Um vírus transmitido, predominantemente, por vias sexuais, estigmatizado
historicamente, e que segue contaminando novas pessoas. Embora a
percepção sobre o diagnóstico de HIV positivo não seja mais tão
fatalista como foi em décadas passadas - quando da descoberta da
infecção nos anos 1980 no Brasil - combater a transmissão do vírus e
garantir o tratamento adequado para quem vive com HIV/Aids é tarefa
permanente. Dados divulgados, sexta-feira (29), pelo Ministério da
Saúde, dão conta que entre 2008 e 2018, a taxa de detecção da Aids -
estágio mais avançado da infecção por HIV - teve aumento de 9,8%. Em
2008, a taxa era de 13,2 casos de Aids a cada 100 mil pessoas. Em 2018,
esse índice era de 14,5 por cada 100 mil habitantes.
O crescimento no cenário cearense contrasta com a média nacional, já que
nesse intervalo de tempo, conforme o levantamento do Ministério da
Saúde, a taxa de detecção de casos de Aids no Brasil era de 21,6 casos
por 100 mil pessoas e passou para 17,8 registros casos a cada 100 mil
pessoas. Um recuo de 17,6%. As informações constam no Boletim
Epidemiológico HIV/Aids, do Departamento de Doenças de Condições
Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, da Secretaria de
Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, publicadas anualmente.
Segundo o órgão federal, os casos de Aids integram a Lista Nacional de
Notificação Compulsória de doença desde 1986, ou seja, são ocorrências
que quando constatadas precisam ser informadas imediatamente por
profissionais da saúde aos sistemas de registros oficiais dos órgãos
municipais, estaduais e federais. A notificação de infecção por HIV é
compulsória desde 2014.
Causas
O Ministério da Saúde esclarece que o HIV é causador da aids, doenças
que ataca células específicas do sistema imunológico responsáveis por
defender o organismo contra doenças. Mas, ter o vírus não significa que a
pessoa desenvolverá Aids - que é o estágio mais avançado do HIV.
Portanto, há pessoas positivas para o vírus HIV que vivem alguns anos
sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença.
A doença, no entanto, nem sempre é pautada pelos órgãos de saúde
pública, a não ser no Carnaval ou neste 1º de dezembro, quando é
celebrado o Dia mundial da luta contra a aids. A crítica é do
coordenador da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids no Ceará,
Vando Oliveira, que alerta para a necessidade de campanhas de formação e
prevenção promovidas pelas secretarias de Saúde das redes municipal e
estadual.
“Só é falado de aids duas vezes por ano. Nós não temos campanhas de
formação e prevenção durante todo o ano, e as pessoas sexualmente
ativas, elas fazem sexo todos os dias e todos os dias têm novos casos de
pessoas infectadas e até de mortes”, alerta.
Quem convive com a doença, ele pondera, encontra dificuldade para
conseguir o tratamento médico, porque “faltam políticas eficazes” na
assistência a aids no Ceará. Ainda segundo Vando Oliveira, a pessoa que
vive com HIV/Aids, que recebe o diagnóstico, precisa esperar até três
meses para a primeira consulta com o infectologista.
“Nós temos casos de gente que teve a primeira consulta somente com 90
dias após o diagnóstico. Tem o teste rápido, mas o serviço de saúde não é
preparado para receber esse diagnóstico, e olha que nós temos nove
serviços municipais de aids em Fortaleza. Falta um olhar com mais
responsabilidade por parte dos nossos governos”, sentencia o
coordenador.
Dificuldades
Conforme esclarece o presidente da Sociedade Cearense de Infectologia,
Guilherme Henn, o entrave para o acolhimento dos pacientes não está na
disponibilização de medicamentos, mas na superlotação das unidades que
não conseguem receber os recém-diagnosticados.
“No São José, por exemplo, a gente dá um diagnóstico de infecção pelo
HIV, e o paciente só vai conseguir dois ou três meses pra frente. E
nesse meio tempo, ele pode ter alguma doença oportunista”, diz o
especialista afirmando também que a demanda crescente de vagas no
sistema público não acompanhou o número de novos casos.
Embora ainda seja cercada de tabus, Guilherme Henn pontua que a aids não
é mais um “bicho de sete cabeças como no início da epidemia na década
de 1980”, já que o avanço da medicina permite que a pessoa que vive com
HIV/Aids leve uma vida normal. “Os medicamentos usados hoje para o
tratamento são extremamente eficientes em controlar o vírus que não
consegue mais destruir as células de defesa do indivíduo e a imunidade
fica totalmente normal”, justifica.
O POVO