A temporada de incêndios em mata nativa e em área de pastagem começou no
sertão cearense. Após o período chuvoso, os casos tendem a aumentar
consideravelmente. A vegetação nativa seca, baixa umidade do ar e o
calor intenso são fatores, segundo o Corpo de Bombeiros, que favorecem a
ocorrência de incêndios.
O "Programa Queimadas" do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe) registrou, por meio de monitoramento de satélite, neste ano, até
ontem (8), 222 focos de queimadas no Ceará. Em relação a igual período
do ano passado, quando foram observados 207 focos, houve um aumento de
7%.
O último incêndio no Estado aconteceu no fim de semana passado. Uma área
de dois hectares de vegetação nativa e de pasto foi atingida pelo fogo,
no Sítio Varzinha, zona rural de Iguatu, na região Centro-Sul do Ceará.
Militares do Corpo de Bombeiros evitaram que o fogo atingisse uma área
residencial. "O vento e a vegetação seca ajudaram para que o fogo logo
se espalhasse rapidamente e por pouco não atingiu uma casa bem próxima
ao local", contou o tenente Claudenízio de Souza. Ninguém ficou ferido.
Casos como este tendem a ficar mais frequentes a partir de agora. "O
problema é recorrente e vai se estender até o fim do ano", observa o
tenente do Corpo de Bombeiros.
A ação humana, conforme avalia o agrônomo Paulo Maciel, contribui para o
crescimento dos casos. "A vegetação permanece mais seca e há, nesses
meses, o costume de preparo de terra para o plantio com o uso inadequado
de queima dos restos de culturas agrícolas e da própria mata nativa por
parte dos agricultores", detalha.
A prática de atear fogo na mata é criminosa, mas raramente são
localizados os autores. Na ampla maioria das vezes, a mata incendiada
não estava pronta com roço e coivara para a tradicional broca (queima de
restos culturais).
Os bombeiros militares alertam ainda para o risco de os incêndios
atingirem casas e instalações agropecuárias, além da destruição de mata
nativa e de áreas de pastagem.
Para reduzir o índice de queimadas e consequentemente os danos ao meio
ambiente, especialistas orientam que as pessoas não toquem fogo em lixo e
nem em terrenos baldios. O agricultor que for fazer queimada, deve
primeiro ter autorização de um órgão responsável.
Para evitar que o fogo se alastre, sempre deve ser feito um aceiro para
evitar que o fogo passe para outras áreas. Segundo dados do Corpo de
Bombeiros, mais de 80% dos casos são provocados pela ação humana. "Além
de destruir a vegetação, o fogo e a fumaça chegam perto das casas,
prejudicando a saúde das pessoas e até pondo-as em risco de morte",
acrescentou o tenente Claudenízio de Souza.
Deficitário
No Ceará, só há um grupo de brigadistas do Prevfogo, ligado ao Centro
Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais, em
Quixeramobim. O órgão é responsável pela política de prevenção e combate
aos incêndios florestais em todo o território nacional, incluindo
atividades relacionadas com campanhas educativas, treinamento,
capacitação, monitoramento e pesquisa do Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Já a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) mantém o Programa de
Prevenção, Monitoramento, Controle de Queimadas e Combate aos Incêndios
Florestais (Previna). A ideia era formar pelo menos três brigadas
regionais para combate a incêndios e educação ambiental, mas o projeto
ainda não foi totalmente implantado.
Diário do Nordeste