O ministro da Justiça, Sergio Moro, solicitou ao Procurador-Geral da
República (PGR), Augusto Aras, a abertura de uma investigação para
apurar as circunstâncias em que o nome do presidente Jair Bolsonaro
apareceu no inquérito do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro
Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes.
Moro diz no documento que há inconsistência nas informações sobre o caso
que, segundo ele, sugere equívoco na investigação conduzida no Rio ou
eventual tentativa de envolvimento indevido do nome presidente no crime.
O ministro da Justiça está no Equador em uma agenda de segurança
pública.
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou nesta quarta-feira (30) que
acionou Moro para ver se seria possível que a Polícia Federal tomasse o
depoimento de um porteiro do condomínio onde o presidente tem casa no
Rio de Janeiro.
O ex-juiz da Lava Jato sugere ainda a Aras que o porteiro possa ter se
confundido ou sido manipulado por outras pessoas para prejudicar
Bolsonro. "É ainda possível que o depoente em questão tenha simplesmente
se equivocado ou sido utilizado inconscientemente por terceiros para
essas finalidades", disse o ministro.
Segundo reportagem do Jornal Nacional, o ex-policial militar Élcio
Queiroz, suspeito de envolvimento no assassinato em março de 2018, disse
na portaria que iria à casa de Bolsonaro, na época deputado federal, no
dia do crime. Os registros de presença da Câmara dos Deputados, no
entanto, mostram que Bolsonaro estava em Brasília nesse dia.
Segundo o depoimento do porteiro à Polícia Civil do Rio de Janeiro, o
suspeito pediu para ir na casa de Bolsonaro e um homem com a mesma voz
do presidente atendeu o interfone e autorizou a entrada. O acusado, no
entanto, teria ido em outra casa dentro do condomínio. A PF entrará no
caso se o novo inquérito, pedido por Moro, for aberto.
Repercussão
Após a reportagem ser veículada, Bolsonaro reagiu com um pronunciamento
ao vivo no Facebook, no qual se defendeu das suspeitas dizendo que o
"porteiro mentiu ou induziram o porteiro a cometer falso testemunho".
Além disso, ele afirmou que o intuito da reportagem era desgastar o
Governo Federal ou incriminar um de seus filhos.
O presidente acusou ainda o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel
(PSC), de vazar informações de um processo que corre em segredo de
Justiça com o intuito de se favorecer numa eventual candidatura à
presidência em 2022. Witzel negou que tenha repassado à imprensa
qualquer tipo de informação sobre a morte da vereadora Marielle Franco e
disse que sequer teve acesso às investigações.
Pela manhã, o vice-presidente Hamilton Mourão declarou que o depoimento
do porteiro não tem poder de derrubar o governo, mas causa perturbação.
"Não dá pra derrubar o governo dessa forma, mas que perturba o andamento
do serviço, como se diz na linguagem militar, perturba", disse.
O vereador Carlos Bolsonaro também se manifestou e publicou em redes
sociais um vídeo que, segundo ele, foi gravado na manhã desta
quarta-feira (30) na administração do condomínio na Barra da Tijuca,
zona oeste do Rio, onde seu pai tem uma casa. Carlos, que mora em outro
imóvel no condomínio, afirma que não há registro de ligação para a casa
58 no horário alegado em depoimento.
Segundo o depoimento do porteiro à Polícia Civil do Rio de Janeiro, o
suspeito pediu para ir na casa de Bolsonaro e um homem com a mesma voz
do presidente atendeu o interfone e autorizou a entrada. O acusado, no
entanto, teria ido em outra casa dentro do condomínio.
Segundo veiculado no Jornal Nacional, o livro de visitantes aponta que,
às 17h10, Élcio informou que iria à casa de número 58. O porteiro disse
no depoimento, no entanto, que acompanhou por câmeras a movimentação do
carro no condomínio e que Élcio se dirigiu à casa 66, onde mora Lessa.
O porteiro teria ligado novamente para a casa 58; segundo ele, quem
atendeu disse que sabia para onde Élcio estava se dirigindo. No
depoimento, o porteiro teria dito que, nas duas vezes que ligou para a
casa 58, foi atendido por alguém cuja voz julgou ser de Jair Bolsonaro.
Os investigadores estão recuperando os arquivos de áudio da guarita do
condomínio para saber com quem o porteiro conversou naquele dia e quem
estava na casa 58, segundo o Jornal Nacional.
O POVO