Pesquisadores da Embrapa Agroindústria Tropical (CE) e da Universidade
Federal do Ceará (UFC) iniciaram estudos com a fibra de caju no intuito
de reduzir a obesidade humana. Por se tratar de produtos nutracêuticos -
nutrientes que têm capacidade comprovada de proporcionar benefícios à
saúde, como a prevenção e o tratamento de doenças - os testes tiveram de
ser iniciados, obrigatoriamente, em animais antes de aplicados em
humanos. Neste ano, após meia década de pesquisas, o grupo colheu os
primeiros resultados.
Os cientistas identificaram que as fibras do bagaço de caju, tratadas
em laboratório para retirada de açúcares e outros compostos de baixo
peso molecular, foram capazes de inibir a obesidade em ratos submetidos à
dieta hipercalórica. Os animais receberam uma alimentação rica em
gorduras durante 15 semanas. Uma parte dos animais recebeu também a
fibra processada em laboratório.
A fibra controlou o peso, a gordura abdominal, o apetite e preveniu o
aumento da glicemia, das taxas de insulina no sangue e da gordura no
sangue (triglicerídeos). Preveniu, ainda, o processo inflamatório, além
de reduzir a lesão hepática causada pela dieta hipercalórica.
Utilizando a
técnica da ressonância magnética nuclear, os pesquisadores descobriram
que havia ácidos graxos de cadeia curta no soro e nas fezes dos animais
que receberam a fibra processada. A presença desses ácidos está
associada ao controle da saciedade e à promoção do crescimento da flora
bacteriana benéfica, que auxiliam o controle do peso corporal.
“Provavelmente todos esses efeitos que a fibra provocou na prevenção da
obesidade dos animais sejam decorrentes da produção dos ácidos graxos
de cadeia curta”, avalia a nutricionista Diana Valesca Carvalho,
professora da UFC e uma das responsáveis pelo experimento.
Ela esclarece que a presença desses ácidos significa que a fibra
fermentou no intestino. O resultado, conforme Diana, é relevante porque
80% da fibra do caju é insolúvel e, normalmente, os estudos científicos
associam as fibras solúveis a esse tipo de fermentação. “Nossa
perspectiva é avaliar, futuramente, os efeitos dessa fibra na microbiota
intestinal”.
O trabalho realizado pela Embrapa ao longo de meia década é importante
também para expandir um campo de pesquisa ainda pouco explorado.
“Existem poucos estudos com fibras de frutas, principalmente como
ingredientes. A esmagadora maioria do conhecimento é sobre fibra de
cereais. É um universo todo a ser explorado”, explica o pesquisador da
Embrapa, Edy Brito.
Segundo o estudioso que coordena o Laboratório Multiusuário de Química
de Produtos Naturais, local onde os experimentos estão sendo aplicados, a
perspectiva é contribuir para o desenvolvimento de um novo ingrediente
para a indústria alimentícia, a partir de uma matéria-prima regional,
com bom potencial funcional e nutricional.
Agora, diante dos bons resultados obtidos em animais, a próxima etapa
do projeto é avaliar o potencial dessa fibra para a prevenção da
obesidade em humanos. Essa fase, segundo a Embrapa, deve durar de três a
quatro anos até ter os primeiros resultados identificados.
Na primeira fase da pesquisa, os cientistas haviam avaliado o consumo
do bagaço de caju integral, sem a retirada dos compostos de baixo peso
molecular. Os resultados foram bem diferentes. Em animais submetidos a
uma dieta normal, a fibra integral alterou o metabolismo dos lipídeos,
aumentando colesterol e triglicerídeos.
Quando os compostos de baixo peso molecular foram excluídos e mantida a
dieta com padrões normais de calorias, o efeito foi diferente, com
redução da glicemia, da insulina e da grelina. O metabolismo dos
lipídeos nos animais manteve-se inalterado. A partir desses resultados,
os pesquisadores decidiram utilizar a fibra processada em animais
submetidos à dieta hipercalórica.
Conforme a pesquisadora Diana Carvalho, a fibra integral não deve ter
apresentado bons resultados por conta do alto teor de frutose, o açúcar
das frutas. “A frutose está muito relacionada ao aumento da gordura
abdominal. Observamos aumento da gordura abdominal no grupo que consumiu
a fibra em sua forma integral”, diz.
(G1/CE)