Uma doença que surgiu há milhares de anos e possui uma trajetória
evolutiva próxima a dos seres humanos. A tuberculose, temida - e letal -
nas décadas de 1950 e 1960 no Brasil, ultrapassou barreiras do tempo e
ainda está presente em várias cidades cearenses. Dos 184 municípios do
Estado, mais da metade teve aumento no número de casos em comparação aos
dois últimos anos.
Os acréscimos mais significativos ocorreram em Redenção, Icapuí e
Tamboril, com 900%, 650% e 500%, respectivamente. Os dados foram
divulgados pelo Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Secretaria da
Saúde do Estado do Ceará. Há dois anos, Redenção registrou apenas um
caso da doença. Em 2018, saltou para dez. O aumento de 900% na
enfermidade causada pelo bacilo de Koch - ou Mycobacterium tuberculosis -
ligou o alerta na cidade do Maciço de Baturité. Em Icapuí, o cenário é
semelhante. O número de casos confirmados passou de dois para 15 entre
os anos de 2017 e 2018. A adição de 650% põe o Município com incidência
acima do preconizado pelo Ministério da Saúde, que é de 10 casos para
cada 100 mil habitantes. Conforme análise do Núcleo de Dados do Sistema
Verdes Mares, o índice em Icapuí está oito vezes além do aceito pelo
Ministério.
Em Iguatu, na região Centro-Sul do Estado, os números dobraram entre
2017 e 2018. No ano passado, foram confirmados 20 casos. Antônia Gomes
Magalhães faz parte desta estatística.
A coordenadora do Programa da Tuberculose do Estado, Sheila Santiago,
explica que diagnósticos equivocados ainda são bastante comuns. "Muitas
pessoas acabam nem procurando o médico por achar se tratar apenas de uma
gripe", destacou.
Silenciosos
Santiago acredita que "parte deste aumento apresentado nos dois últimos
anos está diretamente ligada ao descobrimento de casos que antes eram
silenciosos, isto é, existiam, mas não se tinha um diagnóstico que
apontasse a tuberculose".
Ela explica que no ano passado, a Secretaria da Saúde do Estado
intensificou programas de treinamentos e capacitações para ajudar a
identificar com maior rapidez o paciente com tuberculose. "Com isso,
detectamos diversos casos silenciosos", destacou. O prejuízo para o
diagnóstico errado ou tardio, conforme explica Sheila Santiago, é
importante para evitar a contaminação de outras pessoas. "Cada paciente
que tenha tuberculose pode infectar entre dez a 15 pessoas a cada ano",
alertou a coordenadora.
Preocupação
O médico infectologista e professor da Universidade Federal do Ceará
(UFC), Anastácio Queiroz, externa preocupação com o alto número de casos
da doença. "Costumamos analisar o quadro da década e, observando este
período, 2018 foi o ano que apresentou mais casos confirmados. São quase
quatro mil", descreveu.
O especialista vai além. Cerca de 30% dos infectados no Ceará não tratam
a doença conforme devem. A cura, portanto, não é alcançada. "Estamos
falando de um universo de mais de mil pessoas que têm a bactéria e não
estão em tratamento. Enquanto isso, estas pessoas são transmissoras em
potencial da tuberculose", alerta o médico, ao demonstrar a importância
da não interrupção do tratamento que dura seis meses e tem a medicação
ofertada gratuitamente e de forma exclusiva pelo Sistema Único de Saúde
(SUS).
Diário do Nordeste



