O vice-presidente do Brasil,
general Hamilton Mourão, defendeu que o governo tenha um trabalho
"persistente" na área social para resolver a criminalidade do País.
Caso contrário, disse Mourão, o governo vai "enxugar gelo", mesmo com
bons trabalhos na polícia. Ele ainda comparou as prisões a
"masmorras" e "colônias" do crime.
"Com as pessoas vivendo
amontoadas em favela, sem acesso a água, a luz, com o traficante colocando a
televisão a cabo para eles, nós não vamos resolver o problema. Temos de agir de
forma vigorosa na área social", afirmou Mourão, aplaudido pela plateia do
Brazil Conference, evento organizado pelos estudantes brasileiros das
universidades de Harvard e do MIT.
O enfoque social para resolução
dos problemas de segurança agradou à plateia em Harvard, mas segundo
especialistas não parece dar o tom da gestão. As políticas de segurança
apresentadas pelo governo Bolsonaro até o momento, por outro lado, têm se
voltado à repressão de crimes e à flexibilização do porte de arma.
Mourão disse que o sistema
prisional tem "masmorras" e, por isso as prisões não conseguem
atingir a finalidade esperada. "Como é que eu vou educar uma pessoa se
jogo em uma prisão que é uma masmorra, sem ter atividade laboral, sem ter progressão
educacional?", indagou, também sob aplausos. A fala aconteceu no momento
que foi questionado sobre as políticas repressivas na área da educação.
A comparação entre cadeias e
masmorras foi feita anteriormente em um governo petista. Em 2015, em lançamento
de dados sobre o sistema prisional, o então ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, afirmou que os presídios brasileiros eram "masmorras
medievais".
Neste domingo, antes do momento
das perguntas, contudo, no pronunciamento inicial, o atual vice-presidente
chegou a dizer que as prisões eram como "colônias de férias" do crime
organizado - uma expressão que ele não repetiu no momento de perguntas e
respostas.
Maioridade penal
Ele defendeu também a redução da
maioridade penal e o endurecimento da legislação quanto à progressão de penas.
"A nossa legislação penal, na minha visão e na visão do governo, é branda
ainda. Criminoso tem de cumprir seu tempo na cadeia", disse Mourão.
Clima
Apesar dos aplausos ao falar de
segurança, o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, acabou confrontado
verbalmente por estudantes de Harvard em outros temas. Ao sugerir que a
alteração no clima mundial poderia ser um fenômeno natural e cíclico, a plateia
de estudantes reagiu. "Não sabemos se é uma daquelas curvas senoides (ou
seja, apenas uma oscilação)", disse Mourão, quando foi interrompido por
gritos de "não" da plateia. "Ou se (a mudança climática) veio
para ficar", completou.
Durante a campanha eleitoral, o
presidente Jair Bolsonaro chegou a ameaçar retirar o Brasil do Acordo de Paris
e filhos do presidente já ironizaram nas redes sociais o aquecimento global.
Mourão, assim como Bolsonaro já fez, ressaltou que o País não deixará o acordo climático.
"Vamos nos sujeitar aos ditames ali colocados."
Outro tema tratado na Brazil
Conference foi o do desmate. Ele afirmou que o "arco do desmatamento"
chegou ao limite. "Temos de fazer todo esforço para parar por aqui e temos
de fazer todas as atividades necessárias para o reflorestamento. É dessa forma
que o presidente (Jair) Bolsonaro vê esse problema."
Por outro lado, Mourão defendeu
que os produtores rurais sejam levados em consideração no debate, pois
"são os principais interessados em preservar a terra que eles têm".
"Porque se elas forem atingidas em termos ambientais os agricultores
perderão a capacidade de produzir."



