Parte da Zona Norte do Ceará está em alerta. As fortes chuvas que se
concentram nessa região do Estado, desde o início da quadra chuvosa,
fizeram com que afluentes, barragens e açudes aumentassem
consideravelmente o nível das águas. Agora, o temor é pelo rompimento de
uma barragem que fica a 40 km de distância de Santana do Acaraú, no
Município de Morrinhos.
O açude Pilões, construído há 81 anos, esta na iminência atingir sua
cota máxima. A parede da barragem apresenta erosão e o sangradouro está
totalmente obstruído. De acordo com Wilson Maranhão, técnico da Defesa
Civil do Estado, "o risco [de rompimento] existe, é pertinente". Ele
sugere uma atenção especial com o reservatório que é particular e não
possui registros na Superintendência de Obras Hidráulicas (Sohidra) ou
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh). "Há um desgate da
parede", observou Maranhão.
Embora a barragem fique em Morrinhos, a cidade de Santana do Acaraú
seria a mais afetada com um eventual problema no açude por estar
geograficamente abaixo do reservatório. Em 2013, o Sindicato dos
Trabalhadores Rurais de Morrinhos elaborou um relatório mostrando os
problemas estruturais e sugerindo o imediato reparo do açude, que possui
relevância no abastecimento humano e também para a agricultura. De
acordo com o presidente do Sindicato Ivan Araújo, nenhum órgão emitiu
qualquer retorno.
A Defesa Civil do Estado foi acionada. Técnicos estão avaliando as
condições de todos os reservatórios, sejam eles particulares ou os que
são monitorados pela Cogerh. Conforme Maranhão, hoje (4), um
representante da Cogerh se junta à Defesa Civil, à Prefeitura de Santana
do Acaraú e ao proprietário do açude para uma nova avaliação da
barragem. A Prefeitura montou um gabinete de crise, e a Defesa Civil
está monitorando as áreas de risco.
Na zona urbana, mais transtorno. O nível do rio que corta o Município
aumentou e deixou pelo menos cinco bairros alagados. O Alto da Liberdade
foi o mais afetado. Residências foram inundadas durante a madrugada
dessa quarta-feira e cinco famílias tiveram que ser removidas de seus
imóveis. Elas foram abrigadas em uma escola pública.
As aulas em Santana foram suspensas até o fim desta semana. Como a
maioria das estradas do Município está danificada, a Prefeitura "adotou a
interrupção das aulas como medida de segurança, uma vez que a maior
parte dos estudantes se utiliza do transporte escolar". As aulas serão
repostas, garantiu a Secretaria de Segurança do Município.
Nos três primeiros dias de abril, as precipitações em Santana
representam mais da metade do esperado para todo o mês. Em março, a
Funceme observou 367,2mm para o Município, o que sinaliza 64% acima da
média histórica para o período, que é de 223,9 mm.
Granja
O Município de Granja é outro da Zona Norte que está sofrendo com os
robustos índices pluviométricos. O nível do Rio Coreaú subiu mais de
três metros, na tarde de ontem (3), e, caso atinja 4 metros, a barragem
Limão Brandão, que recebe essa água, irá transbordar. "Se isso
acontecer, casas de vários bairros serão alagadas. Os mais afetados
serão Barrocão e Lagoa Grande, e depois as águas vão inundar o Centro da
cidade", explicou o contador José Carlos Henrique.
O Rio Coreaú nasce na Serra da Ibiapaba e passa por nove municípios.
Neste percurso, ele abastece três reservatórios. Todos já estão
transbordando: o Gangorra, em Granja; o açude Angicos, em Coreaú, e o
Várzea da Volta, na cidade de Moraújo. Os três não atingiam, juntos, a
cota máxima há dez anos. Em 2009, partes das cidades de Ubajara,
Frecheirinha e Granja foram inundadas.
Este último município foi o mais afetado. À época, quase toda a cidade
ficou debaixo d'água e dezenas de famílias ilhadas. O agricultor Manoel
Santana recorda da noite de "pânico" que ele, e sua família viveram há
exatamente uma década. "Acordamos já com a água por toda a casa. Foi um
pânico geral, tivemos que deixar nossa casa e sair praticamente com a
roupa do corpo. Neste ano vou sair antes que torne acontecer".
Receosos de que este cenário se repita, muitas famílias começaram a
deixar suas casas no fim da tarde de ontem. A Defesa Civil do Município
não confirmou quantos imóveis foram esvaziados. A Prefeitura está
alugando imóveis para receber as famílias vulneráveis que residem em
áreas de risco.
O município de Coreaú, também cortado pelo rio homônimo, foi outro que
sofreu com a cheia do afluente. De acordo com a Secretaria de Recursos
Hídricos do Município, 20 famílias, que moram em áreas de risco, próximo
ao leito do rio, estão alojadas em casas de parentes e em imóveis
alugadas pela Prefeitura. A Defesa Civil acompanha o nível do açude para
identificar se outras famílias também estão correndo risco.
Quebra de índices
Todos esses impactos da chuva podem ser mensurados em números. Em
janeiro deste ano, a Funceme observou o acumulado de 126,1 milímetros na
Zona Norte, o que representa 13,6% acima da média histórica para o mês.
Em fevereiro, choveu 80,8% a mais do esperado para o mês. Em março,
foram registrados os maiores índices. A região foi a mais chuvosa de
todo o Estado. A Funceme aponta o acumulado de 414,4 mm, 56,7% a mais do
que a média para o mês, que é de 264,2 milímetros.
Já em Granja, cidade do Norte mais atingida pelas águas, os números são
ainda mais significantes. Em apenas três dias, já choveu mais de 50% do
esperado para todo o mês de abril. Até agora, o órgão já observou o
acumulado de 133.2 mm. Para o período, o volume médio é de 253,1
milímetros. Desde o início do ano, os números são ainda mais
expressivos. As precipitações observadas até hoje (1094,7 mm), já
superam todo o volume de chuva anual para Granja, que é de 1065,2 mm.
Diário do Nordeste