Três anos após a epidemia do vírus Zika que acometeu o Ceará, o Estado
apresenta indícios de uma possível nova manifestação da doença. Duas
crianças, uma nascida em Fortaleza e outra no município de Aratuba – a
158 quilômetros da Capital – foram diagnosticadas com microcefalia, e a
relação com a Síndrome Congênita do Zika Vírus foi confirmada pelo
neurologista do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), André Luiz
Santos.
Os dois diagnósticos estão relacionados a uma criança de Fortaleza,
nascida no fim de 2019, e outra de Aratuba, que nasceu em fevereiro de
2019. Conforme o médico, como não foi realizado exame laboratorial a
tempo, o diagnóstico é realizado por meio de análises clínicas, por isso
os casos estão dentro da nomeclatura dos "prováveis". "Pelo Ministério
da Saúde, o paciente é confirmado se (quando) tem exame laboratorial.
Daí cria-se um grupo dos prováveis, que a gente sabe que é Zika
Congênita, mas não tem mais a chance de confirmar laboratorialmente”,
explicou o médico.
Sobre o diagnóstico, André Luiz Santos revelou que é feita análise
clínica, a radiologia e exclui outras STORCHs (Sífilis, Toxoplasmose,
Rubéola, Citomegalovírus e Herpes). "Poderia ser Zika, mas tinha
sorologia para CMV (Citomegalovírus), que é a causa mais comum de
microcefalia infecciosa, e a imagem mostra que é mais CMV", ressaltou
André Luiz.
O médico explicou que para serem publicados no boletim epidemiológico,
há um atraso, um tempo de análise. “É difícil confirmar, porque a
criança já chegou aqui com quatro meses. Mas ele é Zika Congênita,
padrão completamente compatível, com exclusão de outras STORCHs. Mas
fica como se fosse em investigação”, detalhou André Luiz.
André Luiz acrescentou que o Hias tem 150 pacientes cadastrados com
microcefalia, no entanto em torno de 70% ficam nos casos prováveis, ou
seja, aqueles que não passaram por exames laboratoriais dentro do tempo
devido. “A criança chegou fora de uma faixa etária que a gente tivesse
acesso aos exames que confirmassem”, acrescenta André Luiz Santos.
As novas possíveis manifestações da doença devem-se ao fato de que, em
2015 e 2016, a infecção foi ampla e teve uma maioria de casos
assintomáticos. “O que deve ter acontecido: quase toda a população foi
infectada, e houve uma resposta imunológica ao vírus. Depois da
epidemia, a tendência foi cair. Mas é óbvio que não quer dizer que não
vai acontecer de novo”, ressalta.
A reportagem do Diário do Nordeste entrou em contato com a Secretaria da
Saúde do Estado (Sesa) para questionar sobre o número de casos de
microcefalia confirmados e prováveis entre 2018 e 2019, mas ainda não
obeteve respostas.
"Pelo Ministério da Saúde, o paciente é confirmado se tem exame
laboratorial. O problema é que é muito difícil essa confirmação
laboratorial dos pacientes que nascem com Zika congênita. A gente tem
cadastrados mais de 150 pacientes, sendo que em torno de 70% ficam nos
casos prováveis”, explica. Segundo o neurologista pediátrico, é
considerado ‘caso provável’ o paciente que não passou pelo exame no
tempo devido. “A criança chegou fora duma faixa etária que a gente
tivesse acesso aos exames que confirmassem”, acrescenta.
As novas possíveis manifestações da doença devem-se ao fato de que, em
2015 e 2016, a infecção foi ampla e teve uma maioria de casos
assintomáticos. “O que deve ter acontecido: quase toda a população foi
infectada, e houve uma resposta imunológica ao vírus. Depois da
epidemia, a tendência foi cair. Mas é óbvio que não quer dizer que não
vai acontecer de novo”, ressalta André Luiz Santos.
Uma vez que o vírus e o mosquito transmissor continuam circulando, a
previsão é de que os casos da arbovirose continuem sendo identificados,
assim como a Zika congênita. “Provavelmente, não será da forma como foi,
aquela coisa epidêmica, pegando muita gente, justamente por conta da
resposta imunológica. Isso são hipóteses, claro. Mas vamos continuar
tendo os casos”.
A reportagem entrou em contato com a Secretaria da Saúde do Estado
(Sesa) e aguarda a resposta sobre quantos casos prováveis ou em
investigação de Zika congênita existem no Ceará, e quais equipamentos
são responsáveis por realizar o exame laboratorial.
Diário do Nordeste