O número de notificações de HIV no interior cearense cresceu no
primeiro semestre deste ano se comparado a igual período do ano passado.
De acordo com a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), foram 219 novos
casos notificados nas 18 regionais de Saúde do interior do Ceará, o que
representa aumento de 2,34% em relação aos primeiros seis meses de 2018.
Conforme análise do Núcleo de Dados do Sistema Verdes Mares, 10
regionais apresentaram crescimento no índice e em uma (Limoeiro do
Norte) houve estabilização em ambos os períodos. A maior expansão foi
verificada na Regional de Camocim, quando os casos de notificações
saltou de dois para nove. O crescimento foi de 350%. Em seguida,
aparecem as Regionais de Icó, com aumento de 250%, e Tauá, que
apresentou incremento de 166,67%.
Este cenário de ampliação nas notificações na maioria das regionais
de saúde do interior deve-se, segundo a articuladora do grupo de
trabalho de IST/Aids da Sesa, Telma Martins, ao aumento da oferta de
testes rápidos. "Quando há uma maior oferta de testes, consequentemente
acabam surgindo mais casos também. São pessoas, por exemplo, que nunca
haviam feito o teste na vida e acabam se descobrindo portadoras de HIV".
Telma Martins também destaca que, "qualquer epidemia apresenta um ápice
em determinado período. No caso do HIV, observamos esse aumento neste
último ano, porém, neste mesmo período, vimos uma redução nos casos de
Aids, o que mostra que as pessoas estão se descobrindo com o vírus
precocemente". Este cenário, que é atribuído ao avanço do quantitativo
dos testes rápidos no interior, é comemorado pelos especialistas, pois o
diagnóstico precoce está proporcionalmente ligado à qualidade de vida
que o infectado terá. "Os pacientes estão chegando até nós, no Centro
especializado, quase que assintomáticos, devido ao acometimento recente.
Isso é fundamental, pois o início do tratamento é imediato e, em muitos
casos, em seis a oito meses o paciente já está com uma carga viral
quase que indetectável", detalha a diretora do Serviço de Infectologia
de Juazeiro do Norte, na região do Cariri, Geni Oliveira Lopes.
Medidas
Além de expandir a oferta de testes imediatos, a Secretaria da Saúde
do Estado apontou como outras medidas para declinar o índice de
notificações no interior cearense o acesso ampliado ao tratamento que
resulta diretamente na redução da transmissão do vírus, além da
ampliação da oferta de insumos de preservação. Essas ações foram
adotadas pela Secretaria de Juazeiro do Norte. Com as medidas, o
Município conseguiu frear o avanço das notificações que vinham sendo
observadas consequentemente nos últimos anos. "O Centro especializado
também tem atuação importante, por garantir um atendimento mais amplo ao
paciente", destaca Geni. Já a cidade vizinha de Crato foi além da
estagnação dos casos. No primeiro semestre deste ano, o Município
apresentou redução de 84% nas notificações, se comparado a igual período
de 2018. Esta foi a maior queda verificada em todas as 18 regionais de
saúde do Estado.
Ceará
O cenário geral, quando observadas todas as 22 regionais de saúde, se
inverte. Nos primeiros seis meses deste ano, o número de notificações
de HIV no Estado teve redução superior a 11%. No primeiro semestre de
2018, a Sesa havia identificado 884 notificações e, em igual período
deste ano, foram 785 novos casos confirmados de HIV. As maiores cidades
da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) são as responsáveis pela
inversão deste quadro. A capital cearense, sozinha, reduziu em 24% o
número de notificações de um período para o outro, saindo de 515 casos
para 391. Caucaia (38%) e Maracanaú (36,8%) foram outros dois municípios
da Região Metropolitana que também registraram queda no número de
notificações.
Mundo
A redução apresentada no Estado segue o perfil que fora observado no
País. De acordo com o Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids
(Unaids), cerca de 1,7 milhão de pessoas em todo o mundo foram
infectadas pelo vírus em 2018. O quantitativo é 16% inferior ao número
identificado no último levamento da Unaids, em 2010. O documento,
divulgado no mês passado, revela ainda um estudo avançado para que se
tenha, até o próximo ano, 90% das pessoas com HIV devidamente
diagnosticadas, 90% delas realizando tratamento com antirretrovirais e,
deste grupo, 90% com carga viral indetectável. Essa estimativa, na
avaliação de Geni Lopes, não só é palpável como está próxima de
acontecer em algumas cidades do interior, como é o caso de Juazeiro. Na
maior cidade do Cariri, houve, nos últimos dois anos, aumento na oferta
da Profilaxia Pós-Exposição (EPE) ao HIV. Essa é uma medida de prevenção
de urgência à infecção pelo HIV, hepatites virais e outras infecções
sexualmente transmissíveis (IST), consiste no uso de medicamentos para
reduzir o risco de adquirir essas infecções. "Os resultado são
magníficos. As pessoas estão conseguindo viver com excelente qualidade",
pontua Geni. Essa realidade, no entanto, outrora não era experimentada.
Há 17 anos, a professora Ligia Custódio se descobriu soro positivo. "Na
época, era como se fosse uma sentença de morte". Hoje, ela avalia que
com "o avanço das políticas públicas inclusivas e a mudança cultural, já
se é possível viver com dignidade e continuar sonhando".
(Diário do Nordeste)