Raimundo Nonato tinha 40 anos e havia vendido sua van para trabalhar como motoristas de aplicativo particular
- Arquivo pessoa.
Natural de Guaraciaba do Norte, interior do Ceará, ele morava em apartamento próprio
em um dos prédios que caiu junto com a a esposa, Paloma Paes Leme, o
filho Rafael, 4 anos e outros três enteados: Lauane, Isaac e Pedro
Lucas. Este último, de 7 anos, foi achado sem vida junto ao corpo de Raimundo. Os outros enteados seguem desaparecidos, enquanto Rafael e Paloma foram resgatados com vida.
Em entrevista ao Sistema Verdes Mares, Ana Paula Pontes, sobrinha de Raimundo, criada lado a lado dele, relata os momentos de agonia vividos
pelos familiares de Guaraciaba, que chegaram a ter a notícia de que
estava tudo bem com ele. “No dia do desabamento a gente recebeu a
notícia e nossos parentes no Rio foram atrás de saber se estava tudo
bem. Depois do meio-dia (de sexta-feira) ficamos sabendo que ele era uma
das vítimas. De repente chegou a notícia de que ele estava bem”,
conta.
"Foi, e ainda é, um momento de dor, muito difícil, principalmente pra gente que tá longe"
Mas a alegria não durou por muito tempo, segundo conta Ana Paula. As informações estavam desencontradas. Havia outro Raimundo Nonato
entre os resgatados com vida, mas a família só descobriu depois que o
sobrenome não era o mesmo. “Meu primo foi então último lugar possível, o
Instituto Médico Legal (IML). Chegando lá ele passou os dados e nós
confirmamos que ele tinha mesmo morrido. Foi aquele desespero. Foi, e
ainda é, um momento de dor, muito difícil, principalmente pra gente que
tá longe”, conta a cearense.
Confirmada a morte, os esforços dos parentes se voltaram para tentar trazer o corpo de Raimundo para se enterrado em sua terra natal, para que familiares e amigos próximos pudessem dizer o último adeus. Mas, após impasses familiares, o corpo terá de ser enterrado no Rio de Janeiro, a pedido da esposa, Paloma.
“Já estava tudo pronto pro corpo vir pro Ceará. A gente já tinha
deixado tudo resolvido com a funerária e já tinha até a passagem do
traslado comprada pra hoje, mas a Paloma, que antes havia autorizado,
mudou de ideia. Minha vó (mãe de Raimundo Nonato), estava na maior
expectativa. A gente fica muito triste, mas tudo tem um motivo, né?”,
avalia Ana Paula.
O sonho que desmoronou junto com o prédio
Ao completar 18 anos, Raimundo Nonato foi “ganhar a vida” no Rio de
Janeiro. Sonhador e batalhador, ele trabalhou durante quase toda a sua
vida como motorista de van nas comunidades cariocas e viveu de aluguel.
No ano passado, com a intensa fiscalização da Prefeitura em cima dos
veículos, que já eram proibidos de levar passageiros, Nonato precisou se
virar. É o que relembra sua sobrinha, Ana Paula Pontes.
"Ele tava com essa realização da casa própria, né? Ele sempre sonhou em ter isso. E aí o sonho dele desmoronou junto com o apartamento"
Foi aí que ele vendeu a van e deu entrada em um apartamento próprio, e
ainda conseguiu comprar um carro para trabalhar como motorista de
aplicativo particular. Há cerca de quatro meses atrás, uma ligação para
Guaraciaba fez a felicidade da família dele. “Ele ligou pra minha vó
contando ‘mamãe, saí do aluguel. Comprei minha casinha e vou trabalhar
pra pagar’. Ele tava com essa realização da casa própria, né? Ele sempre
sonhou em ter isso. E aí o sonho dele desmoronou junto com o
apartamento”, desabafa.
De família grande, Raimundo contava com apoio de vários familiares
que também moravam no Rio de Janeiro. “Ele nunca esqueceu da gente. E a
gente vai sempre lembrar dele com felicidade, amor e carinho. Acho que o
mais bonito era ver o amor que ele tinha pela minha avó, a mãe de
criação dele. Ele vivia pela família e pelo trabalho”, relata Ana Paula.
Diário do Nordeste