Investigações apontaram que estudantes eram
filhos de fazendeiros, servidores públicos, políticos e amigos dos donos da
instituição, todos com alto poder aquisitivo. Ao todo, 19 pessoas foram presas
durante operação Vagatomia.
PF deflagra operação contra desvio
de verba do Fies em Fernandópolis — Foto: Polícia Federal/Divulgação
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Os estudantes que compraram
vagas, pagaram por transferências ou pela concessão do Financiamento Estudantil
do Governo Federal (Fies) para estudar medicina na Universidade Brasil, em Fernandópolis
(SP), são filhos de fazendeiros, servidores públicos, políticos e amigos dos
donos da instituição, de acordo com as investigações da PF.
A operação denominada Vagatomia
foi deflagrada nesta terça-feira (3) na região noroeste paulista. O dono da
Universidade Brasil, José Fernando Pinto da Costa, de 63 anos, e outras 18
pessoas foram presas.
Segundo o delegado da PF,
Cristiano Pádua, todos possuem alto poder aquisitivo e as famílias dos
universitários chegaram a pagar cerca de R$ 120 mil pelas vagas.
Mesmo sem perfil de beneficiário
do Fies, os jovens tinham acesso aos recursos do Governo Federal. Investigações
da PF apontam que milhares de alunos carentes por todo o Brasil podem ter sido
prejudicados em razão das fraudes.
"Essas fraudes, além dos prejuízos, tiravam vagas dos alunos mais
carentes que se enquadravam nos requisitos e tinham direito, e perdiam porque
esses alunos compravam por meio de supostas assessorias", diz o delegado.
"As pessoas que não foram
aprovadas nos vestibulares por não terem condições e competência conseguiriam
terminar a faculdade simplesmente porque tinham poder aquisitivo. Com isso,
elas atenderiam pacientes durante décadas, colocando a vida das pessoas em
risco", explica o delegado.
Ainda de acordo com o delegado, investigações
apontam que centenas de alunos compravam essas vagas. "Eles cometeram
crimes e vamos apurar se esse número de estudantes que compravam vagas é
maior", explica.
Estudantes que cursam medicina no
campus de Fernandópolis, mas que preferiram não se identificar, afirmaram à TV
TEM que sabiam do esquema e que se sentem lesadas com a situação. Além disso,
elas reclamam do aumento excessivo de vagas.
“Eu fui prejudicada pelo esquema
porque desde quando entrei na faculdade eu venho tentando uma vaga em um
financiamento regular, que é avaliado pelo Enem. Com o passar do tempo,
começamos a perceber que as vagas preenchidas tinham notas inferiores a que
tínhamos conseguido”, afirma a estudante.
De acordo com a Polícia Federal,
o dono da Universidade Brasil, José Fernando Pinto da Costa, de 63 anos, e o
filho dele, Stefano Bruno, foram presos. Eles são apontados pela PF como chefes
do esquema que desviou mais de R$ 500 milhões.
Além dos dois, outras 18 pessoas
também foram presas durante a operação intitulada como Vagatomia. Entre elas,
funcionários da universidade e o presidente e o vice do Fernandópolis Futebol
Clube.
Presidente do Fernandópolis
Futebol Clube foi preso em Operação da PF contra fraude no Fies — Foto:
Federação Paulista de Futebol/Divulgação
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Ainda segundo a PF, todo o
dinheiro desviado por eles, além de afetar a qualidade do ensino e tirar vagas
de quem realmente merecia, também era utilizado em benefício próprio.
“Eles compravam helicópteros,
jatos e faziam diversas viagens. Enquanto isso, registros comprovam que na
faculdade muitas vezes faltavam itens básicos como papel higiênico e toner para
impressoras”, afirma Pádua.
Para o procurador do Ministério
Público Federal, Carlos Aberto Rios, houve negligência por parte das
instituições que deveriam fiscalizar os programas de financiamento estudantil
do governo para evitar possíveis fraudes.
“O Ministério da Educação (MEC),
o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e Caixa Econômica
Federal falharam no controle e na fiscalização dos atos da Universidade Brasil
e dos alunos. Apesar do que a lei determina, os três órgãos foram totalmente
inoperantes para garantir e evitar fraudes básicas”, disse Carlos Alberto Rios.
Dinheiro apreendido na casa de um
dos investigados na operação Vagatomia, da Polícia Federal em Jales — Foto:
Polícia Federal/Divulgação
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G1