdade", recorda
ele, que utiliza a rede social diariamente para fins pessoais e
profissionais.
A tática para espalhar uma informação tendenciosa dentro
do aplicativo e atingir um grande número de pessoas em um curto espaço
de tempo não é nova nem foi criada no Brasil. Em 2016, a eleição de
Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos foi envolta de
suspeitas de ataques cibernéticos em softwares de mensagens e acendeu a
luz vermelha para o público e os executivos do aplicativo.
Desde então, uma série de melhorias tem sido estudada e desenvolvida pela empresa de Mark Zuckerberg para tentar barrar o avanço da desinformação.
Nesta semana, foi revelado que está em teste um novo recurso para que os usuários possam certificar se uma imagem compartilhada é real ou fake.
A promessa é que cada foto recebida de um contato já surja na
conversa acompanhada de um botão que, com apenas um toque, a envie ao
Google para comprovar a veracidade dela, segundo adiantou o site
WABetaInfo. O recurso foi descoberto na versão beta mais recente do
WhatsApp para o sistema operacional Android.
A ferramenta do maior buscador do mundo compara pontos semelhantes da figura
com imagens publicadas em toda a internet. Com isso, pode-se descobrir
se o arquivo recebido é real, se passou por uma edição ou até mesmo se
foi descontextualizado.
"Eu acho uma solução bastante interessante. Minha dúvida nem é se
funcionará ou não. Mas se as pessoas questionarão a veracidade da função
caso ela contrarie suas crenças", problematiza Caio Cysne.
Sites especializados também suscitam outro ponto, apesar de
confirmarem a ferramenta como algo útil. O questionamento crucial é se
os usuários conseguirão encontrar as adulterações e se terão
entendimento para reconhecer o contexto.
"Como toda novidade tecnológica precisa de um tempo de adaptação,
outra questão é saber como funcionará esse 'botão', que pode ser um
recurso que apresente instabilidades no início e cause desinteresse nos
usuários", pontua ainda Cysne.
Já a arquiteta Rafaela Gomes vê com bons olhos a novidade, que
definiu como necessária e urgente. "Eu recebo notícias falsas
praticamente todos os dias. Tem dias que ignoro, em outros, se o assunto
me interessa, vou a mídias tradicionais para conferir se é verdade. Já
tem tanto tempo que estamos expostos a essas fraudes digitais, que isso
já tá surgindo é com atraso", expressou.
Três em um
Também neste mês, Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, declarou que as mensagens trocadas por meio dos aplicativos WhatsApp, Instagram e Messenger serão integradas em um único canal de comunicação.
As contas de cada rede social poderão continuar separadas, de acordo com Zuckerberg, e a confluência deve abranger também para SMS, em um segundo momento.
A medida adotada tem o objetivo de reforçar a privacidade,
segundo o criador do Facebook. "Acredito que uma plataforma de
comunicações com foco em privacidade se tornará mais importante do que
as plataformas abertas de hoje", sinalizou em um texto publicado na rede
social.
A incorporação do Messenger, WhatsApp e Direct do Instagram deve ser
semelhante ao WeChat, aplicativo criado pelo governo chinês e que
funciona apenas no País. O software agrupa vários serviços, além de
reunir fontes de monetização: desde comunicação entre pessoas até
alimentação.
Segundo especialistas, esse é o motivo principal para a mudança, pois
a compra do WhatsApp - US$ 22 bilhões em 2014 - foi muito cara e ainda
não gerou retorno financeiro.
O novo modo de interação deve fortalecer a criptografia, interoperabilidade e um armazenamento seguro, garante Zuckerberg ao assegurar que os dados confidenciais dos internautas não serão guardados pela empresa.
"No início, vou estranhar muito porque já sou acostumada a usar os
três aplicativos. E fico em dúvida sobre como se dará na prática. Por
exemplo, tenho contatos no Facebook, que são mais profissionais, mas não
tenho no Instagram, que uso apenas para amigos e familiares. Com a
integração de todos os bates-papos, como isso vai acontecer?", pergunta
Rafaela. A questão levantada pela arquiteta ainda não foi esclarecida
pela empresa do Vale do Silício.
Apesar disso, a jovem constata um benefício de imediato com a
implantação. "Pelo menos deve diminuir o espaço que os três aplicativos
ocupam na memória do celular, eu espero".
"Acredito que a decisão tomada por Zuckberg seja de otimizar a vida
dos usuários e concentrar as informações destes num único local.
Pessoalmente, não gostei da junção, porque uso os três aplicativos de
forma distintas tanto para trabalho, lazer e assuntos pessoais. Penso
que no início será bem conflituoso, porém meu receio maior é
concentração de dados que acredito que Zuckberg deseja fazer. Num caso
de vazamento de dados, todas as minhas conversas estariam expostas. É
algo que devemos ficar atentos", defende Caio Cysne.
A união dos aplicativos ainda não há data prevista para acontecer.
Diário do Nordeste



