O presidente Jair Bolsonaro
reagiu duramente a declarações da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, sobre
o desmatamento na Amazônia e críticas a ele, ao desembarcar em Osaka, Japão,
para participar da cúpula do G-20.
Bolsonaro exigiu "respeito" ao Brasil e disse que não veio à reunião para ser
"advertido" por outros países.
Já o ministro-chefe do Gabinete
de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, considerou “muita
coincidência” o questionamento feito pela chanceler alemã sobre a evolução do
desmatamento na Amazônia.
Questionada por deputados
ambientalistas sobre a política ambiental do governo brasileiro, Merkel disse
na quarta-feira no Parlamento alemão que pretendia ter uma “conversa clara” com
Bolsonaro sobre o assunto quando se encontrassem na cúpula do G-20.
— Como vocês, vejo com grande
preocupação as ações do presidente brasileiro [em relação ao desmatamento] e,
se a questão se apresentar, aproveitarei a oportunidade no G-20 para ter uma
discussão clara com ele — afirmou a chanceler na ocasião.
Para Heleno, isso faz parte de
uma estratégia para fazer o Brasil preservar a Amazônia, a fim de que a região
seja depois explorada por estrangeiros. O general destacou que Bolsonaro
“não vai aceitar determinadas reprimendas ao Brasil” e considerou
“totalmente injustas as críticas à política de meio ambiente do Brasil”.
— Esses países que criticam? Vão
procurar sua turma — afirmou.
Depois de 25 horas de viagem,
Bolsonaro chegou ao hotel em Osaka mostrando irritação com indagações dos
jornalistas e interrompeu a entrevista após alguns minutos.
O presidente foi incisivo quando
questionado sobre as afirmações de Merkel. Ele disse que viu a declaração “'sem
problema nenhum”', mas acrescentou:
— Nós temos exemplos para dar
para a Alemanha sobre meio ambiente. A indústria deles continua sendo fóssil,
utilizando carvão e a nossa não. Então eles têm muito o que aprender conosco.
Em seguida, Bolsonaro elevou o
tom:
—
O presidente do Brasil que está
aqui não é como alguns anteriores, que vieram aqui para serem advertidos por
outros países. A situação aqui é de respeito para com o Brasil. Não aceitaremos
tratamento como no passado, de alguns casos de chefes de Estado que estiveram
aqui.
Ele não deu exemplo de presidente
que teria sido advertido por outros chefes de Estado. Indagado se achava a
declaração de Merkel desrespeitosa, o presidente respondeu:
— Vi o que está escrito.
Mas logo criticou a imprensa,
dizendo lamentar que grande parte do que é escrito “não é aquilo, e tem que e
fazer a devida filtragem”. Pouco depois afirmou que “'se nos questionarem [por]
alguma coisa [no G-20], estamos prontos para responder”.
Reunião "reservada" com
Trump
Bolsonaro parecia irritado desde
que entrou no hotel, onde jornalistas brasileiros o aguardavam. Questionado
sobre a mensagem que trazia ao G-20, disse que estava com agenda pronta, para
em seguida dizer que estava concluindo os preparativos, e que vai ouvir e
falar.
Quando um jornalista perguntou o
que o presidente falaria, Bolsonaro
mostrou-se impaciente.
— O que você quer eu fale? Vou
falar dos temas indústria, G-4, economia digital, internet, meio ambiente, tudo
que estiver na pauta.
Ele não quis comentar sobre a
reunião que terá com o presidente dos EUA, Donald Trump, dizendo ser uma
"reunião reservada”'. Qual o assunto?, indagou um jornalista.
— Se é reservada, é reservada
— respondeu.
Perguntado se o Brasil tinha lado
na guerra comercial entre EUA e China, Bolsonaro retrucou com um “não”, e
acrescentou que ao Brasil interessa a paz.
—
Não queremos que haja briga para a gente poder se aproveitar. Estamos
buscando paz e harmonia, como estamos trabalhando aqui a questão do [acordo]
Mercosul e União Europeia.
Quando outro jornalista quis
voltar ao tema da bilateral com Trump, Bolsonaro se virou e partiu.
Jantar em churrascaria
Depois de ter chegado irritado em
Osaka, o presidente Jair Bolsonaro saiu com alguns membros da delegação a pé e
passeou uma hora e meia pela cidade, abraçando japoneses e posando para fotos.
Os jornalistas naquele momento escreviam a rápida entrevista que ele tinha dado
ao chegar ao hotel e só ficaram sabendo depois.
Mais tarde, Bolsonaro de novo
saiu sem ser visto. Desta vez para jantar no Barbacoa, uma churrascaria
brasileira. Segundo um assessor, foi escolha dele. Foi acompanhado do ministro
Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e do deputado Elio Lopes
(PSL-RJ).
Osaka é conhecido como uma das
cidades onde se come melhor no Japão as especialidades do país.
Bolsonaro está hospedado no mesmo hotel que o presidente do
Egito, o general Abdel Fatah al-Sisi.