A sensação alarmante de identificar no rosto ou nos movimentos de
alguém os sinais característicos de um Acidente Vascular Cerebral (AVC)
traduz, em parte, a urgência que caracteriza a doença. Para tratar, cada
minuto conta. A maior eficácia do atendimento ocorre quando o paciente
recebe os cuidados nas primeiras horas em que os sintomas são
identificados.
Classificado em dois tipos principais, o AVC pode ser isquêmico,
quando um coágulo entope uma artéria, ou hemorrágico, quando uma artéria
se rompe e forma o sangramento dentro do cérebro.
O neurologista Francisco Mont’Alverne, do Hospital Geral de Fortaleza
(HGF) e do Hospital São Mateus, explica que a primeira categoria é mais
frequente, tomando 80% dos casos registrados no Ceará. “Quando se
obstrui um vaso, à medida que o tempo passa, você tem a morte de 2
milhões de neurônios por minuto. Então, o principal objetivo é reabrir o
vaso”, esclarece Mont’Alverne. De acordo com o médico, no Ceará, uma
pessoa morre a cada hora em consequência de AVC.
Procedimentos
Para tratar AVCs isquêmicos, dois procedimentos surgiram nos últimos
20 anos: a aplicação de medicação trombolítica e a trombectomia. O
medicamento age dissolvendo o coágulo — chamado de trombo. Porém, se o
coágulo for grande, opta-se pela trombectomia, que consiste na inserção
de um cateter para desfazer o trombo.
“Esses dois tratamentos têm uma particularidade: eles só funcionam
nas primeiras horas após o surgimento dos sintomas. A medicação
injetável deve ser feita em até 4 horas e meia, e a trombectomia em até 6
horas”, ressalta João José Carvalho, também neurologista do HGF.
Segundo ele, há dois anos, neurologistas cearenses viram a necessidade
de compartilhar os conhecimentos sobre tratamentos de AVC e “criar um
fórum de discussão de alto nível” sobre o assunto. Assim, surgiu o
evento STAR Live (em inglês, Stroke Tutorial from Assessment to post
Reperfusion), que terá sua 2ª edição ocorrendo amanhã (12) e sábado
(13).
Durante o evento, será realizada uma simulação virtual da
trombectomia, feita com peças de silicone e exibida para os
participantes através de um telão, de acordo com Mont’Alverne. A
expectativa é que o evento se torne internacional no futuro.
“Vão estar reunidos 200 profissionais, e nós vamos ter 44 dos maiores
especialistas do País e mais quatro convidados estrangeiros, incluindo o
Dr. Raul Nogueira, cearense e professor universitário nos Estados
Unidos, que é possivelmente a maior autoridade mundial no tratamento do
AVC adulto”, explica João José Carvalho.
Ao longo de 10 anos, o HGF vem investindo em mudanças para melhorar o atendimento em sua Unidade de AVC. Segundo Carvalho, em 7 anos, o tempo que leva para um paciente ser atendido após chegar ao hospital diminuiu de mais de uma hora para uma média de 20 minutos.
A mortalidade por AVC também reduziu em 14% durante a última década,
assim como o número de pacientes com AVC na fila da UTI, que diminuiu em
30%. “Um AVC tratado corretamente não complica, e sem complicações, ele
não vai pra UTI. Essa diminuição significa a mesma coisa que construir
uma UTI de 15 leitos, só que sem o gasto”.
(Diário do Nordeste)