Após a perfuração de seis poços e testes de vazão de pelo menos 24
horas com liberação regular média de 100 mil litros por hora, geólogos
da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural de
Iguatu, na região Centro-Sul do Ceará, confirmaram a existência de um
aquífero na Bacia da Lagoa do Julião com cerca de 642 km², que se
estende a outros municípios.
Desde 2017, o anúncio da existência de um aquífero no Julião,
distante apenas 4 km do centro da cidade, tornou-se tema polêmico. O
geólogo da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural
de Iguatu, Magno Régis Barros de Oliveira foi enfático: "Não tenho medo
de afirmar: temos, sim, o aquífero e com bastante água".
Magno não só atesta a existência como antecipa algumas
especificidades. "É uma formação de dois milhões de anos, recente
geologicamente. Possui material arenoso, cascalho orgânico, argila e
depósito de água aluvial e fluvial", explicou. "Enquadra-se na definição
de aquífero".
O geólogo da Prefeitura de Iguatu mostra estudo da Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) do Serviço Geológico do Brasil que
confirma a formação e existência do aquífero de Iguatu. Na área, foram
perfurados poços rasos em uma distância média de 150 metros e encontrada
coluna de água de 18 metros. A questão polêmica continua, entretanto,
acerca da quantidade da água.
Outros estudos devem definir e já há pesquisa em curso realizada pela
Secretaria de Recursos Hídricos do Estado incluindo, além de Iguatu,
Icó, Orós e Quixelô da formação sedimentar da região.
Quanto à qualidade da água, Magno Régis Oliveira destacou que é
excelente e, segundo os testes laboratoriais (exames físico-químicos)
demonstraram, apresenta teor de ferro de 0,04 mg/l, bem abaixo do padrão
mínimo que é de 0,3mg/l; e de cloreto de 49mg/l, enquanto que o limite é
de 250mg/l.
O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) de Iguatu já perfurou na
área um total de sete poços e dois atendem comunidades do entorno. "Um
desses poços funciona há mais de dez anos com vazão regular de 80 mil
litros por hora para abastecer a comunidade de Barreiras dos Pinheiros",
observou o geólogo. "Fica localizado na mesma formação do aquífero".
Alternativa
Com base na informação geológica, o Saae de Iguatu já começou a
construir um reservatório de 280 mil litros para receber, inicialmente,
água de quatro poços perfurados na Bacia do Julião. A obra deve estar
pronta em 30 dias.
"A operação do sistema vai depender da instalação de uma subestação
de energia elétrica que já foi solicitada à Enel", disse o
superintendente do Saae, Edval Lavor. "O projeto já foi aprovado pela
empresa concessionária de energia".
Ao lado dos poços, passa a adutora que vem do Açude Trussu
responsável pelo abastecimento das cidades de Iguatu e de Acopiara. O
reservatório acumula apenas 3% de sua capacidade e a qualidade da água
tende a piorar com o passar do tempo. "Em termos de qualidade,
acreditamos que o Trussu só tem condições de ser utilizado até o fim de
setembro", contou Lavor. "Por isso, queremos usar a água do aquífero a
partir de agosto e isolar o Trussu".
Iguatu tem o consumo médio de 700 mil litros por hora. Há o reforço
dos poços rasos existentes na bacia do Rio Jaguaribe, cuja oferta deve
ser ampliada com a instalação de uma nova adutora de 1.200 metros para a
Estação de Tratamento de Água (ETA) do Cocobó. "Novos poços já foram
perfurados e outros feitos a limpeza", explicou Lavor. "Esse projeto
está com o Governo do Estado, na SRH, e aguardamos a liberação de
recursos para o início da obra". O aquífero deve fornecer 350 m3/h e os
poços do leito do Jaguaribe, 400m3/h.
O prefeito de Iguatu, Ednaldo Lavor, corroborou que a região do
Julião é rica em água. "Hoje sabemos que esse aquífero dará para atender
à demanda urbana". O gestor acrescenta ainda que o aquífero "dá
tranquilidade para enfrentarmos a crise hídrica que se aproxima com a
perda de volume de água do Trussu".
O geólogo Magno Régis disse que os estudos geofísicos realizados
recentemente confirmaram as histórias narradas por produtores rurais de
que a região sempre foi favorável à existência de água subterrânea em
abundância. "O que a geologia nos mostra é que, no passado, milhões de
anos atrás, havia um curso que deixou sedimentos e água", explicou.
(Diário do Nordeste)