Fraude no exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), venda de cartões
de crédito, falsificação de CNH e RG e invasões indevidas a bancos de
dados de instituições públicas e privadas. Uma quadrilha de hackers, que
vinha cometendo uma série de crimes no mundo virtual há pelo menos dois
anos, foi desarticulada, ontem, durante a Operação Singular, deflagrada
pela Polícia Federal.
Cinco mandados de prisão foram emitidos e quatro suspeitos presos. As
capturas aconteceram no Ceará, São Paulo e Rio Grande do Sul. De acordo
com a PF, na capital cearense, foi cumprido um mandado de busca e
apreensão e um de prisão preventiva. Devido à investigação ainda estar
em andamento, e um suspeito permanecer foragido, a Polícia Federal optou
por não divulgar os nomes dos envolvidos.
Durante coletiva de imprensa realizada na manhã de ontem, na
Superintendência Regional em São Paulo, Estado responsável por deflagrar
a operação, o delegado regional executivo, Luiz Roberto Ungaretti de
Godoy, contou que a investigação contra o bando começou há
aproximadamente um ano. De início, os policiais tinham informação que a
organização comercializava cartões de crédito na deep web.
Divisão
"No curso da investigação, identificamos outros crimes, como furto
virtual, fraude em concurso público, além de outras condutas. Com base
nas investigações, identificamos um grande esquema, uma organização
estruturada com divisão de tarefas e cada um com atividades
específicas", informou o delegado.
Segundo Luiz Roberto, uma das surpresas das autoridades foi descobrir
que dentro da quadrilha havia uma célula que invadiu o sistema da
Fundação Getúlio Vargas (FGV) e fraudou o exame da OAB. A PF divulgou
que a fraude resultou em duas aprovações indevidas de advogados que não
teriam obtido nota suficiente na segunda fase das provas.
O delegado ressaltou que a própria FGV foi vítima dos criminosos e que
há indicativos que resultados de concursos públicos também foram
fraudados, mas, até o momento, a Polícia Federal não pode indicar quais
foram os concursos, assim como quais foram as instituições vítimas da
quadrilha.
Acessos
Outra forma de agir do grupo era acessando indevidamente dados bancários
para comercializar cartões de crédito. Por meio do aplicativo de
mensagens Telegram, os interessados se comunicavam e recebiam as
propostas. Godoy ressaltou que, comprovadamente, havia vendas de pacotes
com 10 cartões pelo valor de R$ 450.
"Eles possuíam uma rede de contatos. Em um dos grupos do Telegram, havia
três mil pessoas. Conseguimos ali identificar boa parte do esquema e
como aconteciam os acessos. Pelo Telegram, os usuários tinham acesso a
um site em que eram vendidos cartões. Outra célula da organização
criminosa tinha acesso aos dados de bancos privados necessários para
algumas compras. Eles invadiam o sistema com técnicas variadas, por isso
que são centenas de vítimas", destacou o delegado, já adiantando que a
operação deve ter desdobramentos.
Diário do Nordeste