O Ceará registrou, em outubro passado, o maior
número de focos de incêndio dos últimos 10 anos para este intervalo
mensal. Segundo o Mapa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe), o Estado somou 1.373 focos nos 31 dias de outubro,
número superior ao contabilizado em igual período de 2016 (1.241) e 2012
(1.102), que completam a lista dos três anos que apresentaram outubros
com maior número de focos de incêndio da série histórica. Segundo
especialistas, o mês de novembro deve manter a tendência de altos
índices.
Do total de municípios cearenses que tiveram registros de incêndios,
17 concentraram 50% das queimadas. Icó foi o Município com maior número
(96), seguido de Boa Viagem (71) e Cariús (66). As três cidades se
mantêm com número elevado de registros e figuram, com base em
levantamento feito em 2017 e 2018, no quadro de municípios com mais de
100 focos por ano.
Meses de seca
Segundo Ana Larissa Ribeiro de Freitas, geógrafa e mestranda em
Sensoriamento Remoto do Inpe, outubro "é um mês de seca, portanto, a
vegetação fica cada vez mais suscetível aos incêndios". A pesquisadora
explica que, para confirmar este cenário, são consideradas "as
condicionantes ambientais, em que a temperatura está mais alta, o clima
mais seco e a umidade relativa do ar menor". A tendência alta deve se
manter em novembro. Ontem (6), um incêndio de grandes proporções foi
debelado em um sítio, no município de Viçosa do Ceará.
"A maioria dos incêndios desse tipo é provocada por alguém que ateia
fogo ao terreno. A área afetada foi considerada extensa, mas não dá para
precisar o tamanho da região atingida", relatou o major Mardens
Vasconcelos, do Corpo de Bombeiros de Sobral.
Em novembro, pelo menos 100 registros já foram feitos. "Observa-se
que na série histórica do monitoramento, outubro geralmente é o mês em
que os focos aumentam, tendência também de novembro, e em dezembro há
uma alternância nesse total", explica Ana Larissa.
O major Mardens Vasconcelos também pontua a incidência nesta época do
ano. "Historicamente, nota-se um aumento considerável devido ao tempo
seco e à prática das queimadas em terrenos".
Preparar a terra
Segundo a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), o
período que se estende de setembro a dezembro é marcado por altas
temperaturas e queda da umidade do ar e, neste cenário, o bioma da
Caatinga fica mais vulnerável às ocorrências. Segundo o órgão, parte da
perda da cobertura vegetal e o impacto na vida animal são provocados
pelo uso do fogo na limpeza do terreno destinado ao plantio, que só
começará na volta da chuva.
Ana Larissa Ribeiro confirma o prognóstico e explica que é necessário
"analisar algumas variáveis que não são só ambientais (umidade do ar,
precipitação e até mesmo a direção dos ventos)". Segundo ela, "a
Caatinga não queima do nada e o fogo é a forma mais barata de preparar a
terra". No entanto, mesmo com o aumento no número de focos registrados,
ela pondera que "muitos podem nem resultar em um incêndio".
Em outubro, a Semace recomendou a suspensão das autorizações para o
uso do fogo controlado. Conforme o diretor Florestal do órgão, Adirson
Freitas, novas solicitações só serão aceitas em janeiro de 2020. "Temos
de evitar incêndios florestais, especialmente nesta época do ano em que a
incidência dos ventos é maior e a vegetação encontra-se mais seca
devido às altas temperaturas", pontua.
(Diário do Nordeste)