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Tarcísio Meira desabafou em
entrevista histórica (Imagem: Divulgação / Globo)
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“Os autores não gostam de velhos”,
lamentou o veterano, que se prepara para voltar a atuar no teatro e deixou
claro que artista não se aposenta: “Quer trabalhar, enquanto houver
trabalho para ele. Isso não tem idade”.
“Existe sempre a mesma vontade
de fazer as coisas. Eu retomei a peça porque ela é belíssima, e achei uma pena
não ter sido vista tanto quanto deveria, pois precisei encerrar a temporada em
2015, por causa de meus compromissos na televisão. Na minha idade, como
encontrar outro personagem tão instigante?”, questionou.
Em seguida, Tarcísio Meira falou
sobre a morte e admitiu: “A possibilidade de morrer o assusta? Sim, ela
assusta. Ninguém gosta de pensar que o fim está chegando. Mas ele está chegando
para mim. É triste também lidar com a perda dos amigos”.
“Certa vez, fui receber um
prêmio de cinema. Dei de cara com o diretor de teatro Antunes Filho. Foi uma
alegria, porque fazia anos que não o via. Eu disse: ‘Antunes, somos
sobreviventes’. Pouco tempo depois, o próprio Antunes morreu”, declarou.
“A esta altura da vida, muitos
colegas da minha idade se foram. Daqui a pouco, vou eu. Talvez eu deixe um
vazio nas pessoas”, explicou, dizendo ainda que chega ao trabalho de
cadeira de rodas e prefere não usar próteses.
“Chego ao palco de cadeira de
rodas também. Tempos atrás, arrebentei o menisco e fui operado três vezes.
Sempre me ofereceram colocar uma prótese, e eu recusei. Agora, venho me apresentando
num teatro com muitas rampas”, relatou.
“Achei mais cômodo usar uma
cadeira de rodas. Talvez fosse mais educado atender o público de pé. Mas, me
perdoem, estou cansado demais para isso”, disse Tarcísio Meira, que também
falou sobre a última internação, com pneumonia.
“Passei meu último
aniversário, em outubro, também internado. Ganhei festinha, bolo, os médicos e
os enfermeiros cantaram Parabéns para mim. Nos dois últimos anos, tive duas
gripes fortes que atacaram meus pulmões”, declarou.
Já sobre a ausência das novelas,
lamentou: “Os autores não acreditam que existam velhos na família
brasileira, nem que eles tenham papel relevante. Sabe como é, são jovens
autores, que se preocupam com os jovens”.
“O que eles deveriam saber é
que hoje são as pessoas de idade que passam mais tempo na frente da televisão
assistindo às novelas. E essas pessoas sempre acompanharam minha carreira e a
da Glória”, desabafou.
Sobre o contrato com a Globo,
Tarcísio Meira revelou que continua em vigor, mas destacou: “Não sabemos
por quanto tempo. Os contratos vencem em breve. Creio que devem terminar por
esses dias”.
“Quando entrei na TV, o
artista brasileiro só era conhecido por uma elite que frequentava o teatro. Uma
elite que não era formada por muitas pessoas, mas suficiente para manter o
teatro funcionando”, contou.
“Com o advento da
teledramaturgia, o ator brasileiro finalmente chegou ao povo como ele queria: a
novela revelou-se uma forma de fazer um teatro popular de fato”, falou. Por
fim, abordou o gosto pelas novelas, apesar do tempo afastado.
“Eu adoro novela. Marcello
Mastroianni dizia que nós, artistas dos folhetins brasileiros, somos os únicos
que vivemos papéis que estão em construção em tempo real. Em nenhum outro lugar
existem novelas como as do Brasil”, garantiu.
“No México até existe, mas
eles usam ponto para gravar. Aqui, não. O ator realmente participa da vida do
personagem. O autor escreve a novela de um jeito, o diretor entende talvez uma
coisinha diferente e a gente faz ainda mais diferente”, disse.
“Trazemos na memória a atuação
nas cenas anteriores. A gente ajuda a escrever a história do personagem, não
somos meros repetidores de palavras em cena. Mas é claro que alguns autores não
gostam quando mexemos no texto”, destacou.
“Confesso que é difícil para
mim decorar tantas palavras. Quando dá um branco, eu troco a palavra por algum
sinônimo ou então decoro a ideia que o autor queria passar. Glória e eu
trabalhamos tanto que aprendemos a decorar na marra”, revelou.
Sobre política, confessou que não
votou no PT nas últimas eleições: “Não nas últimas eleições. Mas já
votei no Lula e convenci minha mulher a votar também. Hoje, está tudo muito
confuso, as pessoas ficaram tão enraivecidas”.
“Olha, ando com as duas
pernas. Não posso caminhar com a direita sem a ajuda da esquerda, assim como
não posso caminhar com a esquerda sem a ajuda da direita. O que estou vendo é
que uma perna está brigando com a outra, e esse indivíduo, o Brasil, é capaz de
soçobrar. Ora, apenas o saci anda com uma perna só, e, mesmo assim, de vez em
quando pega carona com o vento”, finalizou.
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