Com quase a totalidade da produção de camarão
feita em cativeiro e pesca de lagosta em áreas distantes do litoral
cearense, a cadeia produtiva dos pescados no Estado afirma que o
derramamento de óleo na região não representa um risco para a
matéria-prima utilizada pela indústria nacional.
É o que aponta Cristiano Maia, presidente da Associação Brasileira
dos Criadores de Camarão (ABCC). "No Brasil, o camarão criado no mar não
chega a 10%. É um pequeno mercado que a criação em cativeiro pode
suprir rapidamente por conta do defeso. Mas no Ceará, a criação de
camarão no mar é zero. Então, não nos afeta", ele diz.
No caso da lagosta, Maia diz que a pesca no litoral cearense é pouco
representativa, e o mesmo é válido para outros tipos de pescados. "Os
barcos de pesca cearense, em sua grande maioria, estão fora do Estado.
Os peixes são pescados longe da costa, em estados como o Pará, e a
lagosta é pescada até em Santa Catarina. Não há impacto para nós. É
pouca a pesca no nosso Estado", diz Maia, acrescentando que não há
motivo para a paralisação da atividade pesqueira e nem de preocupação
por parte dos consumidores.
Ontem, segundo o jornal O Globo, a ministra da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa), Tereza Cristina, afirmou que a Pasta não vai mais
suspender a pesca de lagosta e camarão em lugares atingidos pelo
derramamento. Ela afirma que a decisão é baseada em novos dados que
mostram que não há necessidade de proibição. Mais cedo, representantes
da indústria pesqueira enviaram ofício ao Ministério assegurando que o
óleo não atinge a matéria-prima utilizada pela indústria nacional e que
as embarcações que atuam na pesca oceânica não são afetadas.
Precaução
Para o presidente da ABCC, a antecipação do defeso se deu mais por
uma precaução do Governo diante de possíveis riscos de contaminação.
Segundo documento enviado ao Mapa, a antecipação do defeso para evitar
uma "provável contaminação química" poderia impactar negativamente toda a
indústria pesqueira do País, mesmo sem evidência de que haja problemas
referentes à qualidade dos produtos.
No ofício, subscrito por oito entidades e assinado pelo presidente da
Câmara Setorial da Produção e Indústria de Pescados, Eduardo Lobo
Naslavsky, os representantes apontaram que a medida "resulta para o
setor em elevado prejuízo de imagem e consequente retração no consumo
interno e nas importações".
No mesmo sentido, o Sindicato das Indústrias de Pesca e Frio do
Estado do Ceará (Sindfrio) informou que, no Ceará, "muito do que se
consome vem de outros países e de regiões não afetadas". Além disso,
ressaltou que os "pescados produzidos sob sistemas de vigilância
sanitária, seja em escala municipal, estadual ou federal, têm protocolo
de processamento bastante rigoroso" e que "produtos processados têm mais
segurança".
Antes da declaração da ministra, Jorge Seif, secretário do Mapa,
disse que a antecipação do defeso não implicaria na suspensão da pesca e
que, até o momento, não houve qualquer notificação de problemas ou
anormalidades nos pescados. O secretário havia afirmado que o
seguro-defeso seria mantido para pescadores afetados pelo vazamento e
que o Ministério estudava ferramenta para ampliar a abrangência da
medida a marisqueiras e catadores de caranguejo.
De acordo com o diretor técnico do Coletivo Nacional da Pesca e
Aquicultura (Conepe), Cadu Vilaça, a indenização que precisa ser dada à
população será efetuada a partir de outro instrumento indeniza-tório.
"Com o seguro, foi preciso mexer com a data do defeso, que não deve
estar vinculada a um problema de saúde pública", aponta.
(Diário do Nordeste)