Apesar deste abril ainda não ter encerrado, as chuvas no Ceará, de
janeiro até ontem, já chegaram à marca de 690,6 milímetros (mm), que
representa 13,4% acima do esperado para o período (608,8 mm), conforme
dados parciais da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme). Esse é o melhor resultado desde 2011, quando o acumulado nos
quatro primeiros meses do ano fechou em 735,8 mm. O pior resultado, a
partir daquele ano, é de 2013, quando a Funceme observou volume de 309,7
mm, um desvio negativo de 49,1% em relação à média histórica.
Considerando os 174,1 mm acumulados nos 25 dias de abril deste ano, o
acumulado está 7,4% abaixo da média histórica (188 mm) para o mês. A
marca, que ainda pode aumentar nestes cinco dias finais, é segunda
melhor anotação desde 2011 (196,9 mm), atrás do ano passado, quando
abril acumulou 26,5 mm – 15,2% acima do esperado.
”Uma característica das chuvas no Ceará é a alta variabilidade. Ela, de
um ano para outro, muda bastante e também de um mês para outro. Um mês
isoladamente não significa muito para caracterizar um período chuvoso. O
que importa é o ano como um todo. Este abril, provavelmente, vai ter
menos chuva que abril do ano passado. Mas, em compensação, março e
janeiro do ano passado choveram muito menos do que o deste ano”, avalia o
meteorologista da Funceme, David Ferran.
Entre as 7 horas de quarta e o mesmo horário de ontem, houve registro de
precipitações em 82 municípios, conforme balanço diário da Funceme. A
maior marca foi anotada em Acopiara (83 mm), seguida por Maranguape (75
mm) e Eusébio (72 mm). Na Capital, os postos Castelão, Messejana e Água
Fria registraram, respectivamente, 49,2 mm, 49 mm e 48 mm.
No comparativo à distribuição de chuvas nas oito macrorregiões do
Estado, duas ainda não atingiram o esperado: Cariri (638,5) e Sertão
Central e Inhamuns (496,5 mm), desvio padrão negativo, em ordem, de 8,8%
e 3,6%. Os melhores índices são observados no Litoral Norte (1.122,5
mm) e no Litoral de Fortaleza (1.075,1 mm), 46,2% e 44,5% acima da
média, respectivamente.
Ferran explica que o semiárido do Ceará é caracterizado por “uma grande
irregularidade das chuvas”. “De um ano para o outro, não chove igual.
Essa variabilidade natural sempre existiu. Esse ano teve mais chuva no
Norte e menos no Sul. Os modelos meteorológicos indicavam isso em
janeiro”, indica o meteorologista.
Entre as causas possíveis, Davi cita fatores relacionados às
temperaturas dos oceanos, como o El Niño no Oceano Pacífico e as águas
do Atlântico Sul de 1º a 2º centígrados acima do normal. Outro fator
possível é a formação de vórtices ciclônicos de alto nível na Bahia, que
consiste na circulação de ventos em cerca de 12 quilômetros de
altitude, onde no seu centro tende a ter uma inibição da chuva e nas
bordas um favorecimento.
“Esses sistemas costumam atuar durante uma semana mais ou menos. E nos
meses que choveu muito, ele atua bastante no sul do Ceará. Isso
possivelmente é uma causa das chuvas abaixo ou em torno da média naquela
região. Normalmente, o El Niño tende a diminuir as chuvas no Ceará em
março, abril e maio. Entretanto, essas águas mais quentes no Atlântico
Sul tende a favorecer. São duas forçantes”, acrescenta.
O POVO