Um novo gênero de perereca fóssil, com cerca de 110 milhões de anos,
foi descoberto em Nova Olinda, na Bacia do Araripe. Batizado
de Cratopipa Novaolindesis, ele foi encontrado em 2017 na Formação
Santana, membro Crato, e pertenceu ao período Cretáceo. Sua descrição
foi publicada no último dia 15, na revista ScienceDirect.
A pesquisa foi coordenada pelo Instituto de Geociências da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que trabalha na região
desde a década de 1960.
A nova espécime consiste de um esqueleto quase completo, com parte da
pele e dos músculos ainda preservados, que mostra várias semelhanças
anatômicas com outros fósseis da América do Sul. O animal habitava a
água doce e não possuía língua. “A primeira questão que nos chama
atenção é que ela é de um grupo muito semelhante com as pererecas
atuais. Este fóssil é quase que um ancestral”, explica o professor Ismar
Carvalho, que coordenou a pesquisa.
A nova análise filogenética reforça hipóteses biogeográficas
anteriores que sustentam a dispersão do gênero Pipimorpha entre a África
e a América do Sul através de uma cadeia insular ou ponte continental
através do Oceano Atlântico. Além disso, como habitava água doce, a
existência do Cratopipa Novaolindesis indica que em determinados
momentos houve grande incidência de água doce e a presença de uma boa
quantidade de chuvas na Região.
“Naquele período, começa o rompimento da América do Sul com a África.
Nesse momento, há muitos eventos de extinção, em que novos espaços
ecológicos estão surgindo. Isso torna o Araripe muito importante. Ele
acaba marcando esse momento de transformação na Terra. Vão surgindo
novas espécimes”, explica o pesquisador.
Ismar acredita que a Bacia Sedimentar do Araripe faz um registro do
momento de grandes transformações no clima, na fauna e na flora do
Planeta. “Se quer conhecer esse mundo, a gente tem que ter um olhar nas
rochas que se encontra no Araripe”, reforça.
Outro aspecto destacado pelo pesquisador é a preservação dos fósseis.
“Você dificilmente encontra um animal e uma planta por completo. O
animal não sofreu apodrecimento. A análise que a gente faz é que a
matéria orgânica conseguiu preservar. A gente ainda tem resquícios da
pele e músculos do animal. Isso mostra as condições que reinavam onde
esse organismo se fossilizou”, completa Ismar.
(Diário do Nordeste)