A executiva nacional do PDT se reúne a partir desta quarta-feira, 17,
para definir uma punição para os oito deputados do partido que votaram a
favor do texto-base da reforma da Previdência, contrariando orientação
da sigla. Em entrevista dada nesta segunda-feira, 15, ao
Estadão/Broadcast Político e à Rádio Eldorado, o ex-ministro Ciro Gomes,
principal nome do PDT, defendeu que todos deixem espontaneamente o
partido, o que seria “mais digno” do que esperar por uma eventual
expulsão.
Entre os oito parlamentares ameaçados de punição – chamados de
“desobedientes” pelo presidente do PDT, Carlos Lupi –, está a deputada
Tabata Amaral (SP), até então vista como uma das principais apostas de
renovação do partido e cotada para disputar a Prefeitura de São Paulo
nas eleições do ano que vem. Um ano atrás, Ciro chegou a almoçar na casa
da família de Tabata, em um bairro da periferia de São Paulo, num sinal
público de prestígio da candidata à Câmara.
“Ninguém pode servir a dois senhores”, afirmou Ciro, lembrando que ele
próprio trocou sucessivas vezes de partido. “Eu acho que o mais digno –
não quero particularizar nela (Tabata), porque foram ela e mais sete – é
fazer o que eu fiz. Fui filiado e ajudei a fundar o PSDB, que tinha um
programa lindo, que tinha uma série de propostas muito sérias, foi para o
governo e fez o oposto. Chafurdou na corrupção, nas privatizações, na
roubalheira. O que fiz? Saí.”
O ex-ministro disse que a executiva nacional vai respeitar todos os
trâmites internos, entre eles, o direito de defesa. Mas, segundo ele,
tanto Tabata como seus colegas tiveram a oportunidade de apresentar sua
posição em “inúmeras reuniões” prévias convocadas pela sigla para tratar
do projeto da Previdência. Segundo o relato de Ciro, até a antevéspera
da votação Tabata não teria manifestado qualquer intenção de endossar o
texto apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro – que, entre outras
modificações, prevê o aumento da idade mínima para requerer a
aposentadoria.
‘Nós não queremos representar os neoliberais’, diz Ciro
Ao justificar a sugestão, Ciro disse que a decisão de deixar a sigla
deveria ser tomada pelos colegas não apenas “pelo passado”, mas também
“pelo que está por vir”. Ele citou a perspectiva de votação de outros
projetos, como a reforma tributária e privatizações.
“Não quero aqui retaliar a Tabata. Mas daqui a pouco essa gente vai
propor, por exemplo, a entrega da Petrobrás. Qual é a posição dela?
Daqui a pouco essa gente vai propor a autonomia do Banco Central, para
entregar de vez a economia brasileira aos quatro bancos privados que
monopolizam 85% das transações financeiras. Como ela vai votar? Pela
linha do partido ou pela dupla militância que ela está demonstrando”,
disse Ciro. “Nós não queremos representar os neoliberais. Tem aí o MBL.
Por que ela não vai para o MBL?”, atacou ele, em referência ao Movimento
Brasil Livre, que liderou manifestações em defesa de projetos do
governo.
Ao todo, 19 parlamentares da oposição votaram a favor da reforma: além
dos oito do PDT, mais 11 do PSB. Nesta segunda-feira, 15, o conselho de
ética do PSB abriu processo contra os “dissidentes”, que terão dez dias
para apresentar sua defesa. Com a ameaça de expulsão, todos eles
passaram a ser alvo do assédio de partidos de centro, que sinalizaram
estar de portas abertas ao ingresso de novos deputados.
UOL